EFEITO COVID-19
Pandemia: mesmo com dólar alto, exportações despencam no AM
Queda de 11,32% nas exportações, de janeiro a abril, em relação ao mesmo período de 2019, preocupa empresários e economistas
Manaus – A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (Covid-19) tem afetado a economia mundial, cujo mercado já trabalha com previsões de recessão feroz. No movimento cambial, que naturalmente favoreceria as exportações, a alta no preço do dólar tem feito o movimento contrário no Amazonas. De janeiro a abril deste ano, as vendas da indústria amazonense para o exterior sofreram uma queda de aproximadamente 11,32%, se comparando com o mesmo período no ano passado, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Silva.
De acordo com o presidente da Fieam, as exportações do primeiro quadrimestre deste ano, no Amazonas, foram da ordem de US$ 188 milhões, enquanto em 2019, no mesmo período, foram de US$ 212 milhões. Comparando os dois períodos verifica-se uma queda acentuada, quando no mento em que a moeda norte-americana tem variado neste período acima dos R$ 4 e dos R$ 5 e até mesmo se aproximado dos R$ 6 na última semana, quando fechou em R$ 5,72.

Silva diz que as importações também apresentaram uma redução de 23%, em razão da pandemia do novo coronavírus. “No período já referido, as importações em 2020 totalizaram US$ 2,63 bilhões enquanto em 2019, no mesmo período, foram de US$ 3,43 bilhões”, esclarece.
Nesse cenário mundial de hoje, a balança comercial do Amazonas, segundo o presidente da Fieam, apresenta déficits consecutivos em razão da importação de insumos do Polo Industrial de Manaus (PIM). “Não há termos de comparação. A alta do dólar prejudica muito mais em razão dos aumentos dos custos de produção. Não temos quantidade ou escala maior de exportação que seja capaz de compensar”, explica observa.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, explica que a valorização do dólar tende a ser benéfica para os exportadores e maléfica para os importadores, uma vez que o custo na importação de mercadorias aumenta. Contudo, a crise ocasionada pelo novo coronavírus não está trazendo benefícios para nenhum dos dois.
“O que observo é que a economia estagnou em função de vários fatores. Temos boa parte do Distrito Industrial de Manaus parado e uma grande parte das lojas do setor de serviços também paralisada. Isso está trazendo prejuízos e, mesmo com o governador baixando um plano de reabertura gradativa do comércio, ainda teremos muitas dificuldades a enfrentar”, avaliou Frota.
"ZFM importa mais do exporta"
Por ser uma produtora de bens duráveis de consumo, em especial para o mercado nacional doméstico, o economista Wallace Meirelles destaca que, na balança comercial do Estado, a Zona Franca de Manaus (ZFM) mais importa do que exporta os produtos fabricados nas suas linhas de produção. “Não é uma prática, desse modelo, buscar o comércio internacional. Praticamente 90% do que transacionamos na balança comercial é importação, ou seja, exportamos só cerca de 10%, o que é pouco”, pontua.
Além disso, Meirelles enfatiza que existe hoje um movimento de retração que causa prejuízos tanto para as importações quanto para as exportações, ou seja, a queda está presente nos dois movimentos de entrada e de saída e por isso é preocupante. “É um momento complicado. Os governos brasileiros federal, estadual e municipal, precisam fazer um planejamento integrado com as empresas para resolver os problemas de infraestrutura e logística que temos aqui no Amazonas”, sugere o economista.
Importância da soja
Segundo dados levantados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedcti), em março deste ano, os principais destinos das exportações do Amazonas foram países vizinhos como a Venezuela e a Colômbia, com cotas equivalentes que significaram 43,23% das exportações amazonenses. Nesse contexto, o principal produto exportado para a Venezuela foi o Óleo de Soja (US$ 5.729.886,00), o equivalente a 25,51% das exportações para o país.
A nível nacional, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizou uma pesquisa que prevê que as exportações de produtos agropecuários serão pouco afetadas até o fim da pandemia. Nesse sentido, a soja apresentaria uma queda de apenas 0,5% nas exportações em 2020 e crescimento de 13,0% em 2021.
Tudo isso se explica pelo desempenho mais favorável de grandes importadores de commodities agrícolas, como China e outros países da Ásia, na crise, além da menor sensibilidade da demanda de alimentos a variações na renda das pessoas.