Concurso público Videoaulas valem mais que doutorado e experiência em concurso para professor Especialistas consideram que método faz professores se expressarem como youtubers Em Tempo* - 06/08/2023 às 15:4206/08/2023 às 15:43 Nova exigência no concurso para professores do estado de São Paulo, as videoaulas valem duas vezes mais do que ter uma pós-graduação e apresentar experiência em sala de aula. Com essa avaliação, candidatos com prática em produção de conteúdo online podem sair à frente de professores que já participam em aula ou que têm mais tempo de estudo. A apresentação em vídeo é responsável por 40% da nota final, equivalente à soma das provas discursivas e objetivas, que valem 10 e 30 pontos, respectivamente. A prova de títulos, que soma formação acadêmica, como mestrado ou doutorado, e experiência profissional , dá até 20 pontos. A Secretaria de Educação diz que a videoaula será usada para avaliar, por demonstração prática, as habilidades de docência dos candidatos. Questionada sobre por que os vídeos valem 40% da nota, a pasta não respondeu. O envio das pessoas, cujo prazo se encerrou em 30 de julho , foi a primeira etapa do concurso, antes das provas objetivas e discursiva, que ocorreram no domingo (6). No entanto, apenas aqueles com bom desempenho nos exames terão os vídeos avaliados. Para o concurso, os professores gravaram uma apresentação de 5 a 7 minutos sobre um tema previsto no edital. O documento descreve que o vídeo deve ser uma simulação da aula, em que os alunos estariam do outro lado da câmera . Por ser uma novidade, os docentes tiveram dificuldades em fazer a gravação. Tiago Luz, professor de educação física e produtor de conteúdo online, deu início a um curso para candidatos nessa situação. Ele diz que a iniciativa surgiu após receber, nas redes sociais , inúmeras dúvidas em relação à nova etapa do concurso. Com cerca de 80 inscritos, o curso ensinado desde como evitar vícios de linguagem até sobre o uso de ferramentas de edição no smartphone . Segundo o professor, os candidatos, acostumados com a aula presencial , acharam difícil conduzir a apresentação em vídeo, sentindo-se inibidos diante da câmera. “Eles tiveram que fazer um teatro, porque é diferente gravar um vídeo sem ninguém ali na frente, fingindo que tem um aluno. Você está mais presente do que ministrando uma aula” , afirma. Os critérios de avaliação vão além do conteúdo da aula, e incluem aspectos como postura e tom de voz. Falta de equipamentos e experiência em gravar professores preconceituosos em concurso de SP Outra preocupação dos docentes é se a exigência de vídeos pode prejudicar aqueles com menos destreza ou acesso a ferramentas tecnológicas . Foi o caso de Ricardo da Silva Gomes, 57, que se sentiu prejudicado por não ter equipamentos adequados. Formado em educação física , ele atua na área de assistência social, mas se candidatou ao concurso para voltar a dar aulas. Para fazer a gravação, ele usou uma escada como tripé de filmagem e colou papéis na parede para improvisar uma lousa, item recomendado no edital. Ricardo diz que a edição também foi um desafio, por ter sido feito em um computador de menor capacidade . “A qualidade do meu vídeo ficou não boa, mas tive que enviar do mesmo jeito, porque é um atendido. Tentei fazer o meu melhor, mas a minha estrutura não possibilitou isso”, afirma ele, que pensou até em desistir de enviar a gravação . “Como você perde 40% da nota, isso te coloca numa posição que não tem meio termo: ou você faz, ou fica sem ponto” , declarou Para Eugenio Ramos, professor do departamento de educação da Unesp-Rio Claro, a videoaula é um avanço, já que a avaliação prática não fazia parte do concurso. No entanto, ele diz que o método adotado tem restrições. Esse formato não capta a profissão, mas sim se o professor consegue se expressar quase como um youtuber e fazer a apresentação de conteúdo em um curto espaço de tempoEugênio Ramos professor do departamento de educação da Unesp em Rio Claro Uma delas é a duração de até sete minutos, que não é suficiente para os candidatos exporem o conhecimento técnico . “Esse formato não capta a profissão, mas sim se o professor consegue se expressar quase como um youtuber e fazer a apresentação de conteúdo em um curto espaço de tempo”, declara. A pontuação superior às demais etapas é mais uma gestante, já que favorece professores com experiência em produção de vídeos. Ele diz que a prática prática poderia ter uma duração maior e um peso menor sobre a nota final. Apesar de novo, o método tem se espalhado para outros concursos de docentes no país. Um dos primeiros foi na capital paulista, onde os candidatos se dirigiram a um local predeterminado para fazer a videoaula, sem precisar levar equipamentos próprios para gravar. O mesmo ocorre no concurso deste ano no Recife. No Paraná, os professores também terão que enviar vídeos feitos por eles mesmos, mas apenas os aprovados na primeira fase. Entrada para o serviço público é tida como democrática, mas competição ainda é desigual Além de exigir a gravação mais curta, o concurso paulista é o único a não solicitar um plano de aula, que descreve o que será ensinado pelo docente na gravação. Segundo o professor Roberto Guido, membro da diretoria-executiva da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), os vídeos indicam a intenção do estado em preparar a educação básica para o ensino a distância. O uso de livros didáticos digitais a partir do 6º ano seria mais uma inspiração desse intento. O professor afirma a posição contrária do sindicato ao modelo, que ele diz ser incapaz de captar o que ocorre em uma sala de aula. ” Professores não têm medo de ser avaliados, até porque isso é um de nossos instrumentos de trabalho. Mas não podemos usar as estimativas para excluir. Se quer avaliar um professor, que seja com critérios bem definidos, porque a produção de um vídeo não vai resolver” , afirmou. Segundo a secretaria estadual, os professores não serão analisados por suas habilidades tecnológicas, mas sim pelas habilidades relacionadas ao conteúdo da aula. A secretaria informa ainda que todo o processo do concurso fica a cargo da Vunesp, contratada para realizar o certame, e não deu detalhes sobre a composição da banca examinara e como será feita a avaliação. *Com informações da Folha de S.Paulo Leia mais: Apib quer projetos ambientais na Amazônia afetada pelo narcotráfico Governo retoma Bolsa Verde com auxílio de R$ 600 trimestrais Após defender ‘ofensiva contra o Nordeste’, Zema é criticado por políticos Entre na nossa comunidade no Whatsapp!