Duas grandes estiagens impactaram o Amazonas nos anos de 2023 e 2024. Agora, no início de 2025, as famílias amazonenses enfrentam outro fenômeno extremo: a cheia que avança pelos municípios do estado.
Com 22 cidades em estado de alerta, o Amazonas tem quatro municípios em situação de emergência devido à subida das águas: Guajará (rio Juruá), Boca do Acre (rio Purus), Humaitá e Manicoré (rio Madeira).
O gerente de Hidrologia e Gestão Territorial do Serviço Geológico do Brasil (SGB), André Luis Martinelli, ressaltou os fenômenos recentes na região, que, apesar de opostos, impactam diretamente as comunidades ribeirinhas da Amazônia.
“Vivemos um período de eventos extremos. Após enfrentarmos duas das maiores cheias (em 2021 e 2022), nossa região se deparou com as duas piores secas registradas (em 2023 e 2024). Para este ano, espera-se uma cheia ordinária. No entanto, há uma possibilidade razoável (30%) de que a cota de inundação seja superada, resultando em mais uma grande cheia”, explicou.
Previsão para Manaus
O 1º Alerta de Cheias do Amazonas 2025, do SGB, apontou que, para Manaus, a previsão é que o Rio Negro atinja aproximadamente 28,68 metros, com um intervalo entre 27,93 e 29,43 metros (com 80% de intervalo de confiança).
“De acordo com o primeiro alerta divulgado pelo SGB, existe uma chance muito pequena de que a atual cheia supere a de 2021, menos de 1%. Para ultrapassar a cota de inundação severa de 29 metros, a probabilidade é de 30%”, comentou Jussara Cury, pesquisadora em geociências do SGB.
Medidas preventivas
Mesmo que as chances de uma grande cheia sejam baixas, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) informou ao Em Tempo que intensifica ações preventivas para minimizar os impactos do rigoroso inverno amazônico e da possível cheia do Rio Negro.
“Além das ações estruturantes, a prefeitura realiza o mapeamento preventivo das áreas vulneráveis à subida dos rios, com a implantação de marombas e passarelas de madeira, sempre que necessário, para garantir a mobilidade e a segurança dos moradores. A Seminf destaca a atuação integrada entre as secretarias da prefeitura, como a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) e a Defesa Civil de Manaus, que trabalham coordenadamente para antecipar medidas e minimizar os impactos da cheia e das fortes chuvas na capital”, informou a pasta.
Municípios afetados

A estimativa do SGB é que a cheia impacte mais de 2,3 milhões de pessoas no Amazonas. A preocupação imediata está nos municípios que já declararam estado de emergência.
Em Boca do Acre, a cheia dos rios Acre e Purus atingiu cerca de 1.748 famílias, segundo levantamento da prefeitura. Em 2025, o pico da cheia foi registrado no dia 25 de março, quando o nível do rio chegou a 19,24 metros. Para mitigar os efeitos, a Secretaria de Assistência Social distribuiu alimentos essenciais às famílias afetadas. A UBS Fluvial prestou atendimento médico e odontológico às comunidades ribeirinhas, além de emitir documentos.
Nos últimos dias, com a descida do nível das águas, algumas famílias já conseguiram retornar às suas residências, informou a prefeitura.

Em Guajará, a cota máxima deste ano ocorreu no dia 23 de março, quando o nível do rio chegou a 13,92 metros. Desde então, o rio apresentou pequenas descidas, mas bairros continuam sendo afetados. No final de março, a prefeitura distribuiu 241 cestas básicas para famílias impactadas, principalmente nos bairros Várzea, Igarapé Grande e Ceam. Em abril, foram distribuídos garrafões de água no bairro da Várzea.
Impactos
Em Humaitá, a água invadiu a orla do município e comprometeu o acesso às comunidades rurais. No último dia 27, a prefeitura decretou emergência em saúde pública devido ao aumento dos agravos causados pela rápida elevação no nível do Rio Madeira, que atingiu 23,49 metros.

A estimativa do município é que a inundação do rio Madeira afete 25% da população residente nas comunidades ribeirinhas, cerca de 15 mil pessoas. Como medidas, a Prefeitura de Humaitá destacou a instalação de abrigos temporários, pagamento de aluguel social, distribuição de água potável e cestas básicas, acompanhamento médico constante, equipes de saúde percorrendo as comunidades afetadas, construção de passarelas e elevação do nível das ruas onde não for possível instalar passarelas.
Último município (até a publicação desta matéria) a declarar situação de emergência, Manicoré está a apenas 2,22 metros de alcançar a máxima histórica registrada na cidade. Atualmente, o nível das águas está acima de 26 metros.
Com aproximadamente 4 mil famílias afetadas, a prefeitura realiza um levantamento das necessidades para identificar urgências, como cestas básicas, kits de higiene, lonas e colchões. Também planeja ações futuras, incluindo reconstrução e apoio às famílias que perderam sua produção, com distribuição de mudas e sementes.

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