Entre os dias 11 e 21 de novembro, Belém sediará a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30). O evento reunirá líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil para discutir e negociar ações de combate à crise climática.

Com os holofotes voltados para o tema, os saberes ancestrais das comunidades quilombolas ganham espaço no debate climático global. Esses povos preservam práticas sustentáveis há séculos, resistem à degradação ambiental e contribuem ativamente para a preservação dos biomas, conservação dos recursos naturais e criação de estratégias de adaptação às mudanças climáticas.

Manejo ecológico e sustentabilidade quilombola

De acordo com Fran Paula, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ MT) — uma das organizações que integram o Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista) — as comunidades quilombolas desenvolvem, historicamente, o manejo ecológico e sustentável da terra, dos bens comuns, das águas e das florestas.

“É através dessas práticas, desses modos de viver e habitar, que apontamos soluções para promover conservação ambiental, sustentabilidade, produção de alimentos saudáveis, manejo ecológico de floresta e de águas, ações locais nesses territórios que precisam ser fortalecidas e potencializadas, considerando a sua importância no contexto da pauta ambiental”, destaca.

Segundo Fran, a população quilombola detém um conhecimento profundo sobre o equilíbrio ambiental, fruto de séculos de convivência direta e respeitosa com a natureza.

“As principais mudanças que hoje estão mais explícitas, são observadas por esses povos há muito tempo, e eles desenvolvem mecanismos e estratégias de adaptação, mas, também, maneiras de frear essas mudanças. Então, para as populações quilombolas, e o nosso povo de forma geral, é como se esse saber fosse um termômetro de informações”, comenta Fran Paula.

Presença quilombola na COP 30: visibilidade e reparação histórica

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que existem cerca de oito mil comunidades quilombolas no Brasil, presentes em 30% dos municípios. Essa presença revela a importância de dar visibilidade às suas vozes e experiências, especialmente em debates sobre sustentabilidade e clima.

O modo de vida dos quilombos é marcado pela integração com a natureza, em uma relação de biointegração e equilíbrio ambiental.

Para Fran Paula, a participação das comunidades quilombolas na COP 30 representa um ato de reparação histórica, já que essa população ainda enfrenta processos de exclusão social e limitações no acesso a direitos fundamentais.

“Que essa COP possa ser um momento oportuno para que a sociedade reflita sobre modelos de habitar, de existir, de conviver com a natureza, e de repensar os caminhos que o Brasil vem tomando nas suas políticas ambientais e sociais. Não existe conservação ambiental separada da vida dos povos que estão nessas comunidades, pessoas que vivem em coletividade. São modos de organização e trazem ensinamentos importantes para toda a sociedade brasileira”, diz.

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