Terra sem lei
Deep Web: saiba como os criminosos atuam no mercado negro da internet
Diferente das redes comuns, a Deep Web não tem uma legislação que a regulamente, por isso é usada por muitos criminosos
Manaus - A internet possui diversas camadas e a mais acessada pela população em geral é a chamada Surface. É nela que são hospedados os mais diversos tipos de sites, com conteúdos que vão desde fatos noticiosos a engraçados, jogos on-line e quase tudo mostrado em resultados de pesquisa do Google. Outra parte da rede é conhecida como Deep Web, muito usada para o compartilhamento de dados de forma segura e anônima, já que o IP (Internet Protocol) de muitos usuários é inacessível. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), no primeiro semestre de 2020 os crimes cometidos no meio virtual superaram os números do ano passado no Amazonas. Foram 1.943, contra 861 em 2019.
É pela privacidade garantida que muitos criminosos são atraídos a esta área da rede virtual. A Deep Web é a camada da rede onde são promovidos diversos tipos de atividades ilícitas, como a venda de cartões clonados, divulgações de informações secretas do mercado financeiro e venda ilegal de armas. É nela que hackers atuam, realizando atividades ilegais, principalmente por não haver regulamentação. Muitas pessoas compartilham conteúdo pornográfico infantil em fóruns, possibilitando o acesso a centenas de outras pessoas que realizam o download e compartilham em grupos de redes sociais.

Para acessar a Deep Web
Para entrar nesta área, é necessária a instalação de um software específico, chamado The Onion Router (TOR). Messias Freire, Desenvolvedor Web, explica que a rede de portais não fica disponível a ferramentas de pesquisa comuns, por ser criptografada. O acesso a qualquer site deste meio não ocorre como na Surface, é feita uma pesquisa um pouco mais demorada.
"Não é possível indexar essa parte da Web a mecanismos de pesquisa como Google ou Bing. É uma área da internet que fica escondida, que não existe uma regulamentação própria [...]. É uma rede criptografada, quando você vai acessar qualquer site que esteja dentro da Deep Web, ele é bem mais lento do que o acesso normal, porque sai fazendo várias pesquisas e o teu registro na internet nem sempre é o do teu país. Se eu acessar uma página aqui no Brasil, provavelmente meu IP vai ser da Rússia, da Alemanha", explica o especialista.
O IP é como um endereço de cada computador numa rede, é por meio dele que a polícia consegue rastrear diversos tipos de criminosos como pedófilos e hackers. Com a ausência desse dado, fica impossível localizar o usuário. Messias explica que já houveram portais na Deep Web que realizavam o comércio ilegal de drogas, mas a polícia conseguiu identificar a origem do usuário, que foi preso. O caso ocorreu nos Estados Unidos.
"Existem sites específicos para tudo o que é ilegal, sem as restrições impostas pelos navegadores comuns. A moeda usada para a compra de drogas e transações dentro da rede é o Bitcoin. A moeda é criptografada, o que garante a segurança", explica o Desenvolvedor de Web.
O especialista afirma ainda que a rede não é utilizada apenas para a realização de atividades ilícitas. Grandes corporações, como o próprio Facebook e a Agência de Segurança Nacional americana, fazem compartilhamentos de dados e trocas de e-mails de forma segura. Isso acontece porque não há como ter uma interceptação de outros usuários ou possíveis mudanças nos dados que são enviados.

Crimes cibernéticos
O hackeamento de dados está entre os tipos de crimes cibernéticos mais cometidos em Manaus, de acordo com a Delegacia Interativa (DI), da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM). Muitos não chegam a ser cometidos dentro da Deep Web, especificamente, como o crime falsa identidade, crimes contra a honra e a divulgação de material íntimo ou com teor sexual sem o consentimento das vítimas. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), no primeiro semestre de 2020 os crimes cometidos no meio virtual superaram os números do ano passado. Foram 1.943, contra 861 em 2019.
A delegada titular da DI, Ana Cristina Braga, orienta que a população siga algumas medidas para aumentar a segurança no ambiente virtual, como não acessar redes de internet desconhecidas ou públicas, em Wi-Fi, e sempre utilizar senhas complexas para as redes sociais, de bancos ou demais contas, além de não deixar o smartphone sem bloqueio de tela e senha, pois ajuda a inibir a prática criminosa.
“Jamais preencha algo que desconheça com os dados pessoais. E é necessário também instalar um bom antivírus no computador, instalar somente aplicativos confiáveis, além de realizar a verificação de senhas em duas etapas. E nunca clicar em links desconhecidos recebidos por meio de grupos no WhatsApp, e-mail ou SMS”, alerta ela.
Caso em Manaus
Em julho deste ano a Polícia Federal no Amazonas (PF) realizou a operação Dark Storage, que cumpriu mandados de busca e apreensão, em cinco endereços diferentes, contra suspeitos de compartilhar conteúdo de pornografia infantil. Dois homens foram presos em flagrante por posse e compartilhamento desse conteúdo através de redes sociais e e-mails, após a aquisição do material em sites da Deep Web. Foram indiciados no art. 241-B, do Estatuto da Criança e do Adolescente e têm a pena prevista de dois a seis anos de prisão.
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