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Saúde

FCecon tem que assumir o diagnóstico dos pacientes com câncer

É urgente repensar o papel da FCecon como agente não só de tratamento, mas também de diagnóstico

FOTO: Arquivo/FCecon

A luta contra o câncer é uma louca corrida contra o tempo. No Amazonas, essa corrida é travada em meio a obstáculos burocráticos que comprometem vidas. Na última quarta-feira (09), em manifestação na Assembleia Legislativa (Aleam), o deputado Dr. George Lins (União Brasil) sugeriu que a Fundação Cecon assuma o diagnóstico de câncer.

O parlamentar expôs uma realidade angustiante: pacientes enfrentam atrasos cruciais no tratamento devido a uma norma que exige biópsia prévia para acesso aos serviços da instituição. Diante dessa realidade, é urgente repensar o papel da FCecon como agente não só de tratamento, mas também de diagnóstico, garantindo equidade e sobrevida aos pacientes.

Desde 2022, a FCecon adota uma norma que restringe a abertura de prontuários a pacientes sem biópsia prévia, exceto em casos específicos, como tumores cerebrais ou de próstata com PSA extremamente elevado.

Contudo, tal exigência ignora a realidade de quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a realização de biópsias especializadas — como as de câncer peniano ou ósseo — esbarra na escassez de profissionais capacitados e insumos.

Conforme alertou Dr. George Lins, muitos pacientes chegam à FCecon com quadros avançados de câncer peniano, comum na região devido a fatores socioeconômicos e higiênicos, mas são barrados por falta de diagnóstico formal.

O resultado é um ciclo perverso: sem acesso à biópsia em unidades básicas, o paciente não inicia o tratamento na FCecon, única referência em oncologia no estado. O câncer, entretanto, não espera. Estudos mostram que cada semana de atraso no tratamento aumenta em até 13% o risco de mortalidade para certos tipos de câncer.

No Amazonas, onde as distâncias geográficas e a precariedade da infraestrutura de saúde amplificam desigualdades, essa demora é ainda mais letal.

FCecon precisa agir

Dr. George Lins argumenta, com razão, que se a FCecon já atua na prevenção — como faz com o Cepcolu (Centro de Prevenção ao Câncer do Colo do Útero) —, é coerente que também assuma o diagnóstico, sobretudo enquanto o prometido Centro de Diagnóstico de Câncer não se torna realidade. A instituição, embora classificada como hospital terciário (focado em tratamento), dispõe de estrutura técnica e expertise que a qualificam para etapas anteriores da cadeia de cuidado.

Em outras regiões do Brasil, centros de referência combinam diagnóstico e tratamento para agilizar o processo. O Instituto Nacional de Câncer (INCA), por exemplo, integra biópsias e exames complementares em seu fluxo, reconhecendo que a fragmentação do atendimento prejudica os resultados.

A FCecon, como única instituição estadual especializada, não pode se furtar a esse papel, ainda mais diante de dados alarmantes: o Amazonas tem uma das maiores taxas de câncer de pênis do mundo, com 2,1 casos por 100 mil homens, segundo o Ministério da Saúde.

O diretor-presidente da FCecon, Dr. Gerson Mourão, reconhece a complexidade do cenário e sinalizou abertura para revisar a norma, o que tem que acontecer já. Pacientes em estágios avançados de câncer, com sintomas visíveis, não deveriam depender de trâmites burocráticos para receber cuidado.

Como destacou Dr. George, um homem com lesão peniana ulcerada e necrótica já tem diagnóstico clínico evidente — exigir uma biópsia prévia, em um sistema frágil, é condená-lo à progressão da doença.

Além disso, casos como os de câncer ósseo ilustram a falha sistêmica: prontos-socorros não realizam biópsias complexas por falta de ortopedistas oncológicos ou materiais adequados. Enquanto isso, a FCecon, que concentra esses especialistas, poderia preencher essa lacuna, evitando peregrinação e desesperança.

A resistência em expandir o papel da FCecon parece ancorada em uma visão tecnicista de sua missão, mas a saúde pública exige pragmatismo. Em um estado com altas taxas de câncer e recursos limitados, centralizar o diagnóstico na instituição mais preparada é questão de justiça. A FCecon tem o dever ético de assumir essa responsabilidade.

Juscelino Taketomi¹.

(*)¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

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