A Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática de 2025, COP30, acontece nesses dias em Belém. Um grande esforço para superar o negacionismo em relação às mudanças climáticas e a busca de consensos no cuidado com o meio ambiente, a nossa Casa Comum.
A participação de muitas delegações, organizações da sociedade civil, igrejas e religiões, demonstram o desejo de não nos perdermos no caminho da busca de uma conversão ecológica, para recordar uma das dimensões apontadas na Encíclica Laudato Sì, o cuidado da Casa Comum.
No encontro com o mundo universitário na Faculdade de Informática e Ciências Biônicas da Universidade Católica Péter Pázmány”, em Budapeste em 2023, Papa Francisco abordou o horizonte de pensamento e vida. citando Romano Guardini: “Nestes dias, compreendi melhor do que nunca que há duas formas de conhecimento (…), uma leva a mergulhar no objeto e seu contexto, de modo que o homem que deseja conhecer procura viver nele; a outra, pelo contrário, reúne as coisas, decompõe-nas, ordena-as em alíneas, adquire perícia e posse delas, domina-as» (Cartas do Lago de Como. A tecnologia e o homem).
Guardini distinguia entre um conhecimento humilde e relacional, que é como um reinado que se obtém por meio do serviço; uma criação conforme à natureza, que não ultrapassa os limites estabelecidos, e a modalidade de saber que não observa, admira, mas analisa, já não se imerge no objeto, mas agarra-o, domina.
No segundo modo do saber, “as energias e as substâncias são feitas a convergir para um único fim: a máquina”, desenvolvendo uma tecnologia da submissão dos seres vivos, mas também os que denominamos inanimados. O modo se torna regulador, e dominador da vida. Por isso, Guardini indicava um grande perigo: “O homem perde todos os laços interiores que lhe conferem um sentido orgânico da medida e das formas de expressão em harmonia com a natureza”, “enquanto no seu ser interior fica sem contornos, sem medida, sem direção, ele estabelece arbitrariamente os seus fins e constringe as forças da natureza, por ele dominadas, a realizá-los”. E deixava aos vindouros uma pergunta inquietante: “Num tal sistema, pode a vida permanecer vivível?”.
Vai ficando evidente, na afirmação dos negacionistas, que os laços interiores estão frágeis e mesmo rompidos. Não se vê mais beleza, a admiração desaparece, o Cântico das Criaturas vai silenciando, pela terra rasteja a fumaça como em dias de chuva. A terra não suportará a violência que vem sofrendo. Esse horizonte de compreensão que se instalou, uma leitura da vida guiada pelo lucro, ou se quisermos de mercado, ou de cálculo, de número, destrói, não consegue cuidar da Casa Comum. Nesse horizonte da dominação, se obriga a criação a ser útil, levando a natureza a servir o homem, na destruição. A Casa está necessitada de uma nova economia, pois a que temos mata; não vê beleza, não suporta poesia, não consegue seguir os ritmos da proximidade, da fraternidade universal, da cordialidade. Só novas relações com o todo abrirá uma possibilidade de uma vida digna e salutar para todos.
A mudança climática, pede uma vida harmônica e digna, justa e cordial para todos, exige uma mudança de horizonte, de leitura, de compreensão e vida, na relação com todos os seres criados. Entrar na dinâmica da Conversão Ecológica.

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