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Devastação Ambiental

Seca causa aumento de preços de insumos básicos no Amazonas

Alimentos básicos e água já estão em falta em municípios do interior do Estado

Manaus (AM) — Desde junho de 2023, sofrendo com as consequências da seca, o Amazonas pode chegar em estágio de devastação ambiental e econômicos por todo território. No interior do Estado, por exemplo, já há falta de insumos básicos, como alimentos e água. Entidades do comércio alertam para aumento de valores e falta de mercadores.

O Presidente da Federação do Comércio do Estado do Amazonas (Fecomércio-AM), Aderson Frota, explicou ao Em Tempo que os baixos níveis dos rios dificultam a chegada e aportagem dos navios na cidade de Manaus. Por consequência, a única alternativa, segundo o presidente, é a alternativa do rodo fluvial vindo de Belém, porque o rodo fluvial, vindo de Porto Velho, não conta com água suficiente para navegar pelo rio Madeira.

“Temos uma série de fatores que, naturalmente, hoje se unem para dificultar a vida do povo de Manaus e, especialmente, do povo do interior. O povo do interior está sem água potável, está com os rios totalmente poluídos e, por consequência, os peixes estão morrendo por falta de oxigênio e isso tudo vai atrapalhando e vai dificultando e aumentando o custo e o preço, repercutindo de forma negativa na vida das pessoas”,

declarou Frota.

“No começo do ano passado, tivemos algum aumento de frete, operações portuárias, combustíveis e uma série de fatores e, este ano, em um quadro muito mais grave deste estágio, vamos ter mais dificuldades, mais operações complexas vindo de portos que vão ter que aportar lá no Pará para facilitar a chegada de balsa até Manaus. Vivenciamos uma situação atípica, porque nunca tivemos o Rio Negro nos últimos 30 anos com um calado tão baixo. E veja bem, que no calendário das subidas e descidas das águas, nós ainda teremos seca até dia 15 de novembro e somente a partir do dia 16 é que teremos realmente a subida das águas”,

completou o presidente da Federação.

Há meses, o Estado sofre com as condições de temperatura do fenômeno tropical El Niño, a faixa de águas quentes na maioria do Oceano Pacífico Equatorial, que, próximo à costa da América do Sul, são superiores a 3 °C. Adicionando esses estados, o Oceano Atlântico Tropical Norte se apresenta com águas mais quentes do que o normal, superando valor da média histórica.

Conforme o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), o El Niño, que prova este aumento de temperatura, somando ao aquecimento do Atlântico Tropical Norte, acima da linha do Equador, não permite a formação de nuvens, interferindo na falta de chuvas na Amazônia.

“A seca está impactando principalmente nos nossos rios, os quais são nossas entradas, dificultando a navegabilidade de barcos e navios. Com isso, um deslocamento que durava de cinco dias, está demorando sete ou oito dias, porque o barco tem que navegar com mais cuidado, devido ao calado, e isso encarece o custo logístico, se você estava pagando um frete de cinco dias, pagará um de oito, isso aumentará o custo, que será adicionado ao preço dos produtos”,

explicou a economista Denise Kassama.

As empresas de navegação associadas a Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (ABAC – Mercosul), Aliança e LogIn, que possuem linhas regulares para atendimento da zona produtora da Amazônia e a comunidade, já começara a sentir os impactos. Esses navios que permitem o escoamento da produção e mantém o abastecimento desta região com insumos básicos para toda a população e para a indústria local.

A falta de chuvas na região Norte e o agravamento da seca, os principais canais de navegação ficam travados na região. Empresas que operam no escoamento e recebimento de produtos, lembram que, além do rio Madeira, a situação atinge os rios Negro e Solimões.

Essa situação foi a qual atingiu o feirante, Ademar Júnior, que trabalha na feira Manaus Moderna e afeta sua produção de forma diferente. O produtor explicou que em situação de produtos regionais, principalmente algumas regiões, tipo Manicoré, onde o rio secou muito, o que dificultou a irrigação, a qual ficou distante e mais difícil, ocasionando na queda da produção, principalmente pela distância para capitação de água.

“Produtos que vêm de Porto Velho a Manaus demoram mais dias, as pessoas que contratam os barcos e faz o frete, aumentam o preçopelo tempo ser mais demorado, a pessoa viaja só durante o dia, menos tempo, então tem um aumento de R$ 5 mil, uma sobretaxa de custo, no caso de frete, porque os meus produtos são todos de fora, não trabalho com produtos regionais”,

afirmou o empreendedor.

“O produto em si, em São Paulo, região produtora nessa época sempre baixou os preços, porque são irrigadas, esses produtos tendem a aumentar assim que aumenta a chuva nessas regiões. Então, no meu caso, é o frete que está onerando mais. Este transporte era feito em 12 dias, passou para 17 dias, e não está tendo mais transporte marítimo, então está sendo terrestre mesmo. Temos a opção de Cuiabá-Santarém, Porto Velho-Manaus está mais complicado. Nessa época até ajuda a BR-319, mas não são todos que querem fazer esse trecho. Então, nesse ano o frete estava 35, foi para 37, 42, e hoje é 50 mil de São Paulo aqui”,

completou Ademar Júnior.

Empresas apontam que a seca poderá impactar em 50% a navegação, 50% do que deveria ser transportado. Em função da segurança, nos piores cenários não será possível pelo rio Amazonas. Em 2022, a redução em média de 40%. Os produtos mais afetados durante essa seca são os de insumos básicos, como alimentos (arroz, congelados e resfriados), cimento, metais, cerâmica, porcelanato e fertilizantes.

“Inicialmente, é importante percebermos, que aqui no estado do Amazonas, dependemos muito de produtos vindos de outros estados, ou seja, o Amazonas deixa a desejar na produção de muitos produtos, principalmente alimentícios, até frango congelado hoje vai para o interior e dependemos de muitos produtos, como óleo, açúcar, café, chapéu de palha, rede, linha de nylon, tudo que o cidadão do interior precisa”,

explicou economista Jefferson Praia.

Jefferson comenta que devido esse problema ocorre a diminuição da oferta, diante dessa diminuição o preço acaba elevando. Ele afirma que o amazonense já está consumindo produtos muito mais caros e que a inflação do Amazonas é muito maior que em outros estados.

“Antes de chegarmos ao período de seca, enchentes, o comércio deve estar preparado para atender aquele período que será o período de seca, aquele período que será o período de enchente. O que estamos vendo faz mais ou menos 20 anos, então, é preocupante a realidade pela qual estamos vivendo. Não estamos agindo como deveríamos agir como cidadãos e as instituições também devem estar, nesse momento, fazendo suas reflexões no sentido de como agiremos daqui para frente, assumindo as nossas responsabilidades, para não sermos cobrados mais adiante por outros que não estão aqui na Amazônia cuidando da Amazônia”,

completou o especialista.

A seca anual que ocorre no estado é um fenômeno natural, mas problemas como o garimpo ilegal, dragagens no rio Madeira e as queimadas ilegais que afetaram o Estado, tornaram a situação insustentável.

No interior do Amazonas, o município de Rio Preto da Eva iniciou seu primeiro programa de racionamento de água. As medidas de contingência entraram em vigor no último dia 10 e estão programadas para se estenderem ao longo de 60 dias.

O município tomou duas principais ações em resposta à situação. Uma delas envolveu o desligamento de todas as bombas de água das 23h às 5h, permitindo assim a recuperação dos níveis dos poços, que se encontravam significativamente abaixo dos níveis recomendados. Além disso, foi estabelecido que haverá multas e a instalação imediata de hidrômetros nas residências de usuários que estejam desperdiçando água.

O Governo do Amazonas, por meio do Comitê de Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental, divulgou boletim com informações atualizadas sobre a estiagem no estado, em sua última atualização havia 50 municípios em emergência, 10 cidades em alerta, nenhum em atenção e 2 em normalidade. Beruri e Manicoré decretaram situação de emergência.

Conforme o boletim, o Amazonas segue com 392 mil pessoas afetadas até o momento, cerca de 97 mil famílias. O Comitê também decretou situação de emergência em 55 municípios do Amazonas afetados pela seca severa que atinge o estado.

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