Com a palavra
'Eleição indefinida em Manaus pode ter reviravolta', diz sociólogo
Apesar de considerar o discurso da experiência mais forte que o novo no pleito municipal deste ano, o cientista politico afirmou que ainda não é possível dizer que a eleição está ganha por nenhum dos candidatos

Manaus - Membro da coordenação do Comitê do Amazonas de Combate à Corrupção, o sociólogo, advogado e cientista político há 25 anos Carlos Santiago analisou o cenário eleitoral de Manaus e considerou que o eleitor pretende eleger um prefeito atuante e com propostas verdadeiras para solucionar os problemas da capital.
Apesar de considerar o discurso da experiência mais forte que o novo no pleito municipal deste ano, o cientista político afirmou que ainda não é possível dizer que a eleição está ganha por nenhum dos candidatos presentes na disputa. De acordo com ele o próximo prefeito de Manaus será o candidatado que passar confiança e credibilidade durante a campanha.
Para Santiago, só é possível definir um nome forte na corrida após o início da campanha eleitoral, que ocorre a partir deste domingo (27), até lá, a disputa está sujeita a reviravoltas devido a exigência do eleitorado.
Leia a seguir, entrevista exclusiva ao EM TEMPO.
Há uma cultura de negar a participação política aos jovens, aos negros, aos indígenas e as mulheres. "
Carlos Santiago, advogado e cientista político,, sobre a presença das minorias no cenário político
EM TEMPO: Devido a
pandemia, que exigências o eleitor deve levar para as urnas nesta eleição?
Carlos Santiago: Nas eleições de 2018, o eleitor surpreendeu a todos. Candidaturas sem experiências administrativas e sem recursos venceram. Agora, a maioria dos eleitores ainda está apática sobre as eleições. As pesquisas divulgadas indicam que mais de 60% do eleitorado não sabe em quem vai votar, quando a opção é espontânea. Reflexo da pandemia e também de decepções dos eleitos nas últimas eleições. Penso que o eleitor quer um candidato confiável e experiente.
EM TEMPO: O senhor considera que o eleitorado manauara ainda tem esperança do novo ou a experiência é o que vai fazer a diferença no futuro da cidade?
Carlos Santiago: O eleitorado de Manaus é o mais crítico. Deu votação expressiva ao atual governador, ao David Almeida, ao Luiz Castro, ao Plínio Valério e ao José Ricardo. Todos eles com discursos de mudança e também a favor do novo na política. Agora, a ideia do novo sofreu desgaste. O fator experiência volta ao centro do debate político. Por isso, Amazonino ainda lidera as pesquisas até o momento.

EM TEMPO: Os jovens, aptos a votar, estão cada vez mais
antenados no cenário político. No pleito municipal, a juventude deve apostar
nos discursos de candidatos de primeira candidatura ou os amadurecidos
politicamente?
Carlos Santiago: Há uma cultura de negar a participação política aos jovens, aos negros, aos indígenas e as mulheres. Isso é bem visível nos partidos políticos, nas instituições públicas e privadas. Até o sistema de educação pune quem quer debater sobre a importância da política na vida. Por isso, temos uma geração de jovens egoístas e uma baixa representação de índios, de mulheres, de jovens e de negros. O eleitorado jovem é bem significativo e pode mudar uma eleição. O jovem deve votar pelo interesse coletivo e pelo benefício de todos, independentemente do novo ou do maduro na política.
EM TEMPO: Na sua visão quem vence a eleição, qual estratégia resultará essa vitória?
Carlos Santiago: Quem vencerá as eleições será o candidato que apresentar soluções para os problemas de Manaus, passando confiança e credibilidade, trabalhando como se fosse um síndico. O povo de Manaus gosta de prefeito que acorda cedo e vive o cotidiano da cidade. Quando ele fica no gabinete é criticado.
A maioria do eleitorado está dividida entre eleitor emotivo e o eleitor racional. "
Carlos Santiago, advogado e cientista político,, sobre o perfil do eleitorado nas eleições 2020
EM TEMPO: Tendo em vista o crescimento de 40% da aceitação do presidente, Jair Bolsonaro nas últimas pesquisas, os apoiadores do presidente têm a capacidade de chegar ao segundo turno em Manaus?
Carlos Santiago: É possível. O presidente Bolsonaro tem um forte apoio popular na cidade de Manaus. Porém, a base política do presente está pulverizada. Existem várias candidaturas. Isso dificulta o crescimento dos candidatos bolsonaristas. Ademais, só o apoio do Bolsonaro não elege: se o candidato não tiver credibilidade, propostas para resolver os problemas da cidade e força política não irá para o segundo turno.
EM TEMPO: Neste momento, o principal objetivo dos candidatos é conquistar 18% dos votos e chegar no segundo turno. Qual a melhor estratégia para conquistar essa porcentagem e garantir seu nome na segunda fase da disputa?
Carlos Santiago: Primeiramente é preciso identificar nas pesquisas os sentimentos do eleitorado para trabalhar com precisão. Depois, vem uma boa comunicação, força política e muita movimentação: a comunicação na televisão, rádio e redes sociais terá que ser objetiva, direta e emotiva; força política é unir pessoas, movimentos sociais, personalidade e candidatos a vereador; a movimentação com caminhadas, reuniões, carreatas e minicomícios poderão ser realizadas obedecendo as regras sanitárias.
EM TEMPO: Apesar de o candidato Amazonino Mendes estar em primeiro lugar nas pesquisas, muitos eleitores não acreditam que ele possa vencer a eleição. Quem seria capaz de derrotá-lo?
Carlos Santiago: As eleições caminham para dois turnos. Numa eleição de dois turnos, com candidaturas qualificadas, com 60% do eleitorado ainda apático, com fortes interesses econômicos e políticos, ninguém poderá cantar vitória antes do término das eleições. Nem o Amazonino nem os seus concorrentes.
EM TEMPO: Em um cenário de segundo turno entre Amazonino Mendes e David Almeida, quem vence a disputa eleitoral?
Carlos Santiago: Não tenho palpite. A campanha oficial só começa no dia 27 de setembro. Teremos 45 dias de campanha, acontecerá muita movimentação política e o sentimento do eleitor pode mudar. Ninguém sabe se irá mesmo Amazonino e Davi Almeida para o segundo turno.

EM TEMPO: Qual o perfil do eleitor nessas eleições? Ainda é
possível ser eleito pelas falsas promessas ou o eleitor está mais experto?
Carlos Santiago: Independentemente da cor, da classe social, do credo e da instrução escolar, a maioria do eleitorado está divida em eleitor emotivo e o eleitor racional. O emotivo está sempre buscando um Salvador da Pátria, um líder para adorar; o racional busca propostas e a história do político. Nas últimas eleições, os sentimentos da parcela do eleitorado emotivo prevaleceram. Por isso, que falsas promessas de políticos ainda irão eleger. Espero que não, mas...
EM TEMPO: Nessas eleições, há chances de uma reviravolta entre as primeiras posições nas pesquisas? Quais fatores seriam necessários para isso?
Carlos Santiago: Sim. Primeiro, se acontecer algo inesperado, como uma operação policial, por exemplo; segundo, se a comunicação dos adversários desnudar as contradições das administrações públicas dos primeiros nas pesquisas e passar confiança ao eleitor.
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