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Segurança

Com pouco investimento, condomínios em Manaus deixam moradores em risco

Ainda que o condomínio disponibilize uma estrutura de segurança, nem sempre os serviços são implementados com rigor e qualidade

Foto: Organize meu condomínio

Manaus (AM) – A violência em Manaus tem se tornado cada vez mais recorrente em vários espaços da cidade, inclusive dentro das próprias residências da população. Assim, muitas pessoas buscam morar em lugares que ofereçam um sistema e uma estrutura de segurança, que normalmente são vistos em prédios e condomínios.

Ao mesmo tempo, ainda que o condomínio disponibilize esses benefícios, nem sempre os serviços de segurança são implementados com rigor e qualidade, algo que deixa o morador em risco, conforme informa um empresário do setor de segurança.

Há duas semanas, a servidora da 15ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (TRT-11), Silvanilde Ferreira Veiga, de 58 anos, foi morta a facadas, no dia 21 de maio, dentro do apartamento de sua propriedade, localizado na Ponta Negra, Zona Oeste de Manaus. O corpo da servidora foi encontrado por volta das 22h30 daquele dia pela própria filha.

Entrada do condomínio Gran Vista, localizado na Ponta Negra. Foto: Meu Imóvel

O assassinato chamou ainda mais atenção após a divulgação da equipe da Delegacia Especializada em Sequestros e Homicídios (DEHS) sobre quem cometeu o crime no dia 31 de maio. Depois de dez dias de investigação, a polícia anunciou que o suspeito era um agente de portaria identificado como Caio Claudino de Souza, que confessou a autoria do homicídio.

Foto: Divulgação

Segundo Caio Claudino, o crime não foi planejado com antecedência. Ele informou que foi chamado pela empresa de segurança terceirizada, contratada pelo condomínio para cuidar da segurança, para dar apoio naquele dia, quando ocorriam três festas. Em nota, a empresa informou que ele foi contratado para o cargo de ‘concierge’. Durante o serviço, Caio estava sob efeitos de entorpecentes e precisava de dinheiro para comprar os remédios do filho.

Foi quando encontrou a servidora no corredor de um dos andares do condomínio, a abordou e entrou com Silvanilde no apartamento. Os dois entraram em luta corporal, pois Caio não conseguiu a transferência de dinheiro em pix que desejava da servidora. Neste momento, ele atingiu o pescoço dela com uma faca e fugiu.

Suspeito falou com a imprensa na saída da DEHS. Foto: Bianca Fatim

Segurança no condomínio

Para o dono de uma empresa de segurança de condomínios que atua há dez anos na capital amazonense, Marcos Silva*, um dos erros das ações de proteção do condomínio, o qual a servidora assassinada morava, foi a empresa terceirizada escalar um funcionário recém-contratado para exercer o trabalho.

Para ele, é essencial que o condomínio contrate empresas sérias e especializadas em segurança para evitar problemas que diminuam a proteção dos condôminos e até mesmo coloquem em risco a vida dos moradores.

“Nem todo o condomínio investe em segurança, então é de condomínio para condomínio. Tem uns que não tem nada de segurança e que contratam uma empresa que não tem CNPJ, mas está lá porque o custo é menor, e é contratada”,

conta o empresário.

Na empresa de Marcos, os profissionais que atuam na segurança dos condomínios são os vigias. Conforme Marcos, há diferenças básicas entre os vigias e os agentes de portaria. Os porteiros atuam apenas na portaria para realizar a fiscalização do controle de acesso na área do condomínio – ou seja, permitem, ou não, a entrada de quem entra e quem sai.

Enquanto que os vigilantes possuem uma certificação homologada pela Polícia Federal para fazer ronda dentro das imediações do condomínio, assim como também são autorizados a portar uma arma.

“Vigilante é treinado especificamente para a segurança. Ele tem a autorização de todas as portarias da Polícia Federal, e tem o curso de dois em dois anos, que é reciclado. Além dele portar arma, ele tem o conhecimento amplo sobre segurança. Também faz vários exames periódicos, como o exame toxicológico e o exame de bafômetro” explica Marcos.

Outro ponto fundamental no exercício do vigilante é ter uma conduta exemplar, e não possuir nenhum histórico de ilicitude.

Assim, no geral, o vigilante pode tanto fazer o controle de acesso do condomínio como também realizar a ronda e identificar as áreas que apresentam vulnerabilidade. “Tem condomínio que a ronda é só perímetro, como por exemplo, se tem uma criança sozinha no playground próxima a uma piscina correndo risco”, conta.

Conforme Marcos, a sua empresa de segurança possui supervisão, coordenadores de segurança e um grupo de assistência social e de psicólogos que acompanham os funcionários para que diariamente possam trabalhar com proteção na empresa, e oferecer proteção nos condomínios onde atuam.

“É apurado frequentemente o que ele está passando em casa, e se ele tem algum tipo de vício. É feito um exame periódico com eles, para saber se ele está bem ou não, porque qualquer pessoa está sujeita a surtar a qualquer momento”, observa.

Por que há interesse nos condomínios?

Moradora há quatro anos de um condomínio em Manaus, a dentista Luana Lins, de 39 anos, deixou de viver em um bairro de casas para proporcionar condições mais seguras para os filhos. Desde então, ela afirma que se sente mais segura, pois o condomínio onde mora toma e oferece várias medidas de segurança, como uma entrada rigorosa que funciona a partir de um sistema eletrônico e um conjunto de câmeras de segurança que funciona 24 horas por dia.

“Temos segurança que fica fazendo ronda no condomínio o dia inteiro, há o controle de entrada de prestadores de serviço, de colaboradores, e de visitantes controlado. O condomínio está sempre fornecendo orientações para a gente sobre como proceder na entrada e saída do condomínio de forma que todo mundo fique mais seguro possível”, conta.

Em concordância, o engenheiro elétrico Robinson Junior também se sente mais seguro em viver em condomínio do que morar em casa. Segundo o engenheiro, diferente de morar em casas, onde cotidianamente muitas pessoas desconhecidas passam na frente da residência, no condomínio há a vigilância que fiscaliza a entrada de pessoas no espaço. Como consequência, a percepção de segurança é maior.

“No condomínio fechado passa essa sensação de que tem uma filtragem. Não é todo mundo que tem acesso àquela parte interna do seu condomínio. De fato, ter essa vigilância no local de entrada dá mais segurança”, afirma.

Atuação dos funcionários

Nesse sentido, em busca de proporcionar segurança contínua para os moradores, o condomínio onde a síndica Jaqueline Sebben atua contratou uma empresa de segurança terceirizada que proporciona suporte.

No condomínio, a fiscalização de pessoas é feita a partir de um sistema de monitoramento onde o visitante entrará somente com a permissão do morador. Conforme Jaqueline, os requisitos para contratar os funcionários são: possuir uma ficha de boa conduta, atestado de bons comportamentos e carta de recomendação de trabalhos anteriores. Os funcionários também precisam fazer exames.

“O exame toxicológico é de fundamental importância. No nosso caso, são funcionários de muitos anos e que conhecemos a conduta de cada um. Temos o pensamento de fazê-los se sentir seguros, portanto nos colocamos a disposição deles e com ligação direta a toda e qualquer situação”, explica.

O agente de portaria Marcos Luiz, de 34 anos, trabalha há cinco anos como agente de portaria e há dois anos como funcionário do condomínio onde Jaqueline atua. Para ele, é primordial estar sempre atento a todo instante.

“O procedimento é a gente estar sempre atento nas pessoas, nos visitantes que vão acessar o condomínio. A gente tem esse cuidado, e os nossos síndicos exigem bastante da gente. Graças a Deus, até o momento, nunca aconteceu nada suspeito e grave”, afirma Marcos Luiz.  

*Nome alterado para proteção da identidade da fonte

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