Manaus (AM)- Há um ano, no dia 6 de fevereiro de 2021, os amazonenses receberam a notícia de que um dos grandes ícones e representantes da cultura amazônica, Zezinho Corrêa, morria aos 69 anos, em decorrência a complicações por conta da Covid-19.
Conhecido por ter humildade e simpatia, Zezinho foi um dos artistas amazonenses que o povo tinha orgulho de dizer que era da terra. O artista, junto com a banda Carrapicho, levou o boi-bumbá para o mundo, com a composição de Braulino Lima, “Tic Tic Tac”, nos anos 90.
A explosão do hit foi tamanha, que a música era sucesso em qualquer lugar. O ritmo e dança contagiava a todos.
Apesar do fenômeno, o talento e o legado artístico de Zezinho vai muito além do hit dos anos 90. Com a banda Carrapicho, inicialmente, o forró era o foco da equipe. Em seguida, o grupo decidiu investir nas toadas.
O sucesso mundial do grupo nunca subiu à cabeça do artista. Pelo contrário, ele sempre manteve as suas origens e continuou falando sobre a Amazônia em seus trabalhos.
Zezinho é filho da terra e sabe das dificuldades que artistas do Norte enfrentam para ter um reconhecimento fora da região. O artista usou do seu legado, até o fim, para disseminar a cultura Amazônica para o mundo.
A vida de Zezinho Corrêa
Nascido em Carauari, interior do Amazonas, Zezinho nunca imaginou que se tornaria o fenômeno da música local. O sonho do amazonense não era ser cantor, e sim, ator.
O artista foi atrás do sonho de atuar no Rio de Janeiro e fez curso de teatro na Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ). Na grade curricular, canto era uma das matérias favoritas do artista e foi ali que Zezinho se encontrou.
Zezinho conheceu Roberto Bezerra no curso e os dois fundaram a banda Carrapicho. Ali nascia um dos grandes grupos musicais da Amazônia.
Com pouco tempo, o Carrapicho deixara o forró de lado para abraçar as toadas e as produções locais. Ao ouvir Braulino Lima cantando “Tic Tic Tac” em um programa de TV, Zezinho Corrêa viu como uma luz e com a banda, regravou a toada, inserindo um novo arranjo e uma nova interpretação.
As mudanças fizeram a música ganhar ainda mais vida e chamaram a atenção de Patrick Bruel, um produtor francês renomado que estava em Itacoatiara. Ele ouviu a canção tocar na rádio e se encantou com o ritmo.
O produtor decidiu levar o grupo para se apresentar na França, e ali começava o estouro internacional da banda amazonense, projetando para o mundo as produções da região amazônica.
Após “Tic Tic Tac”, o grupo lançou sucessos como “Canto Envolvente” e “Festa de Boi”, para em seguida, fazer uma longa pausa entre 2002 e 2007. Após o hiato, Zezinho retomou os trabalhos musicais como líder da banda.
Durante a quarentena, o artista mostrou a rotina e fez uma live relembrando os maiores sucessos da banda que inspiraram tantas pessoas com versos envolventes.
Apesar dos cuidados, Zezinho foi infectado pela Covid-19, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por pouco mais de um mês e partiu no dia 6 de fevereiro. A morte precoce do cantor comoveu os fãs e artistas locais.
Eternamente Zezinho
Quem convivia com Zezinho faz questão de destacar o quanto ele era uma pessoa incrível. O artista nunca deixou se deslumbrar pelo sucesso que fez. Ele sempre passava adiante o conhecimento.
A cantora Márcia Novo cresceu ouvindo os sucessos do Carrapicho. Pela memória afetiva e riqueza das produções, o som influenciou no seu trabalho.
“O Carrapicho me influenciou muito porque é um som que é a nossa cara, tanto no forró, quanto no Boi-bumbá. O orgulho que o Zezinho tinha de levantar o nosso som do Amazonas é uma coisa que me inspirou muito como artista”, declarou Márcia.
Márcia como uma grande fã da banda, teve a sorte de conviver com os músicos do grupo e de admirar de perto o talento que era Zezinho Corrêa. Em sua convivência, a artista destaca a simplicidade e a generosidade do cantor.
A cantora amazonense ainda destacou que a energia que ele tinha, era algo diferente, uma coisa boa e que ele passava para as pessoas que estavam em volta dele.
“Ele ganhou o mundo com a música dele e ele poderia se deslumbrar com isso. Zezinho sempre teve o pé no chão e tinha muita atenção com todos que estavam ao redor dele. Isso é muito bacana. Essa humildade, o carisma que ele tinha”, explicou.
Um dos fundadores e integrante da banda Carrapicho, Edson Du Valle, conviveu com Zezinho por 40 anos e afirmou que ele era uma pessoa fácil de conviver.
Du Valle, que atualmente é produtor musical da banda de Forró “Trio Du Valle”, relata que Zezinho era mais do que um colega de trabalho, era uma relação de irmãos.
“Eu convivi mais com o Zezinho, do que com a minha própria família. Trabalhamos por 40 anos juntos. Viajamos para a Europa, passamos cinco anos fora do Norte para shows, era uma convivência maravilhosa. Minha convivência com ele sempre foi de irmão para irmão”, relatou.
A partida de Zezinho deixou saudades, inspirou e continua a inspirar gerações. Márcia destaca que sente saudades do cantor e aproveita para ouvir a herança que o músico deixou e que influenciou tanto em seu trabalho.
“Ele deixou um legado para gente muito bonito, eu particularmente, fui e sou muito inspirada por ele. E é isso que fica. A arte transcende e quando estou com saudades, boto para tocar Carrapicho. Ele era muito especial. Um ano sem Zezinho, mas seremos eternamente Zezinho. Ele está entre nós”, finalizou Márcia.
Reconhecimento e homenagens
Em reconhecimento a contribuição cultural de Zezinho aos amazonenses, a Câmara Municipal de Manaus (CMM) entregou a Medalha de Ouro Cidade de Manaus, como uma homenagem ao cantor aos familiares, em junho de 2021.
Na ocasião, o filho de Zezinho, Olin Corrêa, considerou a honraria ofertada pela Câmara como um carinho dos manauaras.
“Aqui é a Casa do povo, que através de seus representantes, entregam esta homenagem em forma de agradecimento ao ícone da música e da cultura, a quem tive a honra de chamar de pai”.
Já nesta quinta-feira (3), a zona Norte da capital amazonense ganhou um painel de aproximadamente 30 metros de comprimento, em homenagem ao cantor.
Produzido pelos artistas visuais Marcos Vinicius e Alessandro Hipz. O projeto foi contemplado no “Edital Prêmio Manaus Zezinho Corrêa 2021”, da Prefeitura de Manaus, viabilizado por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).
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