Fevereiro sem o brilho do Carnaval
Escolas de samba e bandas sobre o Carnaval: ‘não há o que comemorar’
Em 2021 foi atípico e, pela primeira, vez em muitos anos, nenhuma escola de samba ou blocos de rua saíram para desfilar na capital amazonense e em nenhuma cidade do país

Manaus – A sexta-feira de Carnaval não iniciou a folia em blocos de rua e a expectativa para os desfiles das escolas de samba, assim como a quarta-feira de Cinzas, não encerrou a temporada mais esperada dos brasileiros durante o ano. Em Manaus, o período seguiu, inclusive, sem feriados e pontos facultativos. Apenas mais uma semana no meio da pandemia.
Em contraste com 2020, quando a prefeitura de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), apoiou 110 bandas e blocos de rua, em 2021 nenhuma manifestação artística ousou reivindicar a realização de qualquer tipo de evento, e o motivo é unânime: “não há o que comemorar”.
A banda que leva o nome de uma das principais avenidas da capital, a Boulevard Álvaro Maia, chegou aos 35 anos de tradição em 2021 e, mesmo sem ir às ruas, a organização planejava transmitir lives para marcar a edição, mas o ânimo não permitiu levar a ideia adiante.

“Chegamos a cogitar um tema para ajudar na conscientização contra a Covid-19 e ajudar a cumprir os protocolos de isolamento social, ‘Aglomeração só no meu coração’. Iríamos lançar um samba”, compartilhou Luis Cláudio Chaves, um dos organizadores da banda do Boulevard.
Segundo o organizador, seriam duas lives nas datas correspondentes ao “esquenta” e a festa em si, ma,s com o avanço dos casos de Covid-19, não houve clima.
“Agora, o que a gente espera é que o carnaval de 2022 marque as celebrações da vitória contra essa doença. E enquanto isso, esperamos pelo melhor, mas dentro de casa”, concluiu.
Unidos contra a Covid-19
Com o costume de contagiar o sambódromo, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Alvorada deixou de desfilar pela primeira vez desde que integrou o Grupo Especial, e reconhece que, em 25 anos de história, mesmo enquanto banda, nunca imaginou viver essa situação.

“O sentimento é de um vazio imenso, parece que falta algo. Era uma movimentação que me dava muita alegria e, no lugar disso, fica um vazio muito grande. A comunidade toda se unia para realizar essa festa”, afirma o fundador do Unidos da Alvorada, Joacy Souza Castelo, mais conhecido como “Jacaré”.
Jacaré precisou lidar também com inúmeras perdas durante o ano. Outros dois fundadores da escola de samba partiram, além do amigo Mestre China, que comandou a bateria do grêmio. Mas, a perda que mais afetou o fundador foi da esposa.
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“Nosso carnavalesco Alexandre Gald, também vivenciando todo esse abalo, sugeriu um tema para trabalharmos no desfile, que é ‘Saudade’. A saudade de um amigo, de um lugar, uma homenagem a todas essas pessoas que perdemos”, contou Jacaré.

Outra dificuldade que todo o grêmio encarou foi presenciar a falta de amparo que os trabalhadores que contribuem direta ou indiretamente com o carnaval sofreram. Jacaré relatou que, junto com outros membros da escola de samba, organizou uma ajuda a essas pessoas, mas lamenta toda a situação.
“É algo muito duro de se enfrentar, mas é melhor preservar nossa vida do que arriscar. Se Deus quiser, vamos superar isso e, ano que vem, voltamos com tudo”, declarou Jacaré, transbordando esperança.
Tradição

A filha de Armando Soeiro - fundador da Banda da Bica - Ana Cláudia Soeiro segue a tradição do pai desde 2013. Como organizadora, já enfrentou chuva e sol para realizar o evento, mas confessa que contra a Covid-19 não havia qualquer possibilidade de confronto.
“Sequer chegamos a nos reunir para definir algo. A gente fica triste que a banda não saiu, mas entendemos que o momento não é propício para o carnaval, então aceitamos com muita tranquilidade, não tinha como”, disse.
Assim como todos que trabalham e esperam pelo Carnaval, Soeiro aguarda momentos melhores, e promete que a próxima banda será como jamais foi vista.

“Ano que vem, se tudo der certo, com o Amazonas todo vacinado, a gente pretende fazer uma banda melhor do que todos os anos. Vai ser uma grande celebração, e aí sim teremos motivos para comemorar, porque, hoje, não temos motivos”.
Esperança
Logo após o Carnaval de 2020, o Grêmio Recreativo Social Escola de Samba Andanças de Ciganos sediado no bairro da Cachoeirinha, zona Sul da capital, começou o planejamento para o próximo desfile.
No entanto, a organização encontrou um bloqueio que impediu qualquer plano: o início dos casos de Covid-19. O presidente da escola de samba, Vilson Benayon, expôs que todo o enredo e cronograma estavam definidos, mas que não criou esperanças para executar o que estava no papel.

“Muito triste, sempre temos essa expectativa né, e já estávamos até pesquisando os profissionais que iam atuar no desfile. São cerca de 60 de forma direta, e 200 de forma indireta que contratamos, é toda uma cadeia afetada”, lembrou Benayon.
“Esperamos que 2022 seja um carnaval de reencontro e recomeço, pois 2021 foi um carnaval de perdas. A gente não tem o que comemorar, a cada dia perdemos mais gente”, finalizou.
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