O primeiro semestre de 2025 trouxe números e informações inéditas sobre a atividade das bets no Brasil. O Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA-MF), divulgou um balanço detalhado do setor, o primeiro desde a regulamentação plena iniciada em janeiro.

Os dados mostram a rápida consolidação da atividade legalizada, mas também evidenciam os desafios persistentes na luta contra plataformas ilegais. De janeiro a junho, 17,7 milhões de brasileiros realizaram apostas de quota fixa nas bets autorizadas, segundo o relatório do Sistema Geral de Gestão de Apostas (Sigap).

O perfil predominante foi masculino, com 71% dos usuários, enquanto as mulheres representaram 28,9%. A faixa etária mais ativa foi a de 31 a 40 anos (27,8%), seguida de perto pelos jovens entre 18 e 25 anos (22,4%) e pelos de 25 a 30 anos (22,2%).

O relatório também apontou que a média de gasto por apostador ativo ficou em R$ 983 no semestre, cerca de R$ 164 por mês. Em relação às bets, a receita bruta de jogos (GGR, na sigla em inglês), que corresponde ao total apostado menos os prêmios pagos, alcançou R$ 17,4 bilhões nos seis primeiros meses do ano.

Arrecadação

A atividade regulada gerou receitas significativas para o Estado. Apenas em tributos federais (IRPJ, CSLL, PIS/Cofins e Contribuição Previdenciária), somados às destinações sociais obrigatórias, a arrecadação com as bets chegou a R$ 3,8 bilhões, dos quais R$ 2,14 bilhões foram destinados diretamente às áreas sociais previstas em lei.

Além disso, a SPA arrecadou R$ 2,2 bilhões em outorgas de autorização pagas pelas empresas licenciadas e aproximadamente R$ 50 milhões em taxas de fiscalização. Esses números reforçam o potencial do setor como fonte de recursos para políticas públicas.

Fiscalização e combate à ilegalidade

Apesar do avanço do mercado regulado, o combate às plataformas não autorizadas segue como prioridade. Desde outubro de 2024, a Anatel retirou do ar mais de 15,4 mil páginas ilegais. No primeiro semestre, 66 processos de fiscalização foram abertos e 35 resultaram em sanções contra operadores licenciados que descumpriram regras.

A atuação também envolve o sistema financeiro. Sob supervisão do Banco Central, 24 instituições financeiras e de pagamento reportaram 277 comunicações à SPA e encerraram 255 contas ligadas a operações irregulares.Outras 45 empresas tiveram suas contas encerradas após notificações formais.

No campo da publicidade, um acordo com o Conselho Digital do Brasil, que reúne gigantes como Google, Meta, TikTok, Kwai e Amazon, resultou na remoção de 112 páginas de influenciadores e 146 publicações que promoviam apostas ilegais.

Impacto das bets ilegais

Mesmo com a estrutura de bloqueio, o mercado irregular manteve forte presença. Nos dois primeiros meses de 2025, foram registrados mais de 30 milhões de acessos a sites ilegais, que movimentaram cerca de R$ 350 milhões.

Valor expressivo, ainda que represente menos de 1% do tráfego das bets legais, que alcançou 2 bilhões de acessos no mesmo período. O dado revela a resiliência dessas plataformas, que frequentemente utilizam mudanças de servidores para driblar bloqueios governamentais.

Um estudo conduzido pela LCA Consultores em parceria com o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) revelou que o Brasil pode perder até R$ 10,8 bilhões por ano em arrecadação devido à atividade das apostas ilegais. Somente no primeiro trimestre, estima-se que a evasão tributária tenha variado entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2,7 bilhões.

Segundo o presidente executivo do IBJR, Fernando Vieira, “esses números são impressionantes. Estamos falando de um impacto equivalente a pagar o salário de até 184 mil professores da educação básica ou construir 41 mil casas populares por ano”.

O estudo também mostrou que entre 41% e 51% do mercado de apostas ainda opera fora da regulamentação. Além disso, 73% dos apostadores afirmaram ter utilizado plataformas ilegais ao menos uma vez em 2025, o que evidencia a dificuldade do consumidor em diferenciar bets autorizadas dos sites não licenciados.

Desafios e próximos passos

O balanço do primeiro semestre mostra avanços claros na consolidação do mercado regulado de bets, mas também reforça que a luta contra a ilegalidade é complexa.

O governo aposta em medidas conjuntas, que envolvem regulação, fiscalização financeira, cooperação internacional e controle de publicidade digital, para reduzir a participação do mercado irregular. O desafio será manter a atratividade do mercado legal, garantindo arrecadação e proteção ao consumidor, enquanto se fecha o cerco contra operadores ilegais.