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Preocupação

Altas temperaturas castigam capitais menos arborizadas

Brasil enfrenta sua terceira maior onda de calor desde o início de 2025, segundo o Inmet

Foto: Secom

O Brasil enfrenta sua terceira onda de calor desde o início de 2025, informou o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No Rio de Janeiro, onde a sensação térmica ultrapassou os 40 ºC, há um déficit de cerca de um milhão de árvores, segundo a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. Esse problema, no entanto, não é exclusivo da capital carioca, já que Manaus e Belém também enfrentam desafios semelhantes.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que Manaus é a terceira capital com menor presença de árvores no país, com apenas 23,90% de sua área arborizada. Essa realidade reflete nas altas temperaturas registradas na cidade, que chegou aos 39 ºC em 2024. Um levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) revelou que Manaus perdeu 29 km² de floresta nativa entre 2013 e 2023, devido à expansão populacional desordenada.

“Manaus tem crescido muito rapidamente e de forma desordenada, com bairros que nasceram sem planejamento e, em geral, gerando grande degradação. Além de uma arborização incipiente nas vias públicas da maioria dos bairros, ainda perdemos, ano a ano, as áreas ocupadas por fragmentos florestais que ocorrem nos espaços urbanos, sejam pelo surgimento de novos condomínios e infraestrutura em geral, seja pela invasão e desmatamento dessas áreas”, explicou o ambientalista Carlos Durigan.

COP 30

Foto: CarlosSodre/Agência Para

Assim como Manaus, a capital Belém também enfrenta dificuldades na arborização local. O IBGE informou que a cidade tem o menor percentual de arborização urbana entre 15 cidades brasileiras com mais de um milhão de habitantes.

É válido destacar que Belém sediará, este ano, a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), também conhecida como a “COP da Floresta”. Como estratégia para reverter esse cenário, o município realizou, em janeiro, um ato simbólico para marcar um projeto de arborização local que abrangerá várias áreas da capital.

“Nós precisamos tirar Belém daquele índice que tem um dos menores percentuais de arborização urbana, se comparada a 15 cidades com mais de um milhão de habitantes. Então, nós vamos plantar, nos próximos meses, em média, duas mil mudas por mês, chegando, ao final do ano, com mais 25 mil mudas novas plantadas, podendo até dobrar esse valor, se buscarmos mais parcerias”, afirmou a secretária municipal de Meio Ambiente (Semma), Juliana Nobre, durante a solenidade.

Mesmo situadas na Amazônia, as cidades do Norte estão suscetíveis a sofrer com os impactos das mudanças climáticas ocasionadas pela degradação ambiental.

Ilhas de calor

Foto: henryconceicao

A falta de arborização adequada nas cidades afeta especialmente os bairros mais carentes. Em áreas com presença de vegetação, as temperaturas tendem a ser mais amenas em comparação com as regiões mais desmatadas.

“Estudos diversos comprovam que ruas arborizadas chegam a ter temperaturas bem mais amenas que ruas desprovidas de árvores. Em dias quentes de verão, a temperatura em uma rua sem árvores pode ser mais de 5 graus Celsius superior à de uma rua arborizada. Este quadro remete ao efeito Ilha de Calor, que diz respeito à formação de um clima mais quente em áreas urbanizadas e sem cobertura florestal, onde se formam uma espécie de bolsão de altas temperaturas devido ao aquecimento de extensas superfícies asfálticas e de concreto, como encontramos em grandes cidades como Manaus”, destacou Durigan.

Moradora do bairro Alvorada, na Zona Centro-Oeste de Manaus, a estudante de Odontologia Bárbara Barbosa aproveita parte da arborização no terreno do seu condomínio para amenizar as altas temperaturas registradas durante o verão amazônico.

“Eu tenho muitas árvores, mas, ainda assim, é quente. Não fica um quente ‘seco’, a árvore ainda joga um pouco de umidade. Eu queria que tivesse [árvore] na parte da frente, mas só tem na parte de trás. Na frente, o sol da tarde bate e é horrível”, disse.

Já na Zona Norte de Manaus, a moradora do bairro Cidade Nova, Paloma Tavares, faz o possível para aliviar o calor excessivo, apesar de acreditar que o município deveria proporcionar mais espaços verdes na cidade.

“Na minha casa não é tão quente porque eu tenho uma área grande de gramado e uma árvore, além de plantas que sempre estamos regando. Nos dias mais quentes, não parece ser tão calor, mas, mesmo assim, o calor é sentido. Eu acredito que deveria haver mais cuidado por parte do poder público em criar espaços verdes, plantar mais árvores e investir na arborização da cidade. Afinal, Manaus é a capital da Amazônia. Aqui seria importante ver mais árvores nas ruas para aliviar o calor da população”, destacou a estudante de Direito.

70 graus

Foto: Reprodução/TV Vanguarda

Enquanto a capital amazonense enfrenta, atualmente, o inverno amazônico, parte do país passa por um verão agressivo. Nos últimos dias, circulou uma notícia de que alguns estados brasileiros poderiam registrar uma sensação térmica de 70 ºC devido à terceira onda de calor no Brasil.

A estimativa é baseada na tabela do Grupo de Climatologia Aplicada ao Meio Ambiente da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), que cruza duas informações: temperatura e umidade do ar.

Segundo a projeção, caso os termômetros registrem 41°C e a umidade esteja em 80%, por exemplo, a sensação térmica pode beirar os 70 ºC. No entanto, especialistas destacam que esse cenário é “pouco provável”.

“Para termos uma sensação térmica de 70 ºC, seria necessária a ocorrência concomitante de uma temperatura muito elevada e uma umidade também muito elevada. Isso seria até possível, mas é muito pouco provável que ocorra, segundo as previsões meteorológicas para os próximos dias”, disse o professor da USP e analista de Clima e Meio Ambiente, Pedro Côrtes, em entrevista à CNN.

Manaus Verde

Foto: Henrique Miranda e Taianna Castro / Semmasclima

Em Manaus, a busca por medidas para amenizar o calor já começou. As ações precisam unir forças entre poder público e população, conforme destaca o ambientalista Carlos Durigan.

“Para mudarmos este cenário, a gestão pública precisa colocar em prática o que está preconizado no Plano Diretor do Município e, assim, cuidar melhor das áreas verdes existentes, além de atuar na restauração de áreas degradadas e na arborização das vias públicas”, finalizou o profissional.

Como resposta, a Prefeitura de Manaus, por meio do Programa Municipal de Arborização e Conservação Florestal Manaus Verde, realiza a gestão da arborização pública municipal, com a produção e distribuição de mudas e o plantio de árvores em espaços públicos e áreas degradadas.

Segundo o município, neste ano, a meta é realizar o plantio de 15 mil novas árvores na cidade, em aproximadamente 50 espaços públicos, incluindo áreas onde é possível implantar bosques urbanos. No último dia 7, por exemplo, foram plantadas 300 árvores no Complexo Viário 28 de Março (acesso ao aeroporto pela avenida Torquato Tapajós).

Em 2025, as ações de plantio da prefeitura foram concentradas na Avenida Constantino Nery (150 mudas), Avenida Max Teixeira (500 mudas), Complexo Viário 28 de Março (300 mudas) e Trevo do Rapidão (500 mudas). Os próximos espaços públicos a receberem arborização serão as avenidas Tarumã, na Zona Oeste, e Arquiteto José Henrique Bento Rodrigues, na Zona Norte de Manaus.

Leia mais: Plano de Arborização tenta amenizar altas temperaturas em Manaus

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