COVID-19
Setor de turismo busca estratégias para minimizar prejuízos
Empresários reinventam empreendimentos e até aproveitam o período de isolamento para treinar funcionários
Manaus - Localizado no coração da
floresta Amazônica, o Amazonas vive meses totalmente atípicos, sem a presença
de turistas que costumam lotar passeios amazônicos, hotéis de selva, chegada de
cruzeiros, teatro Amazonas e entre outros locais na região. A pandemia da
Covid-19 fez com que a cidade enfrentasse uma realidade totalmente diferente e
trabalhadores do setor tivessem prejuízos de até 100%.
Apesar da
importância das medidas de isolamento social, que tem por foco frear a
disseminação do coronavírus, o resultado para os comerciantes e demais
trabalhadores que vivem da exploração do turismo e da cultura é preocupante.
Como tentativa
de minimizar os prejuízos financeiros e visando à retomada do turismo cultural,
a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) planeja ações
para atrair novamente os turistas após fim da pandemia.
A Fundação lançou a campanha "não cancele, remarque". A ideia é incentivar o turismo local e reduzir as perdas financeiras.

O ministro do
Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, afirmou nesta quarta-feira (22) que uma nova
medida provisória do governo vai garantir pelo menos R$ 5 bilhões de créditos
emergenciais para empresas do setor, incluindo os micro e pequenos negócios. Os
recursos vão reforçar o caixa do Fundo Geral do Turismo (Fungetur) com
abertura de novas linhas de empréstimo.
"Eu sei que os empresários do setor de turismo estão indo às agências bancárias e não estão conseguindo os créditos, mas a MP que contempla já está na Economia. É um modelo que vai garantir ao Fungetur um crédito extraordinário de pelo menos R$ 5 bilhões, para que o Ministério do Turismo, através do Fungetur, consiga atender desde o MEI [microempreendedor individual], a micro, a pequena empresa, a média empresa e também as grandes empresas", afirmou o ministro durante a coletiva de imprensa, no Palácio do Planalto, para atualizar as ações do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
A Associação
Brasileira de Agências de Viagens (Abav Nacional) junto com o Ministério do
Turismo lançou a campanha “Nos vemos em breve” e “Não cancele, remarque!” A
ideia é buscar proporcionar a manutenção de pacotes e serviços contratados,
permitindo a preservação de milhares de empregos no segmento. Nesse contexto,
reforça aos viajantes a possibilidade de adiarem as suas viagens ao invés de
cancelarem. Muitas companhias aéreas, hotéis e demais prestadoras de serviço
vêm fazendo as alterações sem cobrança de multa e muitas delas sem cobrança de
diferença tarifária.
Reinvenção

O turismo, responsável por uma receita total entre turistas brasileiros e estrangeiros de mais de R$ 540 milhões, segundo dados da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), é um dos segmentos mais afetados pela crise. Trabalhadores reinventam o negócio e lançam campanhas para atrair turistas.

Este é o caso do diretor executivo do Hotel Tropical Executive, Leocádio Lopes. Ele afirma que está tentando manter e reinventar seu empreendimento, mas confessa que não é fácil. Ele começou a alugar os apartamentos para o público local a preços populares, mesmo assim, os prejuízos são altos.
Leocádio destaca que a empresa saiu de um crescimento fantástico, onde foi observada uma ocupação de 100% dos apartamentos, para uma redução drástica, que chegou a 0% desde o início da pandemia.
“Até julho
estamos com todas as reservas canceladas. As perdas remontam milhões em
investimentos e faturamento. Inclusive, nosso maior patrimônio, que são os
colaboradores, estão todos sendo desligados”, declara o diretor com desânimo.
Treinamento de funcionários na quarentena

O diretor
executivo da agência de turismo Rogertur, Wilson Rogério, revela que usa o
tempo da paralisação das atividades por conta da pandemia para treinar
funcionários em como melhor atender os turistas.
“Mesmo que quiséssemos continuar, os pontos turísticos em todas as cidades estão fechados também, então são vários fatores. O que estamos fazendo é aproveitando o tempo para capacitar nos funcionários por meio de cursos online e também estamos replanejando o marketing da empresa, tudo de home office”, explica Wilson.

Olímpio Carneiro é diretor da Olímpio Carneiro Turismo e afirma que o setor foi um dos primeiros a serem atingidos pela pandemia e um dos últimos que irá se recuperar. “Tenho certeza que teremos muitas falências no setor. Está tudo parado, desde agências de viagem até hotéis e empresas de transporte”, salienta.
Ele revela que
os prejuízos estão em 100% para sua empresa e ele acredita que essa seja a
realidade de muitas outras, uma vez que não há turistas viajando para conhecer
Manaus. Segundo Olímpio, muitas agências estão dispensando seus colaboradores e
os funcionários estão no limite.
“Se não houver
um financiamento urgente por parte dos órgãos públicos, todos vão passar
necessidades. Aliás, os terceirizados (barqueiros, guias e restaurantes) que
nos atendiam já estão passando dificuldades. Não temos perspectivas”, relata o
diretor.
“É preciso ter espírito visionário”

Ricardo Daniel
Pedroso, presidente da Amazonas Cluster de Turismo, destaca que a associação
possui 23 empresas associadas e todas estão fechadas. “São hotéis urbanos,
hotéis de selva e barcos hotéis, todos em isolamento social. Sabemos que o
momento é de cautela e muita calma. Além disso, em um cenário de futuro ao
menos desenhado, não é possível planejar nada”, conta.
O presidente
descreve como a queda na procura e na renda ocorreu de acordo com a propagação
da pandemia. “A receita dos empreendimentos em janeiro foi quase que normal,
fevereiro já houve uma queda de 25 a 50%, mas em março mais de 70%. Para abril
e maio o faturamento foi zero. A previsão de retorno é em junho, mas como disse
acima não se escreve”, relata.
Segundo
Ricardo, a ideia é ser realista e ter um espírito visionário, pensando que tudo
isso irá passar, mas que até lá é preciso sobreviver. Para ele, o ideal é
reduzir os custos, repactuar os contratos e agir humanamente com seus
colaboradores e parceiros. Não pensar em como tudo vai se recuperar e no que
está se perdendo hoje, mas sim como será a vida no pós-pandemia.
Três linhas de frente para diminuir o impacto
Marcelo Álvaro ressaltou, durante a videoconferência com a Amazonastur, que o Mtur está trabalhando em três linhas de frente para diminuir o impacto do coronavírus no turismo: está em discussão com o governo federal a suspensão do contrato de trabalho por três meses com o governo pagando o seguro desemprego e liberando o FGTS. Já foi acordado junto à Caixa Econômica, Banco do Brasil e BNDES, linhas de crédito para assegurar, principalmente, capital de giro e fluxo de caixa. Além disso já foi incluído na Medida Provisória que está sendo editada que os consumidores receberão um crédito das empresas para atendimento futuro pelo serviço contratado e que não foi utilizado. “Nosso objetivo é garantir o funcionamento da empresa, mas também respeitar o direito do consumidor”, ressaltou o ministro.
A presidente Amazonastur, Roselene Medeiros, destaca que busca soluções para o turismo no Amazonas. “Estávamos num período de franco crescimento e aí chegou essa pandemia que trouxe um problema sério para economia, para o turismo e para a vida das pessoas. Por isso, estamos buscando ao máximo alternativas para diminuir esse impacto negativo para que o setor tenha condições sobreviver a esse período delicado e voltar a crescer posteriormente”, ressaltou a presidente.
Edição: Rebeca Mota