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Ambientalista traz à tona invisibilidade das populações tradicionais

Estiagem histórica dos rios é um dos problemas em 2023

Manaus (AM) – Tirar a venda dos olhos que invisibiliza as populações tradicionais da Amazônia para, então, valorizá-las e protegê-las. É o que defendeu Valcléia Solidade, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), no TEDx Amazônia, realizado no início de novembro, em Manaus (AM).

Há 15 anos na FAS, Valcléia se dedica a projetos que beneficiam mais de 580 comunidades no Amazonas e na superação de desafios para inclusão socioeconômica de milhares de pessoas.

Políticas públicas distantes, isolamento logístico, falta de energia elétrica e muitos outros problemas evidenciados e agravados pela pandemia de Covid-19, entre 2020 a 2022. Em pleno 2023, o problema é outro: a estiagem histórica dos rios.

“Quando achamos que já tínhamos vivido e passado pelo momento mais difícil e desafiador com a pandemia da Covid-19, eis que somos surpreendidos com uma seca histórica e severa, que isola as pessoas e traz à tona toda a fragilidade, injustiça social e abandono dessa população e dos territórios onde elas estão inseridas. […]. Porque essa é a realidade atual da Amazônia e dos amazônidas”,

acrescenta.

Representando a FAS e o Hub de Bioeconomia, Valcléia participou da sessão “Resistência” no TEDx. A ambientalista iniciou seu discurso de olhos vendados, uma metáfora à invisibilidade histórica sobre os povos tradicionais da Amazônia.

“A apresentação está pautada na minha vivência e em tudo que eu aprendi, [em tudo] que faço hoje pelas comunidades. Então, primeiro, eu quero convidar todos vocês a tirar a venda dos olhos e a enxergar as populações tradicionais, das formas que elas merecem ser vistas. Porque afinal de contas, a maior riqueza que a Amazônia tem são as populações que nela vivem, e pouco falamos de pessoas aqui”,

provoca.

Natural da comunidade quilombola Murumuru, a aproximadamente 40 quilômetros de Santarém (PA), Valcléia iniciou os afazeres domésticos aos cinco anos de idade, buscando água para consumo em igarapés, cozinhando e cuidando de irmãos mais novos.

“Nessa época [infância], também aprendi com a minha avó, o significado e o sentido de doação, dedicação e amor ao próximo. Minha avó, que era a curandeira da região, dedicou a sua vida a cuidar dos enfermos que a procuravam em busca de cura para seus problemas de saúde. […]. Ninguém tinha condições para isso [ir ao médico], o que também não é muito diferente das comunidades de hoje espalhadas pela Amazônia profunda”,

conta.

Racismo velado, desigualdade social, pouca estrutura escolar, ruptura de laços afetivos e fome também marcam a história da ambientalista, mas isso não apagou a importância de sua ancestralidade: “eu saí do território, mas o território não saiu de dentro de mim”.

Ela ainda deixou uma provocação:

“para você, que usa a narrativa de que a Amazônia vai salvar o planeta, te convido a conhecer a realidade de perto. E contribuir para que mude. Porque para a Amazônia não existe mais o amanhã, o futuro é agora”,

encerra.

Sessão “Resistência”

A sessão “Resistência” também reuniu os palestrantes: Txai Macedo, indigenista e sertanista; Maial Paiakan Kayapó, jovem liderança indígena e ativista; Elaíze Farias, jornalista e co-fundadora da agência de notícias Amazônia Real; Nice Machado, quebradora de cocos e secretária de Mulheres do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS); e Jander Manauara, rapper e ativista comunitário.

Com o tema “Onde as vozes se encontram”, o TEDx Amazônia retornou ao Amazonas após 13 anos. No decorrer de quatro dias, reuniu aproximadamente mil espectadores e mais de 40 palestrantes, incluindo ativistas, empreendedores, cientistas, influenciadores, líderes indígenas e comunitários para discussão de assuntos que tratam da Amazônia: povos originários, bioeconomia, produção sustentável, ciência e tecnologia, entre outros. Mais informações sobre o evento estão disponíveis em: tedxamazonia.com.

Sobre o Hub de Bioeconomia Amazônica

O Hub de Bioeconomia Amazônica é uma rede local, regional e global que conecta e articula organizações e lideranças para amplificar soluções para uma bioeconomia inclusiva na Amazônia. É secretariada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e vinculada à Green Economy Coalition (GEC), uma das maiores alianças globais de organizações multissetoriais engajadas na promoção de uma economia verde e justa no mundo. Acesse bioeconomiaamazonia.org e saiba mais.

*Com informações da assessoria

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