Especial Parintins
A realidade por trás da 'magia' do Festival de Parintins
Risco de acidentes do trabalho na confecção das alegorias e trânsito caótico são algumas situações encontradas

Parintins - Suntuosas, coloridas e de encher os olhos são alguns dos atributos das alegorias do Festival Folclórico de Parintins. Conheça o que acontece por trás de toda a magia do Festival e como as alegorias interferem na vida dos parintinenses
A criação e elaboração das alegorias são obras-primas dos artistas consagrados e premiados da ilha, todas desenvolvidas e utilizadas num cenário mágico e envolvente. Elas contam histórias do imaginário caboclo e fazem parte da festa folclórica. E ainda são elaboradas dentro dos galpões dos bois.

Durante meses, dezenas de pessoas trabalham diariamente e em época de Festival não há folga, quanto mais próximo das apresentações, mais os artistas se empenham para deixar tudo pronto para os festejos. Não tem hora e nem dia para descanso.

Em cada etapa de produção existe o planejamento de arte, depois a maquete com as medidas certas para o orçamento e a execução da compra dos materiais.
Cada equipe é dividida para fazer uma alegoria e orientada por um artista para realizar a pintura, solda de estrutura, montagem e transporte.

Mudança no trânsito
Com a aproximação dos dias de apresentação dos bois, todas as rotas ao redor do Bumbódromo são alteradas.

As ruas da cidade medem aproximadamente seis metros de largura e as alegorias têm suas bases nesse limite de medida. No deslocamento das alegorias há a intervenção do trânsito temporariamente, mas em algumas vias dura dias e daí parte a reclamação dos moradores.
A universitária Ranielly Sampaio, 22, é moradora da Ilha e precisa se deslocar de um bairro a outro. Ela conta que a vida dos motoristas antes, durante e depois do Festival fica complicada por conta das alegorias que interditam as principais vias.
"Eu preciso me deslocar para trabalhar e estudar. A rua que dá acesso à minha casa fica interditada mais de uma semana, eu tenho moto e neste período tenho que gastar muita gasolina para chegar em casa", explica.

Todos os trabalhadores responsáveis pelas alegorias fazem o transporte de forma manual, empurrando pelas ruas até chegar na Praça dos Bois que fica no entorno.

É possível perceber que nas ruas, recém asfaltadas para receber o Festival, há marcas profundas de pequenas rodas que ajudam na mobilidade das gigantescas e pesadas estruturas.

A cena de muitos carros e motos parados no sinal não é comum na cidade, mas com o aumento de visitantes e trabalhadores na Ilha, faz com que o que era calmo e de fácil acesso se transforme em transtorno para os moradores.
Casas e a mudança na rotina
Morar próximo ao curral dos bois é ter que lidar com algumas situações complicadas. Exemplo disso, é o morador que possui carro na garagem, é obrigado a se desfazer do uso na época do boi.

Além do grande movimento na ilha, as estruturas metálicas das alegorias ficam estacionadas em frente das garagens das casas.
A gestora Ana Beatriz, 37, mora próximo ao galpão do caprichoso e conta que durante os festejos fica com o carro sem utilidade e precisa revezar a saída da moto com o esposo.
"Nós sofremos muito, pois moramos próximo ao galpão do boi. É um período que começa com duas semana antes e já sentimos a dificuldade no trânsito com muita gente na cidade. As alegorias nos atrapalham, já tive que sair de casa para os lugares a pé ou de moto, porque não dá para tirar o carro da garagem", conta.
Acidentes com fios de alta tensão
As alegorias por serem altas trazem em todos os festivais a cautela com os fios de alta tensão e os riscos de acidentes com os trabalhadores.

Neste ano, devido ao grande número de denúncia, a Amazonas Energia interrompeu o fornecimento de energia e desligou a rede de alta tensão durante o deslocamento das alegorias até a praça dos bois.
Amor pela arte do Festival

"A nova geração é mais preparada nos estudos, mas só trabalha pelo dinheiro. Nós que somos mais antigos amamos o que fazemos, é pela arte do boi", revela Alessandro Ramos, 40, artista de alegoria.

Em 2003, Alessandro era aluno da escola de artes do boi, estudava desenho e foi voluntário nos acabamentos das alegorias que estavam atrasadas. Empolgado em aprender como era o processo de criação e execução das alegorias, ele decidiu fazer parte de um trabalho especial no feriado de Corpus Christ. Alessandro sobreviveu após cair de seis metros de altura, veio deslizando por toda a alegoria e caiu no chão. O jovem precisou ser deslocado para Manaus e precisou passar por um procedimento cirúrgico na cabeça.

"Eu não parei, porque é o que gosto de fazer. A nossa arte é reconhecida em todo o mundo e todo artista gosta disso. A gente não aparece, mas as alegorias são lembradas", enfatizou o artista.
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