O ativista brasileiro Thiago Ávila retornou ao Brasil na manhã desta sexta-feira (13), após ser deportado por Israel. Ele foi detido no veleiro Madleen, que integrava a Coalizão Flotilha da Liberdade (FFC) e levava ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A embarcação foi interceptada por forças israelenses no Mar Mediterrâneo no último domingo.
Thiago desembarcou por volta das 7h no Aeroporto Internacional de Guarulhos, após pousar às 5h40. No local, foi recebido por sua esposa, Lara Souza, e pela filha. Cerca de 40 manifestantes pró-Palestina também estavam presentes, com cartazes pedindo boicote a Israel, críticas ao premiê Benjamin Netanyahu e cantos exigindo que o presidente Lula (PT) rompa relações com o governo israelense.
Antes de desembarcar no Brasil, Thiago Ávila fez uma escala em Madri, na Espanha. Ao conversar com jornalistas no aeroporto, ele rejeitou ser chamado de “herói”, título que alguns apoiadores gritavam. Thiago afirmou que participou da missão como aliado do povo palestino e classificou o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu como “o maior inimigo do mundo” atualmente.
“A gente tentou o máximo que a gente pôde levar nossa missão humanitária e a gente foi impedido por um Estado racista, supremacista, que há oito décadas realiza limpeza étnica. Não tem nada a ver com religião, tem a ver com ideologia, o sinismo. E esse sionismo precisa ser enfrentado. Inspirado pelo povo palestino a gente faz um monte de coisa, mas é a esse povo que a gente deve homenagem, porque o palestino mostrou para o mundo o sistema que oprime. Eles (Israel) podem atacar qualquer país vizinho, eles podem atacar a flotilha”, disse.
Críticas
Ávila criticou ainda o embaixador de Israel no Brasil e disse que o país “deveria ter rompido relações com essa ideologia odiosa”.
“Os palestinos amam os brasileiros, gente. Espero que a gente consiga honrar isso, que sejamos um país que não é cúmplice, que não exporte petróleo para lá. Eu tenho certeza que no coração de cada brasileiro está a convicção de que é errado bombardear hospitais, crianças. Precisamos deter esse regime odioso”, falou.
Em sua fala, ele denunciou ataques de Israel, a prisão de palestinos e criticou o “sionismo de Israel” e o apoio dos Estados Unidos à guerra contra Gaza.
“Por conta dessa ocupação, coloca crianças em prisão administrativa. O mundo felizmente acordou pro horror que é o sionismo e agora a gente precisa encontrar algum jeito, o que é que o mundo vai fazer para deter esse horror? A história não é a flotilha, não é o Thiago, se há alguma coisa a dizer de heróis, são palestinos e palestinas que estão sobrevivendo há um ano e nove a um horror”, acrescentou.
O ativista disse que enfrentou uma “pressão” para assinar uma declaração de que entrou ilegalmente em Israel e que as autoridades do país sequestraram os integrantes da flotilha. Depois, contou, ele foi detido.
“Eles não gostaram do fato de que eu recusei qualquer comida ou água deles, eles ameaçaram me colocar no isolamento total, eu mantive a minha decisão e fui levado para lá, foram dois dias lá dentro. Sofri um processo de violência, mas não quero falar muito sobre isso porque nada se compara com o que cada palestino passa lá. É importante que a gente denuncie qualquer violação que acontece com qualquer aliado, mas a gente está lá pelo povo palestino”, detalhou.
Nesta quinta, o Ministério de Relações Exteriores de Israel publicou no X que Thiago e mais cinco passageiros de “iate das selfies” estavam saindo de Israel. “Adeus — e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partir”, escreveu o ministério. O barco foi detido pela Marinha Israelense em águas internacionais do Mar Mediterrâneo a mais de 100 quilômetros de distância de Gaza.
O barco “Madleen”, com bandeira britânica, operado pela FFC, partiu da Sicília em 6 de junho e esperava chegar a Gaza no final do dia do último domingo, quando ocorreu a interceptação. Entre os passageiros do barco, além de Greta e do brasileiro, estava a deputada francesa do Parlamento Europeu, Rima Hassan.
Além do brasileiro, foram deportados Mark van Rennes (Holanda), Suayb Ordu (Turquia), Yasemin Acar (Alemanha), Reva Viard (França) e Rima Hassan (França). No entanto, dois ativistas franceses, Pascal Maurieras e Yanis Mhamdi, seguem detidos na Prisão de Givon, com deportação prevista para esta sexta-feira.
Ávila não foi deportado imediatamente, como a ativista sueca Greta Thunberg — deportada na última terça-feira —, por ter se negado a assinar um documento que reconheceria que cometeu um “crime ao tentar entrar em Israel sem autorização”. Com isso, o brasileiro foi levado para a solitária de um centro de detenção, em uma cela escura e sem refrigeração, o que levou ele a anunciar uma greve de fome. Além disso, Israel ameaçou deixá-lo na solitária por sete dias sem contato com a defesa.
A mulher do brasileiro foi recebida na última segunda-feira pela Secretária-Geral do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Maria Laura da Rocha. Segundo o Itamaraty, durante a reunião, “a Secretária-Geral reafirmou o compromisso nacional com o Estado da Palestina, reconhecido pelo Brasil em 2010, e sublinhou a importância da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA), cuja Comissão Consultiva será presidida pelo Brasil a partir de 1°’de julho”.
(*) Com informações do InfoMoney
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