Meio Ambiente
Mineração na Amazônia bate recordes de desmate nos últimos dois anos
Série histórica do Deter/Inpe iniciada em 2015 mostra que índices mais altos foram registrados ao longo dos últimos dois anos

Manaus
- A mineração desmatou 405,36 km² da Amazônia Legal nos últimos cinco anos,
segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do
Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A área derrubada na Amazônia legal equivale a cerca de 40,5 mil campos de futebol. Ao longo de 2019 e 2020, esse desmatamento causado pela atividade mineradora registrou recordes e avançou sobre áreas de conservação.
O ambientalista Carlos Durigan, pontuou que a mineração ocorre em diversos países que também ocupam no território amazônico, com sedimentos de ouro em pó em rios amazônicos. Pessoas acabam desenvolvendo a exploração desse mercado, em razão disso, nos últimos anos o aumento desta demanda aumentou.
“A mineração específica de ouro na Amazônia é realizada não só no Brasil, mas nos demais países que ocupam o território amazônico. Há ocorrência de ouro em pó disperso em sedimentos da maioria dos rios amazônicos e, isso tem levado pessoas a desenvolverem exploração. O mercado internacional de ouro tem sido aquecido pelo aumento do valor de mercado deste minério e, isso tem feito a exploração aumentar sem nenhum controle”, explica.
A série histórica do Deter/Inpe, que compila dados desde 2015, aponta que o mês com a maior devastação foi maio de 2019, com 34,47 km² desmatados. Em seguida, ficou julho de 2019 com 23,98 km². Além disso, 2020 teve os piores índices em junho, com 21,85 km² e, em agosto (15,93 km²) e setembro (7,2 km²) da série.
O doutorando do programa de ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e cientista, Lucas Fernandes, afirmou que a população pode ser afetada em diferentes camadas. Para ele, a mineração não gera benefícios, quem tem lucros são apenas empresários.
“A iniciativa privada não garante que atividades minerárias sejam reguladas de maneira correta e de forma que não causem impacto. Podem afetar comunidades ribeirinhas e a população de modo geral, isso também pode significar a extinção dessas comunidades, uma vez que podem ter desastres que inviabilizam a portabilidade da água e a migração massiva da região”, enfatiza.
Terras indígenas
Entre janeiro e abril de 2020, mais de 70% da mineração na Amazônia ocorreu dentro de áreas protegidas, de acordo com o Greenpeace. Nas terras indígenas, esse aumento do desmatamento por mineração foi de 64%, na comparação com o mesmo período de 2019.
O ambientalista Carlos Durigan afirmou que a maior parte dos garimpos ocorrem em regiões onde há criminalidade e causam problemas para comunidades indígenas e não indígenas.
“A mineração de ouro causa fortes impactos sociais e ambientais. Como a maior parte dos garimpos são ilegais, as regiões onde ocorrem já causam problemas de aumento de criminalidade e invasão de áreas de vida de comunidades indígenas e não indígenas”, explica.
Casos
de mineração
Segundo o Inpe, 85% de todo o desmatamento causado pela atividade na região amazônica desde 2015 ocorreu no Pará. Considerando o período de janeiro a novembro deste ano, o estado concentra 81% do desmate ocorrido por mineração.
A mina de níquel Onça Puma, localizada em Ourilândia do Norte, no sudeste do Pará, teve que parar suas atividades devido à contaminação das águas do rio Cateté, utilizada pela população para pesca, banho e atividades dos ínidios Xikrin.

Outros
grandes desastres ambientais conhecidos no país são de Mariana e Brumadinho. Em
2015, ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, situada no município de
Mariana, em Minas Gerais. A tragédia resultou na morte de 19 pessoas, três reservas
indígenas atingidas, degradação de mais de 240.88 hectares de mata atlântica e 14
toneladas de peixes mortos.
No Amapá, Serra do Navio, onde ocorreu a primeira iniciativa de mineração na Amazônia, as reservas minerais foram declaradas exauridas, estudos chegaram a indicar os danos ambientais, como a contaminação de rios e de lençóis freáticos por arsênio e manganês.

Alguns projetos como o exemplo em Oriximiná, buscam compensar esses impactos. Em 2015, a Mineração Rio do Norte, criou um projeto em conjunto com organização da sociedade civil para apoiar atividades como a coleta de castanha-do-Pará, a agricultura de subsistência e a pesca, realizada pela população local.
Mercúrio pode gerar problemas de saúde

Segundo
o ambientalista, por envolver sedimentos em leitos e margens dos rios, que
utilizam mercúrio para a retirada do ouro em pó, esse mesmo metal pode
gerar problemas de saúde para os próprios garimpeiros, além da contaminação dos
rios e a biodiversidade aquática.
“A lavra de ouro em rios e igarapés traz graves consequências, pois a atividade revolve o sedimento nos leitos e margens dos rios, causando transformação na dinâmica e hidrologia destes. E ainda, no processamento para retirada do ouro em pó do sedimento, retirado dos rios, utiliza-se o mercúrio, que acaba por gerar problemas de saúde para os próprios garimpeiros, pela sua manipulação e ainda ao ser levado de volta para os rios, que contamina toda a biodiversidade aquática”, explica.
Fernandes ressaltou que além da contaminação de água e solo, a mineração pode gerar conflitos sociais, como a violência contra mulher e violência contra ativistas ambientais.
“Também temos como consequência a contaminação de água e solo e conflitos sociais, as mazelas sociais, como o aumento de violência contra mulher, violência contra ativistas ambientais e a grilagem”, pontua.
Com relação especificamente às chamadas Unidades de Conservação, o desmate por mineração cresceu 80,62% no primeiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado, aponta o Greenpeace.
Essas áreas recebem esse nome porque têm características naturais relevantes que precisam ser preservadas – o objetivo é proteger espécies ameaçadas e resguardar ecossistemas, por exemplo.
Medidas
Para o pesquisador Lucas, as medidas necessárias envolvem a consulta prévia de comunidades indígenas, prevenindo a invasão de iniciativas privadas em terras indígenas.
“As medidas seriam a aplicação da lei. Além disso, as comunidades indígenas devem ser consultadas. Essas comunidades não vêm sendo consultadas. No início do ano o presidente tentou passar um projeto abrindo terras indígenas que não estabelecia consulta dessas comunidades, isso é um malefício grande. A consulta previne a invasão arbitrária de terras que são de iniciativa privada”, explica.
Em 2019, o governador do Amazonas e mais sete outros que compõem o Consórcio Interestadual da Amazônia Legal brasileira assinaram a Carta de São Luís, com pontos para o desenvolvimento sustentável da região Amazônica, fomentando o caminho para promover a economia verde, de maneira que não prejudique o meio ambiente, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Leia Mais:
Mineração em terras indígenas na Amazônia
Desmatamento pode aumentar casos de doença de chagas no Amazonas
Pobreza do interior do AM reflete ausência de projetos econômicos