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Relatos: 'O Natal perdeu a magia e agora é uma data qualquer para mim'
Embora o Natal seja um dos únicos momentos em que as famílias e amigos se reúnem para uma celebração, tem gente que conta que a data não é tão "festiva" assim

Manaus - Chega dezembro, e todo o cenário do mundo começa a mudar. Novas luzes se acendem, com cores verde, vermelha e branca, com presépios se estendendo ao longo de avenidas ou em frente a lojas, igrejas ou shoppings, indicando que "Amém, é Natal", como diz uma música antiga de um grupo vocal gospel. É o período também no qual o coração das pessoas parece mais amolecido, com desejos de bons votos e solidariedade para o novo ano que chega uma semana depois.
No entanto, algumas pessoas veem quase nenhum significado na data em que o mundo cristão celebra o nascimento de Jesus Cristo, e os poucos que veem, creem que os sentimentos do Natal não devem se restringir aos dias 24 e 25 de dezembro. O EM TEMPO conversou com duas pessoas que se encaixam neste grupo, e o resultado você confere abaixo, em formato de depoimento.
"Bebo durante toda à véspera de Natal e durmo à meia-noite"
“A cada ano, o Natal, para mim, torna-se uma data qualquer, bem como todas as datas religiosas. Peguei o tédio pela data na infância, em que meu amado pai me obrigava, juntamente com a minha irmã e mamãe, de ir para a casa da nossa avó [já falecida]. Eu já achava um saco só o fato de ter de ir para a casa dos outros, sendo que via as ceias nos vizinhos, e todas as famílias reunidas, nas próprias casas, e nós tínhamos de ir para a casa da minha avó.
Com o avanço dos anos, a coisa foi ficando ainda mais tediosa, porque eu passei a enxergar o menosprezo de certos irmãos do meu pai, que tinham um poder aquisitivo dez vezes maior que o do meu pai. Passei a enxergar, o preconceito conosco, os de baixa renda, pobres, humildes, sempre isolados em uma mesa de lado, enquanto os ditos titios ‘ricos’ confraternizando entre si, brindando, rindo e contemplados os bens materiais.

As poucas palavras que nos falavam era o brinde de feliz
natal, e o questionamento sobre como voltaríamos para casa, já que não tinha
mais ônibus naquele horário. Aquilo, foi entediando na infância, passou para a
adolescência, até que ao completar os 18 anos de idade, passei ‘determinar’ o
que eu queria. Ingeria bebida alcoólica e decidi a não mais ir para a ceia de
família. O tempo foi passando e passei a beber ainda mais na data.
Com a morte da minha avó, passamos a confraternizar em casa. Mas ainda assim, aquela ‘reunião’, aquele momento espiritual não passava nada mais nada menos que pura demagogia, uma vez que eu nunca me senti bem em desejar felicidade natalina a alguém que sequer eu queria dar boa noite.
Hoje em dia, divorciado, sem ser obrigado, como no casamento, de ir para templos religiosos, prefiro tomar minha cerveja o dia todo (véspera), dormir exatamente à meia-noite, e comer a ceia natalina no dia seguinte ou dois dias depois.
Por que ser demagogo numa data, travestido de religioso? Será que o fato de não acreditar na data e nem o que prega e dita sociedade ‘religiosa e conversadora’ me faz menor que qualquer outro que confraternize, vive e aceite a data? Não! Acho que o sentimento de amor e de humanidade – o mesmo que é exaltado no brinde de meia-noite - deve ser estendido por todos os dias, meses e épocas do ano. Afinal, um presente, uma roupa nova, uma ceia pomposa, não fazem nenhum religioso ser melhor que ninguém neste mundo imundo”.
Walter Silva, de 34 anos, é servidor público.
"Não comemoro o Natal, mas Deus me deu um filho louco por Natal"
“Eu nasci e cresci em uma família religiosa e tradicional, e gostava quando era criança. Sou católica, então fazia apresentação na igreja no dia 24 ou dia 25, e depois disso íamos para a ceia na casa dos avós. Era uma coisa realmente tradicional para a data.
Depois que o meu pai morreu, isso foi se perdendo. Já fazem oito anos que eu moro sozinha, minha mãe casou novamente, minha irmã se casou, e quando é Natal ou final do ano, cada um fica por si. Minha mãe viaja, minha irmã sai com os amigos, e por aí vai. Perdi o gosto pelo Natal, porque para mim o Natal é para ser comemorado com a família.

Hoje em dia eu não faço muita
questão. Talvez eu até volte a comemorar algum dia, porque tenho um filho de 5
anos, e ele é louco por Natal, por Papai Noel, por decoração de Natal. Ele fica
encantado, e todo ano eu faço com ele uma surpresa. Penduramos meias em algum
lugar da casa, e quando ele está distraído, no Natal, eu vou e troco por um
presente, e ele tem certeza que foi o Papai Noel que deixou. É muito engraçado,
porque Deus me deu logo um filho que é louco por Natal.
Para mim, Natal é um momento de gratidão e muita reflexão, mas ainda assim, estou resistente.
Não curto muito, ainda não decorei minha casa, e talvez não vá comprar árvore
de Natal, e não sei nem onde vou passar o Natal, faltando apenas 3 dias para a data.
Para mim é um dia normal. Se eu puder ficar em casa assistindo à Netflix, eu fico de 'boas', a não ser pelo meu filho. Eu e o pai dele somos separados. Se ele vier passar o Natal comigo, vou fazer algo especial por ele, mas se ele for passar o Natal com o pai, eu fico em casa tranquila, vendo filmes ou séries."
Marta dos Anjos, de 25 anos, é auxiliar administrativa.
Edição: Isac Sharlon
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