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Câncer de pele

Entre 2013 e 2021, índice de câncer de pele no AM é um dos menores no país

No Norte, os números do câncer de pele são os menores do país, nos últimos oito anos, mesmo com as altas temperaturas na região. Um caso recente de diagnóstico de câncer de pele que chamou atenção foi o do prefeito de Manaus, David Almeida

Foto: Divulgação

Manaus (AM) – O câncer de pele representa cerca de 30% da totalidade dos tumores malignos registrados no Brasil, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Porém, desse total, apenas 3% são os casos mais graves da doença, conhecidos como melanomas. No Norte, os números do câncer de pele são os menores do país, nos últimos oito anos. Mesmo com as altas temperaturas disseminadas na região, dermatologistas ressaltam a importância do diagnóstico precoce e da prevenção.

Entre os tumores mais frequente do país – e do mundo -, o câncer de pele se caracteriza por ser um crescimento anormal de alguma camada das células da pele, conforme a médica dermatologista Suzi Maron. Esse aumento desordenado das células pode provocar lesões e, por consequência, o surgimento do câncer de pele, que apresenta mais de 2 milhões de casos por ano, conforme a Organização Mundial da Saúde (ONU).

Um caso recente de diagnóstico de câncer de pele que chamou atenção foi o do prefeito de Manaus, David Almeida. No último domingo (13), o prefeito passou por uma cirurgia para retirar o câncer de pele do tipo carcinoma basocelular, um dos mais comuns e com a maior probabilidade de cura.

Números no AM são baixos

No Amazonas, de acordo com o Painel da Oncologia do Ministério da Saúde, foram registrados, em 2021, cerca 605 diagnósticos de câncer de pele. Nos primeiros três meses de 2022, o painel não contabilizou nenhum caso de câncer de pele no estado. Entre 2013 e 2021, foram diagnosticados 1,8 mil casos da doença.

Os números diagnosticados de câncer de pele durante os últimos oito anos no Brasil chegam a 205,18 mil casos. A região Norte registrou 2,7% dos casos totais analisados neste período, o menor em relação ao restante do país.

Em uma das rotinas de consulta com a dermatologista, a psicóloga Nelli Sena, de 58 anos, foi diagnosticada com câncer de pele do tipo carcinoma basocelular. Porém, sete meses antes da identificação do tumor, ela já havia percebido um sinal estranho na ponta do nariz que não desaparecia.

“Fiquei assustada, angustiada e preocupada, porque faço parte de uma família, tanto paterna quanto materna, de genética para câncer de pele, e por ter me exposto de forma inadequada, sem protetor solar, ao sol quando adolescente e jovem”,

detalhou a psicóloga.

Após a detecção, o médico recomendou que ela fizesse a cirurgia, utilizando a técnica de Mohs, o mais rápido possível. Atualmente, Nelli está curada, mas lembra como foi complicado passar pela cirurgia.

“Foi bem difícil. O médico retirou pele do meu rosto, área próxima ao nariz, e parte da bochecha e colocou na área da lesão cirurgiada, na ponta do nariz. Uma cirurgia bem agressiva para mim, tanto como procedimento quanto esteticamente”,

conta.

Melanoma e não melanoma

De maneira geral, os médicos categorizam dois tipos de câncer de pele: o melanoma e o não melanoma. Mesmo sendo um dos mais comuns no Brasil, o tipo não melanoma possui 90% de chance de cura, caso seja detectado no início da doença.

Dentro do grupo não melanoma ainda há outras subdivisões, como o carcinoma basocelular, tipo de câncer detectado no prefeito David Almeida e na psicóloga Nelli. Ele corresponde a 70% dos casos diagnosticados no Brasil, aponta o Inca. Apesar de ser o mais incidente, é o menos agressivo.

Já o melanoma é o que apresenta maiores riscos. De acordo com a médica dermatologista Suzi Maron, a principal diferença entre eles é de onde eles derivam.

O melanoma se enquadra em casos onde há um crescimento anormal dos melanócitos, células responsáveis pela produção do pigmento melanina, que fornece cor à pele e aos olhos, assim como os protege dos efeitos dos raios UV. Enquanto que o não melanoma surge em outras camadas da pele.

“Todas as outras camadas de pele que em que há um crescimento anormal que não seja nos melanócitos nós chamamos de não melanoma. Mesmo sendo maligno, ele tem um crescimento mais lento, por isso não é tão agressivo quanto o melanoma”,

explica a dermatologista.

Surgimento do câncer e sintomas

O aparecimento do câncer de pele pode acontecer pelo aparecimento repentino de uma lesão, ou a partir de uma lesão que já existia na pele, como um sinal.

A dermatologista ressalta que o surgimento do tumor pode acontecer em qualquer parte do corpo, ou seja, tanto em áreas expostas frequentemente ao sol, quanto nas mais escondidas. Porém, as áreas mais desprotegidas e vulneráveis aos raios solares sofrem maiores riscos.

“Existem melanomas genitais, por exemplo, em que não há nenhuma correlação direta com exposição solar. Então, pode surgir em qualquer parte do corpo e o diagnóstico é dado pela gente dermatologista”,

conta a dermatologista Suzi Maron.

A detecção da doença pode ser realizada por meio de um autoexame. Caso o paciente encontre a presença de uma nova pinta que se destaca das outras, por ser diferente, ou perceba a mudança de cor e formato de uma pinta que já existia, a dermatologista Suzi Maron recomenda a procura de um médico para avaliar os possíveis riscos. Um método que pode ser feito em casa é a “regra do ABCD”.

“A regra da ABCD pode ser feita em casa por qualquer pessoa. Ela inicia pelo A de assimetria, ou seja, o paciente analisa se as bordas são contornadas e definidas, caso não sejam, há um risco. O B de bordas se observa se há bordas irregulares, às vezes você não consegue ver direito onde aquilo termina, além de observar a homogeneidade da cor. Por último, o D de diâmetro. Lesões acima de 0,6 cm também devem ser sinal alerta”, explica

Outros sintomas frequentes do câncer de pele são as coceiras e os sangramentos da pinta ou sinal. A mudança de tamanho da lesão, na mudança de cor e da intensidade das coceiras também evolui rapidamente, em média, em torno de seis meses.

Fatores de risco e prevenção

Entre as condições que aumentam a probabilidade de uma pessoa adquirir câncer de pele, a dermatologista Suzy cita a predisposição genética, assim como maus hábitos como o tabagismo, estilismo, sedentarismo e a má alimentação. Também destaca a exposição prolongada à radiação solar sem o uso de protetor solar.

“Pessoas muito expostas ao sol, como acontece em algumas profissões, ou que desde criança tem hábito de pegar sol sem proteção, correm grande risco. No início você fica às vezes queimadinho, fica vermelho e a pele consegue cicatrizar. Mas lá na frente, depois de vários anos, a conta chega”,

diz.

Dessa forma, a melhor prevenção contra o câncer de pele é o uso adequado e recorrente do protetor solar, conforme a exposição ao sol.

“O protetor solar é a dica de ouro. O interessante é haver uma reaplicação a cada três horas para conseguir uma proteção mais adequada. Mas de uma forma geral, qualquer protetor solar com fator de proteção solar e o FPS a partir de 30 já confere uma boa proteção”,

afirma.

Tratamentos e cirurgia de Mohs

De acordo com a dermatologista Suzy, o tratamento predominante para o câncer de pele é o cirúrgico. A partir dele é realizado a remoção inteira da lesão que passará por uma análise sopatológica, ou seja, um estudo da biópsia que determinará com detalhes qual é o tipo de câncer de pele.

Há também os tratamentos quimioterápicos e radioterápicos, principalmente para os melanomas, porém são mais agressivos e dependem da indicação precisa do oncologista.

Uma das cirurgias mais precisas de câncer de pele é a cirurgia de Mohs, a mesma que foi realizada pelo prefeito de Manaus, David Almeida, em que há o controle das bordas da lesão e analisa 100% da área afetada no decorrer do procedimento.

“Então a medida que a gente vai fazendo a remoção dessa lesão, ela é vista por meio de um aparelho específico, um microscópio com uma preparação especial para ver se já foi retirada toda a lesão”,

diz a médica.

Segundo a dermatologista, as cirurgias convencionais se diferem da cirurgia de Mohs, pois elas retiram uma parte da pele que vai além da área da lesão que é mandada para a análise apenas posteriormente.

As pessoas indicadas para fazer a cirurgia de Mohs são aquelas que já realizaram uma cirurgia de retirada do câncer de pele, porém houve o retorno do tumor no mesmo lugar. Outro caso é quando há aparecimento do câncer nas chamadas “áreas nobres”, que são áreas de risco como perto dos olhos, em que é difícil realizar uma reconstrução.

A psicóloga Nelli Sena também passou pela mesma cirurgia. Antes do procedimento, o médico informou sobre como aconteceria, sobre a recuperação e o prognóstico de cura. Ao saber que as chances de retorno do câncer eram baixas, Nelli se sentiu esperançosa e tranquila com a cirurgia.

“Hoje, passados dois anos e sete meses, me sinto bem, mas ainda percebo que não tenho total sensibilidade numa pequena área do nariz, local da cirurgia. Tomo todos os cuidados de proteção contra os raios solares, conforme orientação do meu médico”, completa Nelli.

Edição: Leonardo Sena

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