Manaus (AM) – Um problema ambiental em um ramal do município de Manacapuru (distante a 100 quilômetros de Manaus) pode colocar em risco a preservação de um lago que atende moradores da região.
A equipe de reportagem do Em Tempo percorreu toda extensão de 30 km do ramal Acajatuba, no km 69 da Estrada Manuel Urbano, e constatou que as constantes queimadas na região, com o aumento de ocupação em áreas irregulares, estão prestes a afetar o recurso hídrico da região.
Com o crescente número de ocupações, várias pequenas comunidades estão sendo criadas no entorno do lago de Manacapuru. Por conta disso, hoje, apenas 380 metros de mata preservada separam o que foi desflorestado de um igarapé, próximo ao Lago do Miriti.
Desmatamento
O técnico em gestão ambiental e geomensor, Neidelande Martins, avaliou imagens feitas por drones e constatou que o crescente número de ocupações na região pode, em breve, prejudicar a qualidade das águas do rio de Manacapuru.
“Essa é uma constatação que já fizemos há alguns anos. Em 2020, o desmatamento dessa área estava em 509 metros para chegar no lago. Um ano e três meses depois, o avanço foi de 200 metros. Desde 2018 começou esse processo”,
alerta o especialista.
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Neidelande Martins também alerta para a gravidade do impacto ambiental que a região fica sujeita por conta do aumento das ocupações, que não possuem esgoto sanitário ou limpeza urbana. Segundo o especialista, há risco de poluição do lago à medida que o desmatamento avança.
“Trata-se de um problema socioambiental de elevada gravidade. Pois, embora a água seja um recurso natural renovável, pode tornar-se cada vez mais escassa, haja vista que apenas a água potável é própria para o consumo. A principal causa da poluição hídrica decorre do destino incorreto do lixo por parte da população, que atira objetos nos cursos d’água por pura falta de conscientização ambiental”,
comenta.
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Adeus, piscicultura
Outro problema, conforme o técnico em gestão ambiental, é o risco para as atividades econômicas desenvolvidas na região como a piscicultura.
“Os pequenos córregos que nascem dentro dessa área estão ameaçados. Esses desmatamentos e a construção de estradas matam os igarapés aos poucos, prejudicando os empreendimentos econômicos. Principalmente, a piscicultura e a agricultura que dependem de água de boa qualidade para se desenvolverem”,
destaca Martins.
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Pedaço de chão
O autônomo João Ramiro*, de 48 anos, chegou há cerca de um ano na comunidade São Francisco. Ele conta que morava no Centro, na cidade de Manacapuru. Porém, ao ouvir sobre a possibilidade de conseguir um pedaço de chão e deixar de pagar aluguel, decidiu encarar o ramal.
“Lembro como se fosse hoje! Peguei um facão, meus quatro filhos e disse para mulher: ‘vamos embora!’. Ela teve coragem, e eu também. Colocamos muito mato abaixo, mas temos onde morar. Mesmo de modo simples, tenho uma pequena plantação de macaxeira. Tudo aqui dentro é difícil, só que a gente precisa”,
explica.
Porém, com o tempo, o próprio autônomo – que afirma ser, agora, um “homem que vive da terra” – percebeu que os impactos pela devastação da área podem gerar sérias consequências.
“Chega ao ponto que não dá mais para pegar um facão e sair derrubando tudo. A mata está para acabar e chegar no lago. Vivo do que eu planto, mas se a água for contaminada, vamos cozinhar e plantar com o que?”,
avalia João*.
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Alerta
Casos como este acendem o alerta sobre o crescimento das áreas devastadas na Amazônia. Dados do sistema Deter, do instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados recentemente, apontam que o desmatamento da maior floresta tropical do planeta segue sem controle.
De 1º a 28 de fevereiro, um total de 199 km² de áreas foram desmatadas. Isso representa um aumento de 62% em relação ao mesmo mês de 2021. Os alertas para o avanço de desmatamento se concentram principalmente nos estados de Mato Grosso, Pará e Amazonas.
“Os dois primeiros meses deste ano tiveram áreas recordes da série histórica. No acumulado, já são 629 km², mais do que o triplo do que foi observado no ano passado, 206 km² desmatados. Isso tudo em um período no qual o desmatamento costuma ser mais baixo por conta do período chuvoso na região. Este aumento absurdo demonstra os resultados da falta de uma política de combate ao desmatamento e dos crimes ambientais na Amazônia, impulsionados pelo atual governo. A destruição não para”,
afirma o porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, Rômulo Batista.
*Nome alterado a pedido do entrevistado
*Com colaboração do Greenpeace (Dados Deter)
Acompanhe a live com o repórter Carlos Araújo:
Edição: Leonardo Sena
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