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Entidades atuam para reduzir impacto da seca no Amazonas

Norte se prepara para enfrentar uma das piores secas já registradas

Foto: Divulgação

Manaus (AM) – O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por meio dos Escritórios de Campo de Manaus e Belém, com apoio da Equipe Técnica de Emergência nacional e seus parceiros de implementação Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos (ADRA) Brasil, Caritas Suíça, Saúde e Alegria e Instituto Amazônia Açu (Iaçu), tem atuado para reduzir os impactos da estiagem no Amazonas.

Em 2023, os rios Negro, Solimões e Madeira atingiram seu menor nível, produzindo impacto em todos os 62 municípios do estado que declararam estado de emergência. Foram cerca de 150 mil famílias – ou 600 mil pessoas – atingidas pela seca, segundo a Defesa Civil do estado do Amazonas. É inegável: o Amazonas enfrentou um fenômeno climático extremo e as previsões garantem que isso se repetirá em 2024.

Para 2024, as projeções indicam uma repetição desses desafios, com uma seca ainda mais intensa e prolongada. Um relatório da Defesa Civil do estado do Amazonas revela um prognóstico climático preocupante para os próximos meses, com previsão de chuvas abaixo da média e temperaturas acima do normal em todo o estado, o que pode agravar a seca que já é intensa. A falta de recuperação das calhas dos rios após a estiagem de 2023 e a persistência das anomalias climáticas levantam sérias preocupações quanto a uma possível seca severa no estado. A Defesa Civil fez um alerta à população que mora em áreas que costumam ser afetadas para que comecem a guardar água, alimentos e remédios, e que considerem se abrigar nas sedes municipais durante o período.

As populações mais afetadas nos cenários de estiagem são as indígenas, ribeirinhas, quilombolas e periféricas, que já enfrentam uma situação de vulnerabilidade, tornando-as especialmente suscetíveis aos impactos da crise climática, uma vez que possuem menos acesso a recursos e apoio para se adaptar ou se recuperar. Essas comunidades frequentemente lidam com a perda de suas terras e dos recursos naturais vitais de que dependem. Além disso, enfrentam desafios significativos no acesso a serviços básicos, como saneamento, saúde, educação e justiça climática, um tema crucial no contexto das mudanças climáticas.

“Essa situação afeta diretamente as crianças e adolescentes, que são os mais vulneráveis a esses desastres. A falta de acesso a água potável, alimentos nutritivos e condições sanitárias adequadas aumenta os riscos de desnutrição, doenças, interrupção da educação. Precisamos articular, de forma conjunta, governo, sociedade civil e setor privado, para que juntos possamos responder de forma imediata e coordenada às emergências que estão se intensificando”, explica Debora Nandja, chefe do escritório do UNICEF em Manaus.

Fortalecer a preparação e resposta nas pontas

Nesse contexto, o UNICEF desenvolveu uma estratégia de ação integrada, implementando medidas para ajudar crianças, adolescentes e suas famílias diante dos impactos da seca.

“Estamos concentrados em estratégias para redução de riscos, buscando atender às necessidades urgentes de saúde, nutrição, água e saneamento nas comunidades atingidas, além de fortalecer a capacidade de resposta dos municípios e comunidades a futuras emergências. As ações foram baseadas em uma rápida escuta dos principais desafios e coleta de informações em diversos municípios e comunidades indígenas e ribeirinhas, e em articulação com o poder público nas esferas federais, estadual e municipais”, explica Gregory Bulit, gerente de emergências do UNICEF no Brasil.

São iniciativas coordenadas com a Secretaria de Saúde Indígena – SESAI (Ministério da Saúde), com o Governo do Amazonas, prefeituras, COSEMS-AM, organizações indígenas e outras partes interessadas, e contaram com financiamento da União Europeia, através do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO, na sigla em inglês).

A dispersão geográfica e os contextos de ocupação dos territórios são gargalos históricos que exigem um olhar especial. No Amazonas, a área média de seus 62 municípios é de 25.335 km², superior à área do estado brasileiro de Sergipe. Não é incomum encontrar comunidades ribeirinhas e indígenas que estão a horas de navegação de distância da sede municipal, onde se concentram os serviços básicos.

“Aqui nós tivemos aumento da desnutrição e mortalidade infantil depois dessa estiagem em 2023. Foi a primeira vez que tivemos esse impacto aqui, muitas aldeias ficaram isoladas. Tivemos problema com água potável em aldeias que dependem de igarapés para se abastecer. Teve um impacto no aumento de vômitos, diarreias, malária, dengue. Foi um alerta e uma preocupação, porque a gente não estava preparado para isso. Quando secou tivemos falta de peixe, que é o nosso principal alimento, perdemos as nossas plantações. Estamos hoje nessa situação, precisando de apoio para conseguir reverter a situação e atender as crianças da melhor forma possível para quando a próxima seca chegar”, disse Sildonei Mendes, Ticuna, coordenador distrital do Distrito Sanitário Especial indígena (DSEI) do Alto Rio Solimões, cuja a sede é em Tabatinga, na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru.

Para isso, foi dada prioridade às populações onde a situação de seca multiplicou as vulnerabilidades já existentes, como as regiões do Alto e Baixo Rio Negro, Terra Indígena Yanomami, Alto e Médio Rio Solimões e Afluentes, Vale do Javari e entorno de Manaus, a partir de dois eixos de atuação. 

O primeiro é estrutural e busca soluções para ampliar acesso à água tratada de forma permanente nas comunidades mais distantes“Em nosso diagnóstico durante a estiagem, notamos que muitas pessoas estavam consumindo água barrenta e contaminada. De forma emergencial, conseguimos providenciar o envio de galões de água mineral e filtros, mas já começamos a planejar como poderíamos preparar essas mesmas comunidades para o próximo ciclo de vazante”, afirmou Paulo Diógenes, consultor do UNICEF em Água, Saneamento e Higiene.

“Hoje, o UNICEF está apoiando com a doação e instalação de materiais e equipamentos para a melhoria de soluções coletivas de abastecimento de água de qualidade em comunidades indígenas e ribeirinhas, com foco na redução de doenças diarreicas nas crianças. Inclui bombas solares, reservatórios, mini-laboratórios de análise da qualidade da água, filtros de membrana, filtros de vela de cerâmica, kits de aprofundamento de poços rasos. Para o longo prazo, estamos pilotando inovações, como a instalação de cisternas de captação e armazenamento de água da chuva, iniciativas de diagnóstico de engenharia reversa e planos de segurança da água resilientes ao clima”, completou.

O segundo eixo visa fortalecer a capacidade profissional e atuação local de forma integrada e qualificada no atendimento às demandas de saúde, acesso à água e higiene para essas populações. Tem como principal objetivo garantir que os profissionais que residem nas comunidades e atuam nas pontas previnam situações graves, ou que estejam preparados para as situações emergenciais que possam surgir.

Na área de água, saneamento e higiene nos territórios indígenas, o UNICEF tem realizado esforços integrados que unem capacitações de agentes de saneamento a apoio técnico para fomentar a segurança da água, considerando a quantidade e a qualidade para consumo, visando resiliência aos eventos climáticos extremos. Um exemplo é colaboração com os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) da região para adoção de ferramentas e um protocolo de ação para monitoramento do nível de poços em comunidades indígenas, e procedimentos padrão para aprofundamento em caso de seca durante as emergências.

Na área de saúde e nutrição, o foco é na vigilância e prevenção de casos graves. “Estamos percorrendo regiões remotas do Estado e realizando capacitações de estratégias para emergências em saúde infantil para cerca de 2.200 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes Indígenas de Saúde (AIS). São treinamento práticos em Vigilância Nutricional e Vacinal de Base Comunitária. Começamos fazendo um mapeamento participativo de situação e necessidades de cada território, e em seguida capacitamos no atendimento integrado das doenças prevalentes na infância – diarreia, doenças respiratórias, desnutrição e entre outras, visando melhorar a qualidade do cuidado e contribuir para a redução da mortalidade infantil e das internações por causas evitáveis. E, caso necessário, adotar um fluxo de encaminhamento para a rede do SUS, especialmente em casos de desnutrição e desidratação”, explica Neideana Ribeiro, oficial de Saúde e Nutrição do UNICEF em Manaus. Além das capacitações, os agentes recebem um kit com ferramentas essenciais para a avaliação do peso, medidas e a vacinação de crianças.

A expectativa é que os agentes de saúde amplifiquem o alcance das recomendações em seus territórios.  “Eu sou um agente de saúde que está lá na ponta, e esse material me ajuda a classificar os riscos, identificar as doenças, e como alertar. Essa é uma responsabilidade que eu tenho, e o que eu aprendi aqui eu vou levar para a minha aldeia”, confirma Manuel, que é Agente Indígena de Saúde da Comunidade Bom Caminho no município de Benjamin Constant.

“Recebemos apoio para abastecimento e tratamento de água em algumas comunidades mais remotas, mas ainda enfrentamos dificuldades em outras comunidades e inclusive em bairros que estão um pouco afastados do centro da sede municipal”, alerta Jean Costa de Souza, secretário de proteção e defesa civil do município de Careiro da Várzea.

*Com informações da UNICEF

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