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Garrote Estrelinha soma 40 anos de ação cultural e social no Petrópolis

A maioria dos participantes são moradores do bairro

Manaus (AM) – As manifestações culturais evidenciam de diversas formas, o comportamento e os valores de um grupo dentro da sociedade. Através dessas manifestações, a história de um povo é contada e passada de pai para filho, mantendo viva a tradição cultural em nosso país.

Segundo a antropóloga Socorro Batalha, as manifestações culturais podem se expressar de diferentes formas e são primordiais para a construção de identidade e representatividade de qualquer grupo social.

“São essas manifestações culturais que mobilizam agentes sociais de diferentes gerações e constituem relações de pertencimento de resistência”,

disse a profissional.

No Amazonas, a cultura do boi bumbá, impulsionada pela grandiosidade do Festival Folclórico de Parintins, trouxe os holofotes do mundo para a festa realizada no meio da floresta amazônica. A disputa entre Garantido e Caprichoso mantém viva a tradição de “folclorear” durante três dias, arrastando multidões de torcedores e turistas para a pequena cidade ribeirinha.

Realizando um trabalho social e, ao mesmo tempo cultural, dentro do bairro de Petrópolis, em Manaus, o Garrote Estrelinha completou em 2023, 40 anos de história trabalhando diretamente com crianças e adolescentes residentes, ou não, no bairro da Zona Sul da capital.

O início do Garrote Estrelinha

Criado por Francisco Soares, o Garrote Estrelinha foi fundado em oito de junho de 1983, como opção de lazer para crianças e jovens do bairro de Petrópolis, que prontamente aceitaram participar e começaram a brincar com caixas de papelão e tambores de lata.

“Eu criei o Estrelinha porque, naquela época, não havia a brincadeira de garrote para crianças e adolescentes, só existia o boi bumbá onde brincavam apenas adultos. Por este motivo, eu e outras crianças da época resolvemos fazer o Garrote Estrelinha”,

explicou Francisco Soares.

O nome do garrote formado por crianças também surgiu de modo especial, como explica o fundador da brincadeira popular.

“Com o entrosamento de outras crianças, nós começamos a buscar de um nome para o nosso garrote. Vários nomes foram citados, até que uns jovens olharam para o céu, que estava bastante estrelado, e no meio de tantas estrelas, havia uma pequena estrela que brilhava mais que as outras. Os colegas chamaram a atenção uns dos outros para olhar a estrela brilhosa e assim surgiu a ideia do nome do garrote. Garrote Estrelinha”,

relembrou Soares.

Foi apenas no ano de 1990 que o Garrote Estrelinha afiliou-se à AGFAM (Associação dos Grupos Folclóricos do Amazonas), passando a disputar a categoria extra no Festival Folclórico do Amazonas (FFA), realizado tradicionalmente no Centro Cultural Povos da Amazônia. Atualmente,o Garrote Estrelinha disputa o FFA através da Associação Folclórica Cultural Boi Bumbá Corre Campo.

Composição musical

Para profissionalizar cada vez mais a brincadeira, o Garrote Estrelinha precisava de um apoio musical para realizar as apresentações. Foi a partir do ano de 1995, que o garrote passou pela transição do estilo tradicional para o regional, implementando instrumentos na banda, como o contrabaixo, teclado, violão e charango.

Responsável por juntar os componentes da primeira geração musical do Garrote Estrelinha, o brincante Damião Mota passou a procurar pessoas dispostas a ajudar a agremiação. Apaixonado pela cultura amazonense, o ex-conselheiro tutelar Félix Ramos aceitou o desafio de participar da banda e passou a ajudar a procurar os próximos membros que integrariam o núcleo musical.

 “Eu conhecia o Damião e ele me convidou para participar da banda. Depois que aceitei o convite, nós partimos atrás dos próximos integrantes, foi assim que conheci o Márcio Greick, e assim nós fomos montando a banda. Todos nós somos ligados à Igreja de São Pedro Apóstolo, em Petrópolis”,

contou Félix Ramos.

Integrante da nova geração musical da agremiação, o tecladista Gabriel Nicácio é responsável por organizar os instrumentistas na execução das toadas de arena.

“Eu participo desde 2015. Eu entrei para participar da liturgia da Igreja de São Pedro e logo em seguida o garrote surgiu na minha vida e eu abracei a causa, juntei o útil ao agradável. A música ela ocupa o tempo dos brincantes, levando para o lado cultural. Nosso bairro tem muita tradição nesses grupos culturais, quem brinca aqui são pessoas que se envolvem com várias atividades”,

pontuou o tecladista.

Atualmente, a banda oficial do Garrote Estrelinha é formada pelo tecladista e maestro Gabriel Nicácio, o violonista Daniel Nicácio, o contrabaixista André Ricardo, o backing vocal Lúcio Souza e André Assunção, no charango. A direção musical é de Félix Ramos. Desde o início da brincadeira, nenhum integrante da banda recebeu retorno financeiro para participar, a doação de tempo e disposição é 100% gratuita.

Comunidade participativa

Os brincantes do Garrote Estrelinha, majoritariamente, são moradores do bairro de Petrópolis. Muitos deles participam da brincadeira ainda na infância, e após atingir a maior idade, passam a ajudar na organização da atividade cultural, como a coordenadora Bruna Paola, que possui 29 anos de idade, sendo 24 anos de Estrelinha.

“Eu iniciei em 1999, como sinhazinha mirim, passei por todos os itens do garrote e depois de atingir a maior idade, eu não podia mais participar, então a gente acaba regressando para a batucada ou coordenação. Em 2015, eu virei peara da batucada, fiquei por três anos e agora eu sou coordenadora geral da batucada”,

contou Bruna.

Participando pela primeira vez do Garrote Estrelinha, Laura Rocha, de seis anos, moradora do bairro de Petrópolis, recebeu o incentivo de sua mãe para dançar na apresentação de 40 anos da agremiação do FFA.

“Nossa família sempre foi envolvida nesse meio do folclore, tanto em questão de quadrilha e no próprio Garrote Estrelinha. Da mesma forma que eu cresci nesse meio, eu procurei incentivar ela também a participar”,

contou a mãe, Brenda Rocha.

Garrote Estrelinha: 40 anos de Folclore e Cultura Popular, revivendo nossa história

Na última segunda-feira (17), o Garrote Estrelinha realizou, no Centro Cultural Povos da Amazônia, a sua apresentação oficial do ano de 2023 no Festival Folclórico do Amazonas, na categoria ouro. Com o tema “Garrote Estrelinha: 40 anos de Folclore e Cultura Popular, revivendo nossa história”, a evolução da manifestação cultural foi contada ao longo de 40 minutos.

Tradicionalmente, o início da apresentação do Garrote Estrelinha conta com a presença da mãe do fundador do garrote, a presidente de honra, dona Antônia Soares Rodrigues. Pela primeira vez, por motivos de saúde, ela não conseguiu comparecer para assistir a apresentação ao vivo, mas segundo Francisco Soares, a mãe abençoou a brincadeira dias antes.

“Minha mãe não participou por motivos de saúde, mas mesmo assim ela veio até mim, disse que não iria conseguir ir para a apresentação, e abençoou a brincadeira de boi que gosto tanto; ela disse que tudo o que tinha planejado, iria dar certo”,

disse Soares.

E um dos destaques da apresentação foi a Cunhã Poranga Victória Fernandes, de 9 anos, que participou pela segunda vez do garrote e levantou a torcida com seus passos coreografados.

“É um sonho meu, o boi é minha vida. Minha inspiração é a Isabelle Nogueira, Cunhã Poranga do Boi Garantido, o próprio Estrelinha me inspira, nesses 40 anos de história, quero continuar por muito tempo. Sinto uma energia muito boa, quero arrasar”,

disse a brincante.

A participação efetiva da comunidade é um dos pontos fundamentais para o fortalecimento da cultura, como explica Socorro Batalha.

“São nesses espaços de preparação para as apresentações que envolvem criações, interações humanas, ensaios, produções, que se criam as relações de pertencimento, relacionadas com as identificações e referências”,

pontuou a antropóloga.

Formado por apaixonados pela cultura amazonense, os integrantes do Garrote Estrelinha doam tempo e talento em prol da manutenção do trabalho social iniciado por Francisco Soares. Após 40 anos de atividade na Zona Sul da capital, o fundador da brincadeira agradece a todos que passaram pelo garrote desde o início de sua trajetória.

“Minha mensagem é de gratidão a todas as famílias que participam e participaram do nosso Garrote Estrelinha. Gratidão sempre. Enquanto houver amor, carinho e dedicação, o Estrelinha irá continuar com a força de nossas famílias envolvidas neste excelente grupo folclórico”,

finalizou Francisco Soares.

*Em memória de Antônia Soares Rodrigues

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