O governador Cláudio Castro e o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), anunciaram, em outubro de 2023, que uma das políticas de combate aos grupos criminosos do Rio seria a “asfixia financeira”. De lá para cá, a maioria das operações policiais passaram a ter esse objetivo, principalmente em territórios do Comando Vermelho, a maior facção do estado. Os locais mais frequentes são os complexos da Zona Norte, em especial, o da Maré, Penha e Alemão. Esses dois últimos, apontados como o “QG” do grupo, receberam ontem a presença de mais de 500 agentes, numa ação conjunta das polícias Militar e Civil. Cinco pessoas foram mortas e outras nove ficaram feridas no confronto, entre elas um policial do Batalhão de Choque.
No último dia 15, outra operação mobilizou centenas de agentes para o cumprimento de 14 mandados de prisão no Alemão. A ação foi feita com base num trabalho da polícia que relacionava parentes de traficantes presos a um esquema de lavagem de dinheiro. Do total de mandados, oito eram contra mulheres, apontadas como namoradas, esposas e mães de envolvidos. No confronto, três suspeitos foram mortos e um PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ficou ferido.
Segundo o secretário Victor Santos, da Segurança Pública do Rio, as ações nessas comunidades partem de uma tentativa de enfraquecer a facção e são um recado: “Querem trazer intranquilidade para a população? As forças de segurança vão fazer o mesmo com eles (traficantes)”. A afirmação foi feita em coletiva sobre a lavagem de dinheiro, mas é constantemente repetida em outras ocasiões.
As operações na Penha e no Alemão não são aleatórias. Investigações da polícia apontam que elas são o “coração” do Comando Vermelho, locais que abrigam chefes do grupo, até mesmo de outros estados, e de onde partem decisões e se faz o controle financeiro. Dois importantes integrantes do grupo se escondem por lá: Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, apontado como parte da “alta cúpula” da facção, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW, responsável pelo avanço do CV na Zona Oeste.
Além disso, trabalhos de delegacias também apontam que partem da Penha as coordenadas para os roubos e furtos de veículos e cargas no Rio. Não à toa, existe a formação de um subgrupo especializado nesses crimes: a Equipe do Ódio. Essa é composta principalmente por adolescentes que, vez ou outra, atuam também em confrontos, seja pela defesa de territórios do CV, ou em invasões daqueles ligados ao Terceiro Comando Puro.
A operação dessa sexta-feira, coincidentemente ou não, aconteceu no dia do aniversário de Doca, que completou 55 anos. Nascido na Paraíba, ele ocupa o segundo lugar da hierarquia da facção, estando apenas abaixo de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, preso há mais de 30 anos. Durante a madrugada, moradores relataram a queima de fogos de artifício em homenagem à data, que deve ser comemorada, durante à noite, no salão de festas de uso exclusivo do tráfico na Penha. No Conselho Nacional de Justiça, constam 26 mandados de prisão em aberto contra Doca, o último foi expedido em 4 de janeiro.
Os complexos da Penha e Alemão somam 26 favelas, com ao menos 112.700 moradores. Parte deles fica vulnerável aos confrontos, que acontece na porta de suas casas ou em espaços públicos, como foi o caso de Carlos André Vasconcelos da Silva, de 35 anos. Ele foi baleado durante a manhã, nas proximidades da estação do BRT da Penha. Segundo testemunhas, disparos o atingiram pelas costas, enquanto ele aguardava o trasporte para ir ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), onde trabalhava como jardineiro por meio de uma empresa terceirizada.
“Profissional dedicado, Carlos cuidava, desde o ano passado, carinhosamente dos jardins da sede do IMPA, no Jardim Botânico”, destacava um comunicado do instituto. Segundo o RJTV1, da TV Globo, ele era morador da favela Quatro Bicas e teria acordado às 4h30 para ir ao serviço. Atualmente, ele cuidava da mulher, que está com uma suspeita de câncer de mama. Carlos deixou dois filhos, um menino, de 5 anos, e uma menina, de 11.
Também ferido na operação, Wander Souza dos Santos, de 21 anos, foi levado para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, onde se encontra estável. Ele é morador da Fazendinha e teria sido baleado no ombro, ainda em casa. No mesmo hospital, encontra-se o PM do Choque, atingido por um disparo na cabeça. A última nota da secretaria estadual de Saúde informava que o quadro de saúde do agente é grave: ele passou por cirurgia, mas não foi possível remover o projétil.
No hospital, no início da tarde, chegou também Ana Luísa, de 19 anos, baleada de raspão na cabeça dentro de casa. Ela chegou assustada à unidade, acompanhada por parentes.
*Com informações do Extra
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