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Caso 'dama do tráfico'

“Dama do tráfico do Amazonas” foi à Brasília em viagem paga pelo Ministério dos Direitos Humanos

Viagem custeada foi para participação no Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura

Luciane Barbosa Farias posa para foto com Rafael Velasco, secretário da Senappen Foto: Reprodução/Instagram

O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania confirmou o pagamento da viagem de Luciane Barbosa Farias, a “dama do tráfico amazonense”, casada com o líder do Comando Vermelho (CV) no Amazonas, Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas”. A pasta custeou a passagem de todos os participantes para o Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, que ocorreu nos dias 7 e 8 de novembro.

Em nota, o ministério informou que os participantes foram indicados livremente por representantes dos comitês estaduais, somando mais de 70 pessoas de várias regiões do Brasil.

“Nem o ministro, nem a secretária, nem qualquer pessoa do gabinete do ministro teve contato com a indicada ou mesmo interferiram na organização do evento que, insistimos”,

consta o trecho da nota.

Presidente da associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), que defende o direito de pessoas encarceradas e melhorias no sistema prisional, Luciane participa de eventos relacionados a temática de direitos humanos.

O ministro da Justiça Flávio Dino afirmou nesta segunda-feira (13) que nunca recebeu líderes de facção em seu gabinete no Ministério da Justiça.

“Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou parente, ou vizinho. De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em uma audiência que NÃO SE REALIZOU em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no Twitter do Elias Vaz (secretário do ministério). Lendo lá, verificarão que não é o que estão dizendo por conta de vil politicagem”,

afirmou.

Casal do crime

Luciane é casada há 11 anos com Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, considerado o “criminoso número um” na lista de procurados pela polícia do Amazonas, até ser preso em dezembro passado. Ela e o marido foram condenados em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. “Tio Patinhas” cumpre 31 anos no presídio de Tefé (AM). Luciane foi sentenciada a 10 anos e recorre em liberdade.

No Amazonas, o marido de Luciane ficou conhecido por ostentar a “fama de indivíduo de altíssima periculosidade, com desprezo à vida alheia”. O Ministério Público relata que ele possui poder econômico advindo do tráfico de drogas e costuma ser cruel com seus devedores, “ceifando-lhes a vida sempre que os crimes em que se envolve lhes torna credor”, segundo um trecho da denúncia do procurador Mário Ypiranga Monteiro Neto, de agosto de 2018.

Os métodos violentos de Tio Patinhas marcam a crônica policial do Amazonas. Em abril de 2019, um homem foi encontrado morto em Manaus com um cartaz no rosto: “devia Tio Patinhas”. Num ataque a um motel, um homem foi morto com tiro na cabeça e outro ficou ferido, ambos vítima de execução comandada pelo traficante. Tio Patinhas também já posou para foto segurando uma metralhadora de artilharia antiaérea calibre .30, capaz de abater aeronaves e atravessar veículos blindados.

Sobre Luciane, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) aponta que ela atuou como o “braço financeiro” da operação do marido.

“Exercia papel fundamental também na ocultação de valores oriundos do narcotráfico, adquirindo veículos de luxo, imóveis e registrando ‘empresas laranjas’.” Graças ao trabalho, ela “conquistou confiabilidade da cúpula da Organização Criminosa ‘Comando Vermelho’”,

detalha a acusação.

Clemilson e Luciane se casaram em 30 de outubro de 2012. Na época, ela abriu um salão de beleza que, segundo os investigadores, era usado para lavar dinheiro do tráfico. O casal prosperou: a declaração de Imposto de Renda de Luciane apresentava bens de R$ 30 mil em dezembro de 2015. No ano seguinte, passou para R$ 346 mil, alta de 1.053%. Segundo os investigadores, os dois também eram donos de ao menos três imóveis no Amazonas e em Pernambuco, além de seis veículos (sendo uma moto, três carros e dois caminhões).

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Comentários:

  1. O buraco é mais embaixo. Como essa mulher pode participar de um evento no Ministério dos Direitos Humanos (MDH) na cara dura? Simples. Ela foi indicada como representante do estado do Amazonas pelo Comitê Estadual para a Prevenção e Combate à Tortura, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos, Justiça e Cidadania do Estado do Amazonas, a Sejusc. Foi essa indicação do Comitê que abriu as portas para ela em Brasília. Quem faz parte desse comitê? Integrantes do Governo Wilson Lima, da Defensoria Pública do nosso estado, da OAB – seccional Amazonas e da sociedade civil do Amazonas. Ou seja, foi essa gente fina do governo Wilson Lima e da elite amazonense que empoderou a dama do tráfico amazonense.

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