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Enfraquecimento na Indústria

Saída da Heineken de Manaus acende alerta para “debandada” na Zona Franca

Mesmo não motivada pela redução do IPI, a transferência pode ser o início dos prejuízos econômicos no Amazonas, aponta especialista

Divulgação

Manaus (AM) – O Grupo Heineken anunciou, nesta sexta-feira (4), a transferência de sua fábrica de concentrados para refrigerante da Zona Franca de Manaus (ZFM) para a cidade de Itu, no interior de São Paulo. A companhia empregava, aproximadamente, 18 funcionários na unidade Manaus, que estão aptos ao pacote de desligamento.

A cervejaria holandesa se estabeleceu em Manaus no ano de 2013, após encerrar as atividades em Cuiabá (MG). Pouco mais de 8 anos depois, a companhia deixa o modelo em um período de insegurança industrial, devido à decisão que reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Em nota, a empresa explica seus motivos e afirma que a realocação a tornará mais competitiva e alinhada às dinâmicas do mercado, pois a companhia conseguirá otimizar a produção, aumentará a eficiência na fábrica, irá melhorar a logística da chegada dos produtos nos pontos de venda e ainda reduzirá a emissão de carbono.

“Essa importante decisão também representa mais um passo na jornada iniciada em junho de 2021, quando o Grupo Heineken anunciou a retirada das embalagens PET acima de 1 litro de seu portfólio de bebidas não alcoólicas, mudança que contribui com o compromisso da empresa de neutralizar a emissão de carbono de toda a sua cadeia de valor até 2040”, diz trecho da nota.

No final do comunicado, a companhia de bebidas estrangeira “reafirma sua aposta e confiança no mercado brasileiro”, e ainda agradece a comunidade de Manaus e do estado do Amazonas pelo acolhimento nos anos de operação na região.

Resultados negativos na economia do Amazonas

O analista econômico Leonardo Braule aponta que a saída da empresa pode não ter sido motivada pela decisão do Governo Federal, da última semana, que reduziu o IPI e tirou a competitividade do Estado frente aos outros, mas essa decisão pode ter sido o estopim para a transferência.

“A gente já pode levar em consideração que atual política governamental, de diminuir 25% do IPI de outros estados, pode ser um dos fatores que acelerou o processo de saída da empresa. Talvez, ela já quisesse sair, estivesse em processo, mas essa atual política pode ter influenciado de forma a acelerar esse processo. Eu considero que já não é um reflexo, mas é o início dele”, relata.

O economista ainda diz que a Zona Franca pode já ter começado a ser impactada pela política do governo e as empresas encorajadas a deixar o Polo Industrial de Manaus.

“A Zona Franca de Manaus vai sofrer muito o impacto dessa medida governamental de diminuição do IPI. Isso encoraja que as empresas comecem a ver um panorama mais macroeconômico no Brasil, de forma a observar espaços em outros estados, e aproveitem essa vantagem para sair daqui ou se instalar em outras regiões e diminuir a produção aqui. O nosso escoamento no Amazonas é muito reduzido, escoar produtos do estado é caro. Essas empresas podem ir para qualquer outro estado e conseguir escoar os seus produtos com maior facilidade”, explica.

Diminuição do IPI

O presidente Jair Bolsonaro assinou, na última semana, um decreto que reduz em até 25% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no país. Com a redução, o Amazonas perde competitividade em relação a outros estados que vão poder baixar o imposto.

“A Zona Franca pode estar enfraquecida no médio e longo prazo. Isso não é um processo que ocorre da noite para o dia, mas, com certeza, vai impactar de forma negativa. Nós vamos perder algo, resta saber se vamos perder algo muito grande, no quesito vagas de emprego, produção, geração de renda, PIB, per capita, ou se é algo que dá para se suportar, tendo em vista que a economia do Amazonas é extremamente concentrada no Polo Industrial de Manaus”, afirma.

Braule conclui alertando que a cadeia econômica do Amazonas foi prejudicada e isso já começará a causar prejuízos ao Estado.

“O Amazonas não tem uma economia descentralizada, o que é algo a se preocupar. Qualquer impacto no Polo Industrial causa um impacto gigantesco na arrecadação do Amazonas, na geração de empregos, no comércio, uma cadeia de resultados negativos pode ser esperada dessa situação”, finaliza.

Funcionários

Em Manaus, a saída da empresa resultou na demissão e redução das vagas criadas pelo Polo Industrial. Ao Em Tempo, por meio de nota, a companhia diz que emprega cerca de 18 funcionários, elegíveis ao pacote de desligamento negociado com o Sindicato.

“O respeito e o cuidado com as pessoas seguem sendo nossa prioridade. Por isso, estamos oferecendo aos colaboradores um pacote de desligamento competitivo, além de suporte para recolocação profissional em outras unidades da Companhia ou em empresas da própria região”, declara.

Na empresa, a informação da transferência surpreendeu os funcionários da unidade. Conforme Sthefany Maquiné, funcionária da fábrica desde 2019, a motivação da saída do grupo também foi motivada pela queda na venda de bebidas na pandemia.

“Foi uma notícia inesperada. Não soubemos agora, já estávamos cientes disto. Houve uma reunião com toda a equipe, onde nos alertaram que o CD [Centro de Distribuição] da HNK iria se desfazer e, infelizmente, iriamos ter que sair. Mas com todos nossos direitos”, lembra.

“As vendas de bebida estavam reduzidas após a pandemia. Tivemos uma reunião e tratamos sobre tudo, antes dessa ‘explosão’”, acrescenta.

Sthefany relata que todos os funcionários já deixaram a empresa, alguns iniciaram em novos empregos. “Todos já saíram, uns estão desempregados. Outros já iniciaram por indicação em empresas de bebidas também. [No entanto], alguns estão ainda desempregados”, relata.

Posicionamentos

A equipe da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), responsável pela efetivação do grande polo industrial, por meio de nota, informou que acompanha o caso e entende que a saída faz parte de uma estratégia comercial da empresa.

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