Tudo começou com uma mensagem simples, enviada com a esperança de quem acredita que comunicação é ponte — e não labirinto. A notificação sumiu, o tique duplo apareceu, mas o azul… o azul nunca veio. E foi ali, às 14h03, que Juliana entrou na espiral do inferno digital.
“Leu e ignorou? Ou é mais um adepto do modo espião?”, ela se perguntou, encarando a tela como se dali fosse saltar uma resposta, um alívio, um sinal de vida. Mas não veio nada. Porque a tecnologia criou a ferramenta, mas quem enlouquece é a gente.
A opção de ocultar o famigerado recibo de leitura — aquele duplo tique azul que separa o amor da indiferença, a formalidade da frieza — parece ter sido idealizada por gênios do caos emocional. Uma versão moderna do Oráculo de Delfos, só que sem enigmas poéticos. Aqui é direto: talvez tenha lido, talvez não, lide com isso.
Ansiedade
Juliana, claro, tentou racionalizar. “Vai ver ele estava ocupado… Ou com problema na conexão… Ou no modo avião… Ou foi atropelado por um hipopótamo.” Mas nenhuma hipótese resolvia a angústia que mora nesse novo tipo de silêncio: o que é permitido, cronometrado, e — o mais cruel — deixado no vácuo por escolha.
O WhatsApp já tentou nos dar controle: permite tirar o azul, tirar o “visto por último”, silenciar conversas, apagar mensagens, arquivar angústias. Só não tirou o que mais incomoda: a expectativa. Porque a verdade é uma só — ninguém está emocionalmente preparado para lidar com o silêncio. Nem o de quem some, nem o de quem espera.
E o que dizer dos que visualizam e não respondem, mesmo com o azul ativado? Esses são uma categoria à parte. Jogam em outro campeonato. Os maratonistas do ghosting com recibo. Os mestres do desprezo assinado digitalmente. Um “não me importo” que chega com hora, minuto e tique azul de confirmação.
No fim, talvez o WhatsApp só escancarou aquilo que já existia nas entrelinhas: a comunicação moderna tem menos a ver com palavras e mais com ausências. Com aquilo que não é dito. Com o que a gente espera, mas não recebe. Com o print que vira desabafo no grupo das amigas. Com o silêncio que dói mais que mil nãos.
E talvez, só talvez, a gente precise mais de terapia do que de um print.
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GC
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