China
Entenda o atual contexto da China em meio à luta contra coronavírus
Especialista explica o atual cenário do país, diante da crise na saúde que afetou todos os setores da sociedade

Manaus - Nos últimos dias, a China tomou conta dos noticiários. O número total de mortos na epidemia Covid-19, infecção causada pelo coronavírus, atingiu a marca de 2.233 pessoas. O caos na saúde chinesa afetou diversas áreas do país, do turismo e da economia. O país precisa unir forças para enfrentar todos os prejuízos que a situação tem causado.
O EM TEMPO conversou com o mestre em relações internacionais pela Universidade de Lisboa (Portugal) e professor de relações internacionais na faculdade La Salle, Neibe Araújo Júnior, para entender o atual contexto do país.
Coronavírus
A cidade de Wuhan é o epicentro da crise causada pelo vírus. Embora não tenha a mesma importância que cidades como Pequim e Xangai, por exemplo, abriga em seu território várias zonas industriais, onde estão localizadas mais de 500 empresas americanas , japonesas e europeias. Devido a essa epidemia, as empresas estão paradas. Como são importantes fornecedores para as demais empresas de todas as partes do mundo, a situação cria um "efeito dominó".
Em Manaus, alguma empresas do Polo Industrial sentiram o impacto indireto do coronavírus. A crise epidemiológica da China causou atrasos de algumas cargas com matéria-prima do Polo Industrial.
“Eu acredito que as empresas estão se precavendo para que isso não possa afetar os estoques que estão dentro das empresas”, comentou o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo.

"Observar que a sétima maior cidade da China está com suas ruas vazias. Isso é sinônimo de grandes perdas, não só para o setor econômico", conta o professor Neibe Araújo, que acredita que, tão logo a China estabilize a situação da saúde, ela deve recuperar os prejuízos econômicos.
Vale ressaltar que, desde os primeiros casos de coronavírus, o governo chinês esteve em comunicação com Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso deixa claro que o país reconheceu cedo sua fragilidade em controlar o problema sozinho.
A princípio é normal que o turismo apresente uma queda. "Depois que estiver claro para a comunidade internacional que o coronavírus foi erradicado e a crise estabilizada, não vejo motivos para o turismo chinês não voltar ao normal. Até mesmo por ser uma praça econômica e tecnológica muito grande", reforça o especialista.
"A partir desta crise, podemos esperar uma China voltada nos próximos anos para o desenvolvimento de pesquisas em segurança alimentar. Uma reforma de leis sanitárias e um governo que atua de forma mais incisiva para regulamentar o comércio e as feiras ao ar livre", prevê o especialista.
Brasil x China
A China é o principal comprador de soja do Brasil, desse modo, continua a ser o principal parceiro comercial. Em 2019, tivemos um superavit na balança comercial Brasil/China. Em termos práticos, o país exportou mais do que importamos da China. Isso significa dizer que o Brasil lucrou no mínimo R$ 100 milhões da China, no ano passado.

A relação do Brasil com a China é pautada, sobretudo, por interesses econômicos e comerciais. Como resultado dessa relação, outras áreas acabam sendo contempladas. Em outubro do ano passado, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro esteve no país e assinou acordo de cooperação nas áreas de política, agricultura, energia, ciência, tecnologia e educação.
"O forte alinhamento do Brasil com os Estados Unidos certamente poderá afetar o cumprimento efetivo destes acordos", destaca Neibe Araújo.
A China atual
"A China de 2020 continua sendo o resultado de um processo de mudança social e política iniciado no fim de 1940, com a então Revolução Cultural Chinesa, liderada por Mao Tsé-tung. Desde então, o mundo tem presenciado a sua ascensão econômica e política no âmbito internacional", explica o professor.
A China representa a segunda maior economia do mundo contemporâneo, sendo a economia asiática que mais recebe investimentos estrangeiros diretos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o crescimento econômico em 2019 foi acima dos 5%. Enquanto o dos Estados Unidos da América (EUA), a título de exemplo, foi de 2,3%.
O analista ressalta que em 2020, a taxa de crescimento chinesa deve apresentar um recuo, como resultado da guerra comercial contra os EUA, e sua instabilidade política também em face dos protestos nas regiões de Hong Kong, e, agora, com a crise epidemiológica do coronavírus. Todos estes fatores devem afetar a economia.
Quando falamos sobre o atual contexto da China, não podemos esquecer as questões militares. Seu orçamento do ano passado ficou em cerca R$ 890 bilhões de reais, cerca de U$ 240 bilhões de dólares. Grande parte deste montante foi direcionado para o desenvolvimento de armas avançadas. Tal fato coloca a China na ponta do ranking dos exércitos mais poderosos do mundo, ao lado de Estado Unidos e Rússia.
"Em suma, estamos falando de uma sociedade que nos últimos 60 anos progrediu de uma economia majoritariamente agrária, para uma sociedade altamente industrializada, com fortes avanços científicos e tecnológico", pontua o professor.
O alto poder de investimento da China é mostrado em grandes projetos como a Nova Rota da Seda, mais conhecida como One Belt, One Road. Trata-se de um plano para reavivar a histórica rota comercial da seda, nos moldes do século XXI.
Uma vez efetivada esta ideia, a rota comercial que conecta o comércio chinês com a Europa, Africa e Oriente Médio, deverá por consequência conectar mais da metade da população mundial, o que representa um terço de todo produto interno bruto (PIB) global.