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Polêmica

Governo Milei publica vídeo em aniversário do golpe militar na Argentina

Vídeo divulgado nas redes sociais foca nos anos anteriores ao golpe militar de 1976 sem mencionar os desaparecidos da última ditadura militar

A Casa Rosada publicou em sua conta oficial no X (antigo Twitter) um vídeo de quase 13 minutos intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça. Completo”.

O vídeo foca nos anos anteriores ao golpe militar de 1976 na Argentina sem mencionar os desaparecidos da última ditadura militar.

O material audiovisual divulgado pelo governo de Javier Milei inclui figuras como o escritor, ex-jornalista e político argentino Juan Bautista “Tata” Yofre, o ex-guerrilheiro Luis Labraña, e María Fernanda Viola, filha do capitão tucumán Humberto Viola, que morreu antes da última ditadura militar.

O vídeo começa com a narração de “Tata” Yofre, que expõe uma citação de um livro do autor tcheco Milan Kundera: “Para liquidar as nações, a primeira coisa que se faz é tirar deles a memória”.

Durante os quase 13 minutos de vídeo, é apresentada a história de María Fernanda Viola e a morte de seu pai e irmã, bem como a versão de Labraña e Yofre de como se chegou a um governo de fato após a presidência de Isabel Martínez de Perón.

Os depoimentos apontam para o arco político, fazem denúncias públicas contra organizações de direitos humanos e o jornalista Juan Bautista Yofre lembra que foi o governo do falecido presidente Néstor Kirchner quem “acabou com tudo”: o perdão do presidente Carlos Menem e as leis de Ponto Final e Obediência Devida de Raúl Alfonsín anos antes.

Num dos momentos mais polêmicos do vídeo, o ex-guerrilheiro Luis Labraña afirma ter inventado o número de 30 mil pessoas desaparecidas, apesar de esse número ter consenso nacional e internacional e ter sido construído com base em relatórios de organizações de direitos humanos.

Por exemplo, em 1984, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas registrou pelo menos 8.961 pessoas desaparecidas em uma lista que chamou de parcial, e em 2006 o Arquivo de Segurança Nacional da Universidade de Georgetown divulgou um documento preparado pela inteligência militar argentina, em julho de 1978, no qual eles reconheceram que havia pelo menos 22 mil mortos ou desaparecidos.

O número não é indiscutível, já que ainda está em construção, uma vez que o número exato de mortos e desaparecidos na última ditadura na Argentina nunca foi conhecido com certeza.

O polêmico vídeo foi publicado horas depois de uma nova marcha na Praça de Maio, no dia 24 de março, na qual organizações de direitos humanos, associações civis, políticos e diversos setores da cidadania comemoram o “Dia da Memória, da Verdade e da Justiça” e relembraram as vítimas da repressão da última ditadura militar na Argentina.

Em declarações à imprensa durante o protesto, a presidente da associação Abuelas de Plaza de Mayo, Estela Carlotto, criticou o vídeo e afirmou: “Diante de um governo que nos ofende, tanto o presidente como o vice-presidente, o povo é mais claro do que nunca sobre todos os jovens, sem violência e sem ouvir provocações”.

Em sua conta pessoal no X, Javier Milei republicou o vídeo acompanhado da frase “para uma memória completa para que haja verdade e justiça”.

Horas antes, sua vice-presidente, Victoria Villarruel, havia compartilhado outro material que acompanhava com a legenda: “Os Direitos Humanos são para todos. Memória também. Verdade, Justiça e Reparação para as vítimas do terrorismo. Os responsáveis ​​por estes crimes não podem ficar impunes”.

A ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, também se manifestou nesse sentido: “Eles construíram uma história sobre a tragédia de acordo com os seus interesses ideológicos, independentemente das vítimas e da profundidade das feridas. A mudança também vem do reconhecimento de que uma meia verdade não é a verdade”

No final do vídeo, Yofre faz uma reflexão e convoca os argentinos a se reunirem novamente no dia 25 de maio e “olharem para frente”.

Essa foi a data que Javier Milei escolheu para convocar os governadores para assinarem o chamado “Pacto de Maio” em Córdoba.

Recordemos que María Estela Martínez de Perón foi destituída pelas Forças Armadas em 24 de março de 1976, dando lugar a uma das etapas mais sombrias da história do país.

Durante este período, que durou até Dezembro de 1983, a Junta Militar suspendeu a Constituição Nacional e foram perpetrados múltiplos crimes contra a humanidade, como o desaparecimento forçado de milhares de pessoas, assassinatos, sequestros e torturas.

*Com informações da CNN Brasil

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