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‘A Doente Hereditária’: Espetáculo com atores transsexuais estreia em Manaus

"A Doente Hereditária” é uma adaptação do texto “O Doente Imaginário”, de Molière, feita por Dimas Mendonça

Com um elenco formado por atores e atrizes transsexuais, o espetáculo “A Doente Hereditária”, realizado pela KUMA Espaço de Criação, estreia no Teatro Américo Alvarez, Centro de Manaus, nos próximos finais de semana.

As apresentações ocorrem nos dias 16, 17, 23 e 24 de agosto, às 20h, com entrada gratuita.

Além de uma equipe criativa majoritariamente trans e LGBTQIAPN+, o projeto é a concretização de um sonho de Mariellen Kuma.

A dramaturgia foi desenvolvida em 2022, em parceria com Dimas Mendonça, e em 2024, o espaço pode realizar as audições e iniciar o processo de preparação.

“Dimas traz um texto que nos faz rir de pessoas que, apesar de muito eruditas, não conseguem lidar conosco (corpas dissidentes). Para mim, é um respiro de ar novo, poder atuar em ‘parece que não tenho autorização para estar aqui’ e agora dirigir esta produção maior. É um suspiro de alívio ver nossas vozes tomando protagonismo. E tudo isso é possível graças às ações afirmativas da Lei Paulo Gustavo, que nos permitiu acessar um edital LGBT+ incluindo cotas para pessoas trans”, comenta Mariellen Kuma.

“A Doente Hereditária” é uma adaptação do texto “O Doente Imaginário”, de Molière, feita por Dimas Mendonça.

A comédia narra a história de Dona Mimi Feitosa, uma mulher da alta sociedade que acredita estar constantemente adoentada. Seus sintomas imaginários perturbam seu corpo e mente, levando-a a questionar sua moral e ética.

O dramaturgo comenta sobre o processo de adaptação, onde a temática satiriza o preconceito velado.

“O teatro preserva tantos espaços que resistem à transformação. Nós brincamos com isso ao trazer um texto clássico de um autor clássico e subverter o discurso, usando esse espaço para dizer o que ainda não foi dito, de maneiras que ainda não foram feitas, com pessoas que ainda não contaram suas histórias dessa perspectiva”, destaca Dimas Mendonça.

Desde 2020, a KUMA trabalha com oficinas de atuação e outros projetos com foco no alcance a corpos trans. Para este processo, as audições foram abertas tanto para pessoas com experiência teatral quanto para aquelas em sua primeira experiência profissional.

O objetivo é desestigmatizar a marginalização do corpo trans e fortalecer sua presença na cena teatral amazonense.

Juma Pereira, que está na cena artística há alguns anos, começou cantando na igreja e participou de concursos culturais, como os Novos Talentos do Sesc. Dançarina de Vogue e Cultura Ballroom, Juma está em cena pela primeira vez com A Doente Hereditária e compartilha sua experiência nesse espaço de criação.

“Isso é essencial. Quando comecei na ballroom, foi quando comecei a me sentir acolhida e perceber que também posso ser uma potência para o mundo. Estar em um elenco transcentrado é importantíssimo para entendermos nossas potencialidades. Normalmente, não estamos nesses espaços da arte e da TV, e hoje estamos quebrando esses estigmas sobre nossos corpos e como vivemos em sociedade”, comenta Juma.

Duca Vieira, também atriz do elenco, já participou de musicais na cidade, como Divaland, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, e Ópera do Malandro, da Casa de Artes Trilhares. Ela conta como o teatro transformou sua vida.

“O teatro me leva a desconfortos necessários da nossa existência, desconfortos que me levaram ao encontro da minha transição. Dentro do teatro, comecei a me entender como uma pessoa trans. Passei a explorar meu corpo e onde ele tinha mais possibilidades. Estar em um espetáculo onde a essência da tua existência é a tua maior potência é o mais interessante e acolhedor daqui”, afirma Duca.

A preparação corporal do elenco é conduzida por Ananda Guimarães, artista DEF com baixa visão, que desenvolve a pesquisa Encruzilhada DEF: uma cosmocegueira cênica. Durante o processo, Ananda investigou com o grupo jogos que fogem de um corpo padrão.

“É como se a sala de ensaio fosse um solo muito fértil. Os jogos que trago fogem da bipedia, porque nossos corpos fogem da normatividade, mas acabamos nos forçando a aparentar que não. Então, trago jogos para potencializar os corpos como eles já são. Algumas pessoas na elenca nunca fizeram teatro antes, e isso é uma potência, pois vêm sem essa camada de reprodução do que é certo ou errado nas corporiedades”, explica Ananda.

O trabalho foi apoiado pelo Edital n. 005/2023 Identidade Cultural – Demais Linguagens, Concultura, ManausCult, Prefeitura de Manaus.

*Com informações da assessoria

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