Coronavírus
Covid-19 e colapso da saúde amazonense
A desorganização do sistema de saúde aumenta os gastos do setor. Do mesmo modo, o mal funcionamento das instituições se torna uma fonte extra de insegurança para a população. Leia no artigo de Davi Lago:

O Amazonas é a maior unidade federativa brasileira em extensão territorial: são 1.559.146,876 km2 (uma área maior que a somatória dos territórios de França, Espanha e Grécia). Com mais de quatro milhões de habitantes, o estado é marcado por uma pujante diversidade sociocultural e étnica, além de entesourar a mais impressionante biodiversidade do planeta e cerca de 10% de toda a água doce fluvial descarregada nos oceanos.
Conforme afirma a pesquisadora Neide Esterci: “só do rio Amazonas, o mais extenso e caudaloso da bacia, chegam ao Atlântico 230 milhões de litros d’água por segundo”. Não há como não se impressionar com os padrões amazonenses, assim como acontece com o Brasil.
Vale ressaltar neste 22 de abril que o “encanto” também foi a reação da equipe do navegador português Pedro Álvares Cabral quando avistou as terras brasileiras. Como afirmam Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling em “Brasil: uma biografia”: “No dia 22, a armada de Cabral, que seguia no caminho das Índias se deparou com terra a ocidente [...] a reação inicial foi de encanto diante dessa terra nova”.
Contudo, exatamente 520 anos depois, é igualmente impressionante a falta de coordenação de autoridades públicas diante de problemas básicos. Especialmente no Amazonas a falta de competência na gestão da saúde ficou escancarada com a pandemia de coronavírus.

No início desta semana o número de infectados já havia superado 2.000 casos e se aproximava das lamentáveis 200 mortes. Com a capacidade dos hospitais prestes a colapsar, a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) aprovou por maioria absoluta de votos o pedido de intervenção federal, já encaminhado ao presidente da República.
Conforme noticiado pelo Em Tempo a secretária da pasta estadual de saúde, Simone Papaiz foi convocada para prestar esclarecimentos sobre a estratégia do governo amazonense no enfrentamento da crise, mas esquivou-se com um pedido na Justiça para não comparecer – pedido por sua vez negado.
Veja o vídeo produzido pela WEB TV EM TEMPO:
Nesta data simbólica para o Brasil, onde rememoramos as conturbadas origens do choque civilizacional entre as populações nativas e os exploradores portugueses, percebemos que todas as potencialidades brasileiras permanecem inertes se a sociedade não se organizar politicamente priorizando valores como transparência, eficiência e solidariedade.
O mesmo raciocínio vale para o estado do Amazonas: a incapacidade administrativa tem um preço alto especialmente em momentos de crise como o atual. A desorganização do sistema de saúde aumenta os gastos do setor. Do mesmo modo, o mal funcionamento das instituições se torna uma fonte extra de insegurança para a população. Os desencontros deste período crítico precisam ser revistos e passados à limpo com urgência. A saúde é direito de todos e dever do Estado.
* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo
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