×
desastre ambiental

Desastre em Maceió fez bairros ricos em comércio e serviços se tornarem áreas fantasmas

Parte dos moradores tiveram que sair devido aos problemas ambientais causados por mineração na região

Casa abandonada no Bom Parto, em Maceió, um dos bairros mais afetados com imóveis rachados e que precisaram ser evacuados Foto: Josué Seixas/Folhapress

Os cinco bairros afetados pelo desastre ambiental que atinge Maceió eram conhecidos por abrigar comércios e uma grande oferta de serviços para quem viva neles. Com predomínio de casas, eles abrigavam principalmente moradores de classe média baixa.

Hoje, parte dessa região virou fantasma, já que muitas pessoas tiveram que deixar suas casas devido aos riscos, que foram causados pela atividade de mineração da Braskem.

Ao todo, 20% do território da cidade foi afetado, o que inclui os bairros de Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro, Farol e Mutange – é neste último que fica a mina 18, que desde a semana passa está afundando.

Era lá onde ficava o centro de treinamento do CSA, um dos times mais tradicionais de Alagoas, que disputou a Série A do Campeonato Brasileiro em 2019 e hoje está na Série C.

O CT, assim como todo o bairro, tiveram que ser totalmente evacuadas devido ao problema. As ruas que antes ficavam cheias de carro estão vazias. De acordo com a Braskem, 100% da área já foi desocupada.

O cantor Djavan foi uma das pessoas que passaram por aquele campo. Ele jogou futebol nas categorias de base do clube.

“Foi maravilhoso ter participado da vida do CSA quando tinha 16, 17 anos. Aqui no Mutange, eu ia três vezes por semana para fazer [treino] individual ou coletivo. Mas foi uma fase que durou pouco. Foi justamente a fase da transição, a fase que descobri o instrumento [violão]”, contou o músico em entrevista à imprensa local, em março. “Foi nessa fase que resolvi: não, futebol é muito cansativo, corre-se muito, eu vou ficar só com a música”. E fiquei só com a música”.

Os primeiros relatos sobre os danos no solo no município surgiram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. Na ocasião, o abalo fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais.

Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema.

Na época, a mineradora tinha em área urbana 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. Os poços estavam pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.

A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa pela Braskem um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico. A empresa diz que em dezembro daquele ano criou um programa para atender as vítimas da tragédia.

A situação mudou o perfil dos bairros afetados. Antes, todos eles tinham uma série de serviços, incluindo com escolas, igrejas e um comércio ativo. Hoje, as ruas estão fantasmas ou com pouco movimento. A região tem poucos edifícios, com predomínio de casas —hoje, muitas delas estão abandonadas e destruídas.

“O impacto para a cidade de Maceió é múltiplo. Se você olhar a movimentação das primeiras pessoas, dos primeiros deslocados, eles foram justamente para bairros de região periféricas. Nesses já tinham uma pouca oferta de serviços públicos, ou seja, as escolas já recebiam uma demanda muito alta, e também os hospitais e as Upas”,

disse a professora de economia da Universidade Federal de Alagoas Natallya Levino.

Segundo ela, a evacuação afetou também outros bairros. “Agora se encontram todos sobrecarregados, porque aumentou essa população nessa região. E agora a gente tem novamente uma retirada do pessoal do Bom Parto, que tendem a migrar justamente para essas regiões com sobrecarga dos aparelhos públicos”.

Veja o bairro do Pinheiro, um dos afetados pela tragédia em Maceió
Veja o bairro do Pinheiro, um dos afetados pela tragédia em Maceió

Desde 2020, conforme a docente, o preço das unidades habitacionais aumentou em Maceió, o que agrava a situação.

“Isso fez com que muitas famílias não conseguissem manter o padrão que tinha nas suas antigas residências, tendo que sair em muitos casos de Maceió para buscar moradia em cidades vizinhas. Algumas já se encontravam em situação de vulnerabilidade e agora elas serão acentuadas, sem suporte financeiro, por conta da emergência”,

disse.

Nesta segunda-feira (4), o ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que o afundamento da mina não afetou nenhum ponto turístico da cidade, e que os turistas devem manter suas programações.

As duas praias principais da cidade, de Pajuçara e de Ponta Verde, estão localizadas a oito e nove quilômetros de distância do Mutange, respectivamente.

Em nota nesta segunda, a Braskem informou que a “velocidade de acomodação do solo no entorno da mina 18 vem diminuindo nos últimos dias”, conforme informações da Defesa Civil e do Ministério das Minas e Energia. E que não houve mais registro de microssismos.

“No entanto, todas as medidas de prevenção e segurança das pessoas devem ser respeitadas. As áreas de serviço da Braskem em torno da mina 18 continuam isoladas, e o monitoramento feito 24 horas por dia segue sendo compartilhado com as autoridades”,

encerra o comunicado.

*Com informações da Folha de S.Paulo.

Leia mais:

Afundamento do solo diminui para 0,3 cm por hora em Maceió

Maceió segue em alerta máximo após afundamento do solo

“Sonhos destruídos”: Imagens de bairro evacuado por risco de colapso em Maceió

Entre na nossa comunidade no Whatsapp!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *