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Jovens nas eleições

Em Manaus, pré-candidatos jovens buscam espaço entre os vereadores mais velhos do Brasil

Câmara Municipal de Manaus tem a média de vereadores mais velha do que a média nacional

MANAUS PLENARIO ADRIANO JORGE, CAMARA MUNICIPAL DE MANAUS FOTO: ROBERVALDO ROCHA / CMM

Manaus (AM) – A Câmara Municipal de Manaus (CMM) tem a média de vereadores mais velha do que a média nacional, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em contrapartida, nas eleições deste ano, jovens tentam candidatura, com novas propostas e buscando trazer diversidade para a casa legislativa municipal. 

A idade média dos vereadores de Manaus é de 49 anos. Embora a participação de jovens nas eleições tenha aumentado significativamente entre os anos de 2018 e 2022, as estatísticas de filiadas e filiados a partidos políticos brasileiros revelam que apenas 1% das eleitoras e dos eleitores jovens até 24 anos integra agremiações partidárias. Além disso, em 2023, um ano após as Eleições Gerais de 2022, houve uma queda de 14% no quantitativo de filiações entre o eleitorado de 16 a 24 anos.

“O interesse dos jovens pela política é muito antigo e talvez em épocas um pouco não tão distante, tenha sido até maior. A representatividade política continua carente, são poucas as pessoas com menos de vinte e cinco anos, ou menos de trinta assumindo cargos públicos. A foto preponderante dos parlamentos no Brasil afora é um homem com mais de 30 anos e branco”,

afirmou o cientista político Helso Ribeiro. 

Disponíveis na página de estatísticas eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dados de filiação partidária atualizados até outubro de 2023 também mostram que a presença de mulheres nas legendas é bastante inferior ao esperado para o gênero, que representa 53% do eleitorado nacional. Hoje, pelo menos 82 milhões de mulheres constam do cadastro da Justiça Eleitoral. Entretanto, nos partidos, elas correspondem a menos da metade dos filiados: somente 46% (7,3 milhões).

“É de fundamental importância a candidatura de jovens, porque nos parlamentos que serão decididos políticas que interessam a jovens, políticas culturais, esportes e de primeiro emprego. Uma série de situações, sempre os jovens foram preteridos. Então acredito que é bem interessante que pessoas mais novas se interessem ou continuem se interessando pela política”,

disse Helso Ribeiro. 

Vereadores mais velhos 

Entre os 41 parlamentares da CMM, a idade média dos vereadores de Manaus é de 49 anos. Manaus está acima da média nacional, que, segundo dados do TSE, 44 anos é a idade média dos vereadores no território nacional.

Atualmente, o Legislativo da capital amazonense conta com apenas três vereadores na casa dos 30 anos; 24 parlamentares na casa dos 40 anos, incluindo o atual presidente Caio André; 6 na casa dos 50 anos e 8 vereadores acima dos 60 anos.

O vereador eleito Professor Samuel Monteiro (PL) é o parlamentar mais velho da Casa, com 65 anos.

Professor Samuel Monteiro é o vereador mais velho na CMM Foto: Divulgação

Quanto ao parlamentar mais novo, atualmente, o posto ficou para a vereadora Thaysa Lippy (Progressistas), que possui 31 anos. Porém, ela figura nessa posição porque Amom Mandel (Cidadania), que foi eleito com 19 anos, deixou a CMM para assumir como deputado federal em 2023.

As eleições de 2020 trouxeram à Câmara uma taxa de renovação de 48%, visto que dos 41, 20 são vereadores de primeiro mandato.

Atualmente, dois vereadores estão no 6º mandato, são eles: Glória Carratte (PL), 62 anos, e Gilmar Nascimento (Avante), 61 anos. Porém, a decana da CMM é Carratte, pois tem mais tempo de casa, já que Gilmar Nascimento assumiu como suplente em 2023.

Roberto Sabino (Podemos), com 65 anos, e Marcel Alexandre (Avante), com 60 anos, estão no 4º mandado.

Já na lista dos que estão no 3º mandato, Jaildo Oliveira (PCdoB) e David Reis (Avante) são os mais novos com 46 anos; Marcelo Serafim (PSB), tem 47; Mitoso (MDB), possui 62; Rosivaldo Cordovil (PSDB) tem 50; Professora Jacqueline (UB) tem 60 e o mais experiente da casa, com 65 anos, é Samuel Monteiro (PL).

Dez vereadores estão em seu segundo mandado, são eles: Diego Afonso (UB) com 40 anos; Bessa (Solidariedade) com 50; Everton Assis (UB) com 49; Fransuá (PV) com 48; Joelson Silva (Patritora) com 49 anos; Raulzinho (PSDB) com 50; Alonso Oliveira (Avante) com 62; Bual (PMN) com 47; Wallace Oliveira (DC) com 63 e Sassá da Construção Civil (PT) com 48 anos.

Pré-candidato jovem

Nessa perspectiva, com apenas 20 anos, o pré-candidato a Câmara pelo Cidadania, João Arce, mesmo partido do atual pré-candidato à Prefeitura de Manaus, Amom Mandel, de 23 anos, luta por um espaço em um cenário já consolidado. 

“É importante motivar a juventude, e a candidatura de pessoas como eu e o Amom podem servir de exemplo. Por mais que seja difícil, sangue novo pode ser inserido na vida pública, e nessa eleição, caso uma pessoa com minha idade entre na máquina pública, fica mais fácil que outros jovens ingressassem na próxima eleição, e, na seguinte, ainda mais, assim, criando um loop positivo de renovação na política.”

Sonho de criança

O estudante de direito, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), natural de Manaus, aos 13 anos começou a se interessar por política e a acompanhar assiduamente o tema.

“Pelo fato de Manaus ter vários vereadores de faixa etária elevada, cria-se uma elite carreirista, desconectada do mundo real, acomodada, sem vontade de enfrentar os problemas da cidade. É importante incentivar a juventude a se engajar na política, pois geralmente são eles que têm a energia física e mental para arriscar, criar e inovar.”

Como projetos, o pré-candidato tem como proposta, combater a pobreza na cidade de Manaus, investir em políticas públicas que impulsionam o empreendedorismo e na utilização da tecnologia para melhorar os sistemas públicos. 

“Manaus tem incontáveis problemas, principalmente a pobreza. Acredito que promover a prosperidade é a coisa mais importante para combater a pobreza, o que pode ser feito com políticas públicas que impulsionam o empreendedorismo e a criação de um bom ambiente de negócios em Manaus, com a diminuição da carga tributária,  no caso do município,  o ISS e o IPTU, a simplificação da burocracia que dificulta a vida de todos. Como está, tentar abrir qualquer negócio nessa cidade é um desafio, na maioria devido à absurda lentidão da administração pública”,

destaca o candidato. 

“Também acredito na utilização da tecnologia para melhorar os sistemas públicos. A burocracia poderia ser muito menor, sem precisar cortar programas sociais se os processos de emissões de documentos pudessem ser feitos de forma digital em um sistema unificado, ao invés de ter que gastar tempo e papel em processos analógicos”, completou. 

Vereador mais jovem eleito

Amom Mandel foi o candidato mais jovem a ser eleito como vereador em Manaus, nas eleições municipais de 2020, com apenas 19 anos, com mais de 7,5 mil votos.

Na época que foi eleito, Amom contou que estudou a vida toda em escolas particulares e que desde os 12 anos participa de ações políticas, mas foi em 2020 que se filiou pela primeira vez a um partido, pelo qual foi eleito.

Amom disse que decidiu se candidatar às eleições por sentir falta de representatividade em pautas da juventude.

“Até então não estávamos sendo representados. Não falo em idade. A idade é apenas um número. O fato de não ter outro vereador jovem na Câmara não diz tanto, mas nenhum dos vereadores abordavam tanto as pautas da juventude. Identificando essa pauta, sugeri meu nome”,

comentou.

O cientista político analisa a candidatura do Amom como uma boa representatividade, mas algo difícil de ocorrer novamente.

“No parlamento ele teve um uma participação importante, veio com essa ideia de uma nova política, de não usar recursos públicos, a postura e o discurso dele agradou. Ele soube mexer muito bem com as redes sociais e dois anos após a primeira eleição, ou seja, dois anos atrás, ele teve uma avalanche de votos digno de estudos”, afirmou Helso Ribeiro.

“Eu penso que essa ideia de que ele soube mexer com as redes sociais e teve essa avalanche de votos serviu para estimular alguns, mas isso é enganoso do ponto de vista deu certo com ele, vai dar certo comigo”,

argumenta.

“O Amom vem de uma família com tentáculos e estruturas bem montadas e soube se servir disso. A postura dele fez com que se procurasse o novo, o diferente, e ele teve a avalanche de votos, mas acredito que algo semelhante a  isso será difícil de ocorrer e acima de tudo não é corriqueiro. A votação dele serve para que novos jovens se interessem pela política, ele abriu perspectiva perspectivas para os jovens.”

Representatividade na CMM

Professor da rede pública e educador comunitário em saúde e mestrando em Letras, Gabriel Mota (Rede Sustentabilidade), de 30 anos, é pré-candidato a vereador na CMM. Ele é morador de Manaus e fundador da “Casa Miga”, único abrigo que acolhe LGBT+ em vulnerabilidade na região Norte do país.

Segundo Gabriel, pré-candidaturas LGBT+ são importantes por uma questão de democracia. “É importante ter pré-candidaturas LGBT+ por uma questão de democracia. Sem diversidade, uma câmara municipal está fadada a ser um local de opressões e intolerância. Ressalto também que não basta apenas querer levantar uma bandeira e lutar apenas por essa bandeira. É preciso se colocar à disposição e está preparado para isso, porque política não se faz com ‘oba oba’, mas com trabalho e responsabilidade”, comenta.

Entre as propostas, o pré-candidato levanta as bandeiras da educação, saúde, sustentabilidade e direito a cidade, não apenas a causa LGBTQIA+ e continua em momento de construir e apresentar as propostas para todas as pessoas de Manaus. “Em geral, estou no momento de pensar propostas e convido toda a população LGBT construir propostas para Manaus e para todas as pessoas de Manaus.”

“Todas as propostas que irei apresentar na campanha, que começa a partir de 16 de agosto, estarão atravessando os campos da educação, saúde, sustentabilidade e direito a cidade. Pretendo ser um interlocutor dos educadores de Manaus na Câmara Municipal e fiscalizar o SUS na atenção básica para que todas as pessoas tenham acesso igualitário com suas situações. Em relação à pauta LGBT+, ela estará presente em todas as áreas que pretendo atuar, sou fundador da ‘Casa Miga’, único abrigo LGBT da região Norte e gostaria de ajudar a fazer essa iniciativa crescer e atender mais públicos, como mães solo, pessoas com deficiência e idosos (não para abrigo, mas para projetos paralelos que rodem com a equipe da casa)”,

afirmou o pré-candidato.

Ativista não binária

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) oficializou, em maio, a pré-candidatura de Álex Sousa, ativista não binária que disputará uma vaga na CMM. Sendo a primeira pessoa com a identidade de gênero indicada, ela é ativista e defende os direitos de trabalhadores, LGBTQIAPN+, jovens, indígenas, negros/es/as e todos os que são empurrados a marginalidade social.

A ativista contou que, apesar de estar inserida na comunidade LGBTQIAPN+, ela levará adiante os problemas diários que Manaus enfrenta, principalmente a população mais carente.

“Sou um corpo LGBTQIAPN, um corpo transsexual, mas acima de tudo sou manauara, da Zona Norte, de periferia. Eu pretendo romper as expectativas que as pessoas tem de corpos LGBTQIAPN+ na política. Isso significa que não levantarei as bandeiras da minha comunidade? Não. Mas significa que como cidadã manauara, sou capaz, sim, de falar de saúde, de educação, de combate a fome, de infraestrutura que falta nas periferias de Manaus, de falta de investimento na cultura sem que fique preso na Zona Sul da cidade, falar de segurança pública e como tirar as nossas crianças e jovens do mundo obscuro do tráfico sem cair na falsa ideia que ‘punitivismo’ é a solução. Todo vereador que se preze, precisa saber um pouco de tudo, e comigo não será diferente”,

destaca.

Para Álex Souza, falta representatividade e renovação na Câmara Municipal de Manaus. A candidatura é uma alternativa de chamar atenção para a luta de classes e encorajar novos rostos a mudar a história da política local.

“Sempre notei que a nossa Câmara Municipal tem baixa produção de políticas públicas efetivas, e sempre é uma troca de cadeiras com as mesmas pessoas, falta jovem, falta LGBTs, falta gente da periferia. A falta de representatividade me leva a querer disputar este espaço. Manaus precisa passar por uma transformação e, colocando gente como a gente, isso será possível. Acredito que minha pré-candidatura enquanto uma pessoa trans não-binária querendo ou não vai chamar atenção. Quando um corpo LGBTQIAPN+ anuncia que estará no pleito, o que se espera é que aquela pessoa fique limitada apenas as pautas LGBT. Quero justamente quero quebrar esta perspectiva”, revelou a pré-candidata.

A pesquisadora Kely Guimarães aponta que candidatos LGBTQIA+ podem transformar o cenário social com boas propostas, principalmente na área da saúde, emprego e condições de cidadania reais.

“As pessoas conservadoras precisam entender que a população LGBTQIA+ existe e tem demandas específicas que só quem é sabe e sente de perto. Não é uma questão de ser melhor ou pior.  Quando se trata de cidadania, todos nós temos o direito de ser livre para amar e viver como acharmos melhor, a constituição brasileira assegura tais direitos e isso não deveria ser tão difícil de entender.”

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