Entrevista
‘Milicianos do Bolsonaro que tacam fogo na Amazônia’, diz Lula
Em entrevista para a revista Carta Capital, que o EM TEMPO reproduz, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabiliza os "milicianos" do presidente Jair Bolsonaro (PSL) pelas queimadas na Amazônia

Manaus - Em entrevista para a revista Carta Capital, que o EM TEMPO
reproduz, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responsabiliza os
"milicianos" do presidente Jair Bolsonaro (PSL) pelas queimadas na
Amazônia, mas não apresentou provas. De acordo com Lula, os empresários do
agronegócio são contra o fogo na floresta.
CC: Qual a diferença entre o empresário do
agronegócio com consciência ambiental e aquele que só visa o lucro?
Lula - A Amazônia está queimando porque os picaretas do
agronegócio estão queimando, porque o empresário sério do agronegócio sabe que
tem prejuízo com isso e que tem que cuidar do produto que quer exportar para
poder ter valor lá fora. O empresário sério não é a favor de tocar fogo. Quem
está tocando fogo são os milicianos do Bolsonaro. Começa com madeireiro, depois capim, depois o
gado. Esses que estão tocando fogo, não é empresário sério que está fazendo
isso.
CC: Mesmo depois da eleição, porque ainda prevalece
essa polarização entre PT e PSL?
Lula - Virou moda falar que precisamos acabar a polarização
entre PT e Bolsonaro. Quando eram os tucanos, eles não queriam acabar com a
polarização. O PT é o maior partido existente nesse país, é um p... de um
partido. Não é um amontoado de interesses como é o PSL. O Bolsonaro perde as
eleições, e o PSL acaba, igual foi com o Collor. Os caras trocam de partido
como se trocasse de cueca.
CC: O senhor observa consequência para o Senado, por
ter indicado o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) para ser embaixador do
Brasil nos Estados Unidos?
Lula- Não sou contra o Bolsonaro indicar o filho dele. Quem
tem culpa é o Senado, que vai assumir a responsabilidade. Se ele fosse um
gênio, tudo bem, mas porque o cara aprendeu a assar hambúrguer? Não é possível.
Precisamos de alguém com conhecimento de política externa, economia para
colocar lá, porque a embaixada americana é a mais importante, mas você colocar
um serviçal?
CC: Qual seu entendimento sobre a política pública
adotada pelo presidente Jair Bolsonaro até o momento?
Lula - Não fico torcendo para a desgraça ser maior do que já
é. O meu problema não é o Bolsonaro em si, e sim o projeto que ele representa.
O Bolsonaro cai e entra o Mourão. Vai mudar o projeto? Estou vendo o Rodrigo
Maia tentar se apresentar como se fosse primeiro ministro, mas tudo que a elite
quer ele está aprovando na Câmara. O problema não é a pessoa, e sim o projeto,
que não pensa o Brasil para os brasileiros. O cara tem o mandato para cumprir,
mas não disse em nenhum momento que seria eleito para destruir o Brasil.
CC: Já está tudo certo para sua candidatura em 2022?
Lula - Como posso falar? Estou com 74 anos, estou pensando
em casar, estou novo. Obviamente que vai ter gente muito mais nova e com mais
disposição do que eu. Eu não sei. Eu preciso sair daqui (da prisão), saber como
estou, como estão as forças políticas. Um monte de gente com 40, 50, 60 anos.
Eu me contentaria em ser cabo eleitoral, mas se não tiver ninguém capaz de
derrotar essa podridão da elite brasileira que governa esse país, pode estar
certo que o Lula estará no jogo.
CC: O senhor consegue visualizar a reeleição de
Bolsonaro?
Lula - Trump ganhou pela mesma metodologia aqui do Brasil,
estimulador do ódio e da mentira e porque a Hillary Clinton não era a melhor
candidata. Acho que os EUA mereciam algo melhor, como nós no Brasil. Se ele vai
ser candidato, qualquer pessoa que for presidente terá oportunidade de se
reeleger se a economia estiver bem. Se o povo estiver trabalhando, ganhando
salário e podendo comer uma picanha no fim de semana, o presidente que fizer
isso tem muita chance de ganhar. Se o Trump for candidato, que ele faça isso.
Não sei se ele vai querer invadir o Irã ou a Venezuela. Duvido, mas, de
qualquer forma, quando você não tem projeto, você inventa um inimigo externo. O
Bolsonaro está tentando se agarrar no Macron para mostrar que é nacionalista,
mas ele é entreguista. Um presidente que vai passar pra história batendo
continência pra bandeira americana e lambendo bota pro Trump não é
nacionalista." "A Argentina é uma lição a ser seguida pelos
brasileiros. O Macri foi vendido como uma mentira maior que o Bolsonaro. Aliás,
o Bolsonaro se mirava no Macri como espelho do bom governante. Não deu certo e
aqui no Brasil também o Bolsonaro não vai se reeleger, não vai sobreviver
politicamente em uma nova eleição, não acredito.
CC: O que o senhor percebe quanto ao entendimento da sociedade sobre o governo de Direita?
Lula: Ele (Bolsonaro) cresce entre as pessoas mais ricas.
Eu, quando fui reeleito presidente do sindicato em 1998, tive 92% dos votos.
Meus adversários exploravam que tinha 8% contra mim. Em uma sociedade com 210
milhões de brasileiros, ter 10% que gosta de um fanático sempre vai acontecer.
Veja o Enéas, 8%, entre 8 e 10% você tem gosto para tudo. Tem maluco para tudo.
A maioria da sociedade começa a se dar conta do desastre que aconteceu em 2018.
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