Igarapés
Construções à beira de igarapés dificultam limpeza em Manaus
Problemas de falta de habitação proliferaram loteamentos clandestinos na capital amazonense. Só em 2019, mais de 11,3 mil toneladas de lixo foram retiradas dos igarapés de Manaus

Manaus - O crescimento desordenado
da malha urbana e o problema da falta de habitação na capital manauara fez com
que muitas pessoas construíssem suas casas à beira da água. É impossível
percorrer os bairros manauaras sem se deparar com edificações que dividem
espaço com igarapés e córregos. O problema é que essas construções desordenadas
dificultam a limpeza dos cursos d’água e aumentam o risco de enchentes nos
locais.
"Eu vejo esse ‘monte’ de lixo todo dia e fico muito triste", diz a varredora de rua, Adriele Rios. Ela é uma das diversas profissionais que trabalham na limpeza pública da cidade, e isso inclui os igarapés que cortam Manaus, cuja maioria encontra-se poluído pela ação humana atualmente.
De acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), as construções próximas ao leito do igarapé sempre são fonte de consequências ambientais e sociais. Além da poluição causada pelo lixo jogados pelos moradores, as casas obstruem o leito dos igarapés, o que interrompe o curso natural da água. Quando vêm as fortes chuvas, o leito sobe e os alagamentos acontecem.
Áreas de risco

A Defesa Civil
de Manaus calcula que 15 bairros cortados por igarapés correm risco durante o
período da cheia. São eles: Tarumã, Mauazinho, São Jorge, Educandos, Raiz,
Betânia, Presidente Vargas, Colônia Antônio Aleixo, Aparecida, Centro, Santo
Antônio, Cachoeirinha, Glória, Compensa e Puraquequara. 13 comunidades da área
ribeirinha também podem ser afetadas.
“Manaus pode ser considerada um caso à parte em relação às demais capitais brasileiras por ser totalmente entrecortada por igarapés que alimentam uma malha hidrográfica gigantesca formada por cinco bacias - São Raimundo, Tarumã, Puraquequara, Lago do Aleixo e Educandos - , que deságuam nos Rios Negro e Solimões”, explica o assessor de comunicação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), Julio Pedrosa.
Como funciona a limpeza

De acordo com a
Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp), a limpeza é feita
diariamente em mais de 150 igarapés da cidade. As equipes atuam recolhendo os
resíduos sólidos da superfície da água, das vegetações das encostas e do corpo
de água para deixar o fluxo livre.
Nesse trabalho, são utilizados vários equipamentos, desde botes e empurradores até equipamentos de mergulho, escavadeiras hidráulicas e redes de contenção. Só em 2019, foram mais de 11,3 mil toneladas coletadas em 1,9 mil ações de limpeza.
A estimativa de densidade é de 26,7 toneladas de resíduos sólidos a cada quilômetro de igarapé em Manaus. Isso significa mais de 1,4 mil toneladas de lixo por quilômetro quadrado.
Ainda segundo a secretaria, quase todas as atividades e serviços de limpeza são voltados a diminuir a pressão do lixo sobre os rios da região. Isso inclui varrição, capinação das ruas, coleta de lixo domiciliar, retirada de lixeiras viciadas, coleta seletiva, coleta agendada de grandes objetos, jardinagem e mutirão de limpeza. Existe também a mobilização de grupos de conscientização que vão, porta a porta, conversar com os cidadãos sobre a necessidade de mudança de comportamento.
Para diminuir o risco de alagamentos, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) realiza ações de desassoreamento do leito dos igarapés.
Outras ações

A Semmas atua
no combate a invasões em áreas de preservação permanente, ou seja, as margens
de igarapés, para evitar que a ação humana prejudique aqueles ecossistemas. As
nascentes de igarapés importantes como o do Mindu e o 40 também são de
responsabilidade da secretaria. Os protegidos são o Parque Nascentes do Mindu,
na Cidade de Deus, e o Refúgio Sauim Castanheiras.
Outra ação em prol da preservação hídrica é a recomposição de matas ciliares de igarapés. É feita a retirada de ocupações e plantio de mudas de árvores em áreas de preservação permanentes, como é o caso do Igarapé do Franco, na avenida Brasil.
"O trabalho de Educação Ambiental, por meio das oficinas de reaproveitamento de resíduos, é outro importante aliado. Estimulamos a coleta seletiva e o reaproveitamento de resíduos junto a moradores de comunidades instaladas nas margens de igarapés, levando-as a refletir sobre os malefícios do descarte irregular de resíduos nos cursos d'água e estimulando-as a confeccionar objetos utilitários com materiais que seriam jogados no lixo", informa Julio Pedrosa.