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Congresso Nacional

Bancada evangélica se aproxima de Lula

Depois de quatro anos aliados a Jair Bolsonaro, os integrantes da Bancada da Bíblia agora acenam ao governo Lula de olho em questões como a recuperação da economia

Brasília (DF) – Se nos últimos quatro anos os deputados e senadores evangélicos agiram majoritariamente em bloco na defesa do governo de Jair Bolsonaro e de suas pautas conservadoras, agora o grupo começa a dar mostras de que não deve seguir tão unido assim. Pelo menos parte da chamada Bancada da Bíblia, uma das mais influentes do Congresso, já começa a sinalizar que, embora vá se manter firme na chamada pauta de costumes, não vai fazer oposição sistemática ao governo petista. Um dos primeiros sinais de que o coro já não canta tão afinado foi a dificuldade do grupo de definir a liderança da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) para o biênio 2023/2024.

A presidência da frente será alternada a cada seis meses entre os deputados federais Eli Borges (PL-TO), que segue como ferrenho defensor de Bolsonaro, e Silas Câmara (Republicanos-AM), que vem estabelecendo canais de diálogo com o governo Lula.

Sucessor de Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que presidiu a frente no último biênio, Eli Borges, que ficará na liderança do grupo neste primeiro semestre de 2023, prometeu uma relação “respeitosa” com o governo petista, embora deixe nítido que tem grande afinidade ideológica com Bolsonaro. Em suas redes sociais, propagandeia o “legado bolsonarista no Tocantins” e aparece lado a lado com o ex-presidente em posts “contra o aborto” e “em defesa da família”. Para chegar ao comando da Frente, contou com as bênçãos de Valdemar Costa Neto, presidente do seu partido e espécie de CEO informal do Centrão.

Por sua vez, Silas Câmara, importante liderança da Assembleia de Deus do Norte e organizador da Marcha para Jesus no Amazonas, chegou a se reunir com integrantes do governo federal, como o ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, e o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula. O amazonense foi alçado como um dos líderes da bancada evangélica, apesar da resistência de parte do grupo — ele foi processado no Supremo pela prática de rachadinha, confessou a ação criminosa, pagou uma multa e conseguiu o arquivamento da ação.

A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003, e desde então vinha definindo seus líderes de forma consensual. Esta foi a primeira vez em que houve disputa pelo comando do grupo. Uma eleição chegou a ser realizada no início do mês, mas acabou sendo anulada por discrepâncias entre o número de votos e o de eleitores inscritos.

“A gente corrige gays, corrige todo mundo, e faz essa sacanagem aqui dentro?”, protestou o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), pastor da Assembleia de Deus de Madureira. O acordo pela alternância de poder entre Eli Borges e Silas Câmara foi selado na quarta, 8. Dois nomes desistiram da disputa — o próprio Otoni de Paula, que anunciou apoio a Eli Borges, e o senador Carlos Viana (PSD-MG). Bolsonaristas fiéis até outro dia, os dois, cada um à sua maneira, deram um jeito de tentar se desvincular do ex-presidente. Otoni criticou o silêncio de Bolsonaro após as eleições: “me posicionei contrário ao silêncio sepulcral dele”. Por sua vez, Viana, que disputou o governo de Minas Gerais em outubro pelo PL, se disse “traído” e “abandonado” pelo capitão, que apoiou Romeu Zema (Novo).

Segundo Otoni, a frente fará oposição ao governo Lula apenas no que for relacionado à pauta de costumes — “mas não acredito que o presidente vá cometer o erro de enviar esse tipo de pauta, pois o Congresso é conservador”.

Quanto aos demais assuntos, como economia ou meio ambiente, por exemplo, ele aposta que o petista não terá maiores dificuldades com a base evangélica. “Esses temas são negociados diretamente com os partidos, e não com a nossa bancada”, diz. O deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP) também diz não acreditar numa oposição sistemática da Bancada da Bíblia ao governo Lula. “O nosso povo não é um povo da guerra”, afirma.

“Pessoalmente, não acho que seja o momento de fazer oposição; a gente tem que pensar no Brasil. A economia precisa se equilibrar.”

A bancada evangélica teve protagonismo no último governo porque Bolsonaro tinha uma dívida com essa parcela do eleitorado, fundamental para sua eleição em 2018. Dois ministérios foram entregues a pastores — o da Mulher, Família e dos Direitos Humanos ficou com Damares Alves; e o da Educação foi entregue a Milton Ribeiro. No MEC, aliás, um esquema de corrupção resultou na prisão do então ministro e de outros dois pastores, Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura. A dupla falava em nome da pasta e cobrava propina, em dinheiro vivo ou em barras de ouro, em troca da liberação de verbas federais para escolas e creches, especialmente em municípios comandados por prefeitos de partidos do Centrão.

Tradicionalmente, os evangélicos, em especial de denominações pentecostais e neopentecostais, pertencem ao grupo que oferece maior resistência a pautas progressistas, associadas a partidos de esquerda como o PT de Lula — e não foi diferente em 2022. Mas a aproximação de parte significativa da bancada com o governo mostra que o pragmatismo fala mais alto: para se manter em suas posições de poder, parlamentares evangélicos precisam levar benefícios e recursos para seus redutos eleitorais.

*Com informações do Istoé

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