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Retrospectiva

Mundo tem um dos anos mais violentos desde a Segunda Guerra

Combinação entre o número de conflitos tornou 2023 o ano de violência mais disseminada no planeta

Foto: Mohammed Salem

O mundo vive uma epidemia de guerras. A combinação entre o número de conflitos, os incidentes e as mortes ligadas a eles tornou 2023 o ano de violência mais disseminada no planeta desde o fim do segundo confronto mundial, em 1945.

As mortes estão no maior ponto desde então, com a exceção de 1950, quando eclodiu a Guerra da Coreia e tombaram mundialmente 550 mil pessoas, e 1994, quando o genocídio dos tutsis em Ruanda criou um desvio sangrento na curva, com 800 mil mortes.

Segundo a recém-lançada Pesquisa de Conflitos Armados, do britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, na sigla inglesa (IISS), houve 14% mais pessoas mortas em 2023 em relação a 2022: 267,7 mil faleceram. Já os incidentes violentos ligados a embates subiram 28% ante o período anterior, passando a 137,8 mil. 

Ucrânia x Rússia 

Foto: divulgação

Em janeiro, o Exército russo, reforçado por 300.000 reservistas e apoiado pelos paramilitares do grupo Wagner, passa ao ataque, particularmente na região do Donbass, no leste da Ucrânia. 

Em maio, Moscou reivindicou a captura da cidade de Bakhmut, ao final da batalha mais longa e sangrenta desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. 

No início de junho, Kiev lançou uma contraofensiva há muito tempo aguardada pelos seus aliados ocidentais, para tentar recuperar os territórios ocupados por Moscou, mas esbarrou em uma sólida defesa russa, o que provocou decepção entre as potências ocidentais aliadas da Ucrânia. 

Apesar dos bilhões em ajuda militar ocidental, o Exército ucraniano só conseguiu recuperar algumas cidades no sul e no leste. Em novembro, o país anunciou que os russos recuaram vários quilômetros na margem esquerda do rio Dnieper, na região sul de Kherson.

Os líderes da União Europeia (UE) concordaram em um encontro de cúpula em meados de dezembro em iniciar negociações formais para a adesão da Ucrânia ao bloco, mas não chegaram a um consenso para enviar mais recursos ao país devido ao veto da Hungria.

No dia 28 de dezembro, a Rússia realizou um de seus maiores ataques com mísseis, matando 12 civis, ferindo dezenas de outros e atingindo edificios residenciais em Kiev, no sul e no oeste do país, segundo autoridades.

O vasto ataque aéreo de fim de ano ocorre em um momento de incerteza sobre a escala e o poder de permanência do futuro apoio militar e financeiro do Ocidente a Kiev, após quase dois anos de guerra com a Rússia.

Hamas x Israel

Foto: Abed Rahim Khatib/Anadolu

No dia 7 de outubro, milhares de israelenses foram mortos e centenas foram sequestrados pelo grupo extremista Hamas, dando início à guerra. Até o momento, pelo menos 20 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças, foram mortos em ataques na Faixa de Gaza. As forças israelenses têm sido pressionadas por parte da comunidade internacional e acusadas de “punição coletiva”, mas o país conta com o apoio dos EUA para, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, “exterminar” o Hamas.

Terremotos mortais

Equipes de resgate sírias procuram vítimas e sobreviventes na cidade de Hama. Foto: Louai Beshara

No mundo também houve severos desastres ambientais. Na madrugada de 6 de fevereiro, o sudeste da Turquia e parte da Síria foram devastados por um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos. 

O tremor, de magnitude 7,8, seguido por outro, nove horas depois, deixou pelo menos 56 mil mortos, quase 6 mil deles no lado sírio. 

As imagens da catástrofe correram o mundo: um pai segurando a mão da filha de 15 anos, soterrada nos escombros na Turquia, ou um recém-nascido salvo milagrosamente na Síria, com o cordão umbilical ainda ligado à falecida mãe. 

Em 8 de setembro, outro terremoto mortal foi registrado no Marrocos. Às 23h11 (19h11 no horário de Brasília), um violento terremoto sacudiu a região de Marrakech. 

Com uma magnitude estimada entre 6,8 e 7, o tremor foi o mais forte já registrado neste país e deixou quase 3.000 mortos e mais de 5.600 feridos. 

Submarino 

Crédito: OceanGate

Submersível com milionários implode. O submersível da empresa OceanGate desapareceu no dia 18 de junho e, no dia 22, a Guarda Costeira dos EUA anunciou ter encontrado seus destroços. Uma perda de pressão causou a morte dos cinco ocupantes.

Greves paralisam Hollywood

Atores fazem piquete em Nova York durante greve que paralisou cinema e TV dos Estados Unidos. Foto: reprodução

Em maio, roteiristas americanos iniciaram uma greve, à qual os atores aderiram em meados de julho, para exigir melhores salários e a regulamentação do uso da inteligência artificial (IA). 

Este protesto, sem precedentes em Hollywood desde 1960, terminou em setembro para os roteiristas, que conseguiram um acordo salarial e proteções contra o uso da IA. 

Os atores, preocupados com a possibilidade de os estúdios usarem essa tecnologia para clonar suas vozes e imagens e reutilizá-las perpetuamente sem compensação ou consentimento, só ratificaram o acordo que encerrou a greve no início de dezembro.

Eleições 

Foto: Divulgação

Ultraliberal Javier Milei é eleito na Argentina. No dia 19 de novembro, os argentinos escolheram Javier Milei como novo presidente. Pouco tempo após a posse, o admirador de figuras como Bolsonaro e Donald Trump, anunciou um polêmico decreto de desregulamentação da economia e sugeriu uma lei que fecha o cerco contra manifestantes.

Trabalhadores presos em túnel na Índia 

Foto: Saurabh Sharma

No norte da Índia, 41 trabalhadores ficaram presos num túnel, após um deslizamento de terra em 12 de novembro, e foram resgatados apenas no dia 28 de novembro. Eles foram retirados um a um por meio de um tubo de 90 cm de diâmetro, inserido nos escombros do túnel, que desabou no Estado de Uttarakhand.

Planeta em ebulição

Reunidos em Dubai entre 30 de novembro e 12 de dezembro na 28ª conferência climática da ONU, países de todo o mundo aprovaram pela primeira vez um compromisso histórico, abrindo a via para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis, cuja queima provoca o aquecimento global. 

Após seis meses consecutivos de temperatura entre junho e novembro, o observatório europeu Copernicus antecipou que 2023 será o ano mais quente da História.

As temperaturas elevadas são acompanhadas por secas que provocam fome, incêndios devastadores e furacões de intensidade incomum. 

Somente no Canadá, 18 milhões de hectares foram devastados. Foto: Chico Ribeiro /Governo MT/Divulgação

O Canadá viveu uma temporada histórica de incêndios este ano, com mais de 18 milhões de hectares queimados e 200 mil pessoas deslocadas.

Em agosto, um incêndio no Havaí destruiu quase completamente a cidade turística de Lahaina, no Maui, deixando 97 mortos. 

A Grécia foi gravemente atingida por incêndios florestais durante o verão (com pelo menos 26 mortos), incluindo o maior já registrado na União Europeia, em Evros (nordeste). Depois, em setembro, graves inundações mataram 17 pessoas na região da Tessália. 

As chamas, alimentadas por uma onda de calor, devastaram as ilhas turísticas gregas de Rodes e Corfu, e outras áreas da bacia do Mediterrâneo, como a Argélia ou a ilha italiana da Sicília.

O aquecimento global causado pelas atividades humanas foi o principal motor da recente onda de calor que atingiu a América do Sul, segundo um relatório publicado em outubro pela rede científica World Weather Attribution (WWA).

Grandes partes da América do Sul registraram altas temperaturas em meados de setembro, antes do início da primavera, com temperaturas de 40°C nas regiões central e norte do Brasil e em partes da Bolívia, Argentina e Paraguai.

As altas temperaturas e a seca, agravada pelo fenômeno El Niño, deixaram 58 municípios do Amazonas em estado de emergência, afetando cerca de 500 mil habitantes.

Corrida espacial

Foto: ISRO 

A Lua está mais uma vez no centro da corrida espacial. Em 23 de agosto, a Índia conseguiu colocar uma nave não tripulada, a Chandrayaan-3, em uma área inexplorada próxima ao polo sul do satélite. 

Poucos dias antes, a sonda russa Luna-25, a primeira missão lunar de Moscou desde 1976, caiu na mesma região, alvo de muito interesse por conter água congelada. 

Antes da Índia, apenas os Estados Unidos, a União Soviética e a China conseguiram realizar pousos controlados na Lua. 

A Nasa conta com o foguete Starship, desenvolvido pela SpaceX de Elon Musk, para as suas missões Artemis, que querem levar astronautas à Lua em 2025, pela primeira vez desde 1972.

Em 20 de abril, a Starship decolou pela primeira vez em sua configuração completa, mas vários motores falharam e a SpaceX fez o foguete explodir intencionalmente quatro minutos depois. 

Em um segundo teste em novembro, o módulo superior do foguete chegou ao espaço, antes que uma “anomalia” provocasse uma explosão. 

A start-up japonesa “ispace” falhou em sua tentativa de fazer o módulo Hakuto-R pousar na Lua em abril, mas a agência espacial japonesa Jaxa lançou uma nova missão lunar em setembro.

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