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Meios de Transporte

Barcos, rabetas e canoas: os transportes que movimentam a Amazônia

No Amazonas, as embarcações movimentam diversos setores e são os principais meios de transporte da população que vive às margens dos rios

Manaus (AM)- Canoas, rabetas e barcos são os principais meios de transporte no Amazonas. A região, banhada pelas águas do Rio Negro e Amazonas, vive suas principais atividades por meio do transporte aquaviário.

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Amazonas (Arsepam) confirma que as embarcações tradicionais são os principais meios de transporte local.

A geografia explica esse fenômeno, pois, de 62 municípios que existem no Amazonas, apenas três não podem ser acessados por embarcações, somente por meio aéreo ou terrestre.

Diante disso, 59 cidades dependem do setor hidroviário. O fluxo de passageiros é superior, no comparativo ao modal rodoviário intermunicipal, ambos coordenados e fiscalizados pela Arsepam.

Barcos ancorados no Porto de Manaus. Foto: Bruna Oliveira

Um dos meios de transportes mais usados são os recreios, que transportam passageiros e cargas. Os barcos de grandes portes são responsáveis pela locomoção nos rios do Amazonas em maior escala.

Em 2021, tendo como ponto de partida Manaus, 601.067 passageiros utilizaram o transporte hidroviário intermunicipal, representando um fluxo 79,55% superior em relação ao transporte rodoviário intermunicipal com 334.751.

O número de passageiros na modalidade hidroviário intermunicipal compreende os postos de fiscalização da Arsepam, sendo eles: o Porto de Manaus e Manaus Moderna, no Centro da capital, e o Porto da Ceasa, na zona Sul da capital amazonense.

Em 2021, levando em consideração os postos de fiscalização da Arsepam e o ponto de partida Manaus, 610 embarcações realizaram o transporte de passageiros e cargas para os mais diversos municípios. Ao todo, foram 19.348 fiscalizações/viagens.

“O transporte intermunicipal aquaviário por ser o principal modal utilizado no nosso estado, tem uma importância fundamental para a economia dos nossos municípios, tanto para grandes, médios e pequenos produtores, arranjos produtivos locais, comerciantes, entre outros”, disse o diretor-presidente da Arsepam, João Rufino Júnior.

Segundo informações do relatório de aspectos gerais de navegação no interior do Brasil da Confederação Nacional de Transporte (CNT), publicada em 2019, o Norte é a região onde os rios são “estradas” para o principal meio de transporte, sendo cruciais para o deslocamento e o abastecimento das comunidades ribeirinhas.

Ainda segundo relatório, nessas áreas, apesar das características naturais favoráveis à navegação, os rios da Região Amazônica também necessitam de intervenções para manutenção das condições de navegabilidade.

Regulamentação

João Rufino, diretor-presidente da Arsepam, também defende a regulamentação. Segundo ele, todos saem beneficiados, passageiros, donos de embarcações e economia local desfrutam do transporte seguro.

“Todos esses atores do setor econômico poderão ser beneficiados a partir da regulação do transporte intermunicipal aquaviário, uma vez que essa regulação irá proporcionar, por meio do serviço adequado, a ser exigido pelas embarcações, armadores, empresas e pequenos operadores, um grau de qualidade, de eficiência, de segurança com padrões estabelecidos pela Agência Reguladora. Portanto, irão contar com um serviço melhor também para quem depende das embarcações para fazer o escoamento da sua produção, para quem vem a Manaus adquirir produtos para comercializar em seus municípios. Então todo esse público será impactado com a implantação da regulação do transporte intermunicipal aquaviário”, defendeu.

Canoas

São um dos meios de transportes hidroviários mais antigos, as canoas eram usadas para locomoção em rios e lagos. Originalmente, feitas de madeira, são movidas por meio dos remos nas mãos dos canoeiros.

Muito comum em comunidades indígenas, as canoas podem transportar até oito pessoas, dependendo da massa corpórea e do equilibro dos passageiros.

Em Manaus, é bastante comum ver canoeiros na orla da Manaus Moderna. Diariamente, os trabalhadores atravessam o rio e comercializam peixes frescos. Nas canoas, oferecem o melhor da culinária regional e assim, conseguem o sustento da família ribeirinha.

Venda da peixes no porto da Manaus Moderna, no Centro de Manaus. Foto: Bruna Oliveira

Em comunidades onde a cheia do Rio Negro, que acontece nos meses de maio a julho e atingem diversos municípios do Amazonas, moradores atravessam as cidades em canoas. Além da praticidade, o meio de transporte não gasta combustível.

Rabetas

Conhecido em comunidades em que seja necessário cruzar grandes distâncias, a rabeta é o transporte com motor de propulsão que, acoplado na traseira de pequenas embarcações ou barcos, é conduzido manualmente, com a ajuda de um bastão que determina as direções.

Mais velozes e por serem menores que uma embarcação convencional, a rabeta é um transporte predominante entre os ribeirinhos do Amazonas. Por serem velozes, as embarcações causam “banzeiros”, as pequenas ondas, que podem alagar ou virar canoas que estão próximas.

Com uma banca em frente ao Porto de Manaus, no Centro, o vendedor de passagens Fredson Jrf, de 48 anos, é um dos que dependem das embarcações, de forma indireta, para o sustento da família.

Trabalhando há mais de 20 anos no mercado, Fredson conta que a nível nacional, Santarém, no Pará, é a cidade mais procurada para compra de passagens, que custam em média R$ 180 a R$ 220. Com a viagem de 30 horas, os 740 km seguem em meio aos rios.

Vendedor sustenta a família vendendo passagens de barco. Foto: Bruna Oliveira

O vendedor aponta também que o destino mais procurado no Amazonas é o município de Parintins, distante 369 km da capital, conhecido por ser o palco de um dos maiores festivais folclóricos do mundo. A média de preço varia entre R$ 100 a R$ 180, dependendo também da temporada de viagem.

Cada barco comporta, em média, cerca de 700 pessoas, além das cargas enviadas para os diversos destinos. Com isso, diariamente, passagens são compradas de vendedores espalhados próximos ao Porto.

“Vivo de venda de passagens há mais de duas décadas. Não sei bem precisar, mas são mais de 20 anos dependendo disso aqui para sustentar minha família. As viagens de barcos movimentam nossas vidas em todos os sentidos”, disse o vendedor que atua no Centro de Manaus.

“Ainda vai dar meio dia, mas já vendi mais de 25 passagens. O barco sai hoje, por isso, está movimentando. Vamos fechar a semana de forma positiva”, completou Fredson.

Locomoção para trabalhar e estudar

Alunos atravessam rios para estudarem no Amazonas Foto: Arquivo pessoal

Assim como nas cidades, que o transporte terrestre é usado para atividades do dia a dia, os ribeirinhos do Amazonas utilizam rabetas, canoas e lanchas de pequeno porte para se locomoverem para o trabalho e escola.

Essa é a realidade de moradores da comunidade do Lago do Cacau, no município de Iranduba, localizado na zona metropolitana de Manaus. Todos os dias Brenda Moreira, de 24 anos, sai de casa às 5h20 da manhã para levar os irmãos até outra comunidade, onde eles pegam a condução escolar. De lá, ela segue para o trabalho.

O meio de transporte é uma canoa rabeta de, aproximadamente, cinco metros. Brenda conta que os maiores desafios são os banzeiros e dias de chuva, pois a canoa não tem cobertura.

“É a nossa rotina de segunda a sexta. É muito ruim quando chove, ainda mais por conta dos banzeiros, mas já estamos acostumados. Moro nessa comunidade desde criança e muito cedo aprendi a dirigir rabeta. É como se fosse o nosso carro e moto. O ruim é a distância de tudo, a dificuldade para chegar em outros locais. É cansativo acordar cedo e fazer todo esse trajeto para trabalhar e estudar, principalmente para as crianças”, pontua Brenda, que trabalha como diarista.

Brenda e a família usam as embarcações diariamente. Foto: Arquivo pessoal

Outra pessoa que vive a mesma realidade é a Aline Marques, de 33 anos. Solteira e mãe de dois filhos pequenos, de 8 e 10 anos, ela também faz o mesmo trajeto para trabalhar e deixar os filhos na escola.

“A grande dificuldade é acordar as crianças todos os dias bem cedo. Na maioria das vezes elas vão dormindo no porão da canoa durante a viagem. No final do dia, voltamos para casa”, conta Aline, que trabalha como costureira.

Aline relata que a dificuldade aumenta no período da vazante do Rio Negro, a comunidade fica praticamente isolada, pois o principal meio de transporte é fluvial. “Quando o rio seca fica muito complicado. Tenho que passar uns meses na casa da minha irmã, para poder não faltar ao trabalho e nem os meninos a escola e assim vamos levando a vida”, relata.

Moradora conta a rotina com o uso do transporte

Competição de canoa

Até no momento da diversão, as canoas fazem parte da rotina dos ribeirinhos. Aos domingos, a diversão na comunidade do lago do Cacau fica por conta da competição de canoas.

Os moradores de reúnem na beira do lago para torcer pelos competidores, que em pequenas canoas com remos participam da competição. O mais veloz leva o prêmio, que sempre é pacote de refrigerante, caixa de frango e dinheiro.

Em outros municípios do interior também são realizadas competições de rabetas, como é o caso, por exemplo, em Manaquiri e Manicoré.

Nesse caso, os competidores fazem as canoas com uma madeira leve, para ficar mais rápida durante a “corrida”. Os campeonatos movimentam as comunidades ribeirinhas.

Vídeo:

Imagens do Porto de Manaus, com a intensa movimentação das embarcações.

Perigo nas vazantes

A vazante, o período de descida dos rios, também esconde perigo. O Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial no Estado do Amazonas (Sindarma) emitiu alerta aos seus associados sobre as condições de navegabilidade nos rios do estado neste período.

No interior, o Boletim de Monitoramento Hidrometerologico da Amazônia Ocidental emitido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no último dia 5, indicou que nas bacias dos rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas, a descida das águas também segue acelerada, principalmente no Madeira, com níveis considerados baixos para este período do ano.

Segundo o Sindarma, o principal problema na temporada da vazante é o aumento dos riscos de embarcações encalhar em bancos de areia, pedras e troncos de árvores que surgem com maior frequência nestes meses.

“No verão amazônico o perigo é redobrado e orientamos os transportadores para manter os treinamentos de sua tripulação, a manutenção e o perfeito funcionamento de seus equipamentos de monitoramento, ambos indispensáveis para a segurança e a continuidade das operações”, destacou o vice-presidente do sindicato, Madson Nóbrega.

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