Rodeada pelos rios da Amazônia, Manaus ocupa uma posição estratégica para o tráfico de drogas. Após a chegada do material ilícito proveniente de Tabatinga, na tríplice fronteira (Brasil-Peru-Colômbia), a capital amazonense torna-se um ponto crucial para a distribuição dessas substâncias para outros estados do Brasil. E a importância da cidade para o crime organizado agrava a violência em todo o Amazonas, colocando em risco a vida dos amazonenses que aqui vivem.
O estudo “Cartografias da Violência na Amazônia”, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em conjunto com o Instituto Mãe Crioula, apontou que a capital amazonense é uma metrópole disputada por facções como Comando Vermelho (CV), que controla a grande maioria dos bairros, a Família do Norte (FDN), o Cartel do Norte (CDN) e, em menor quantidade, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Segundo o levantamento, Manaus se tornou uma importante plataforma de exportação de drogas para outros lugares do mundo, já que possui aeroporto internacional e um porto de atracação de navios de longo curso, que viajam para outros países e, muitas vezes, levam remessas de drogas escondidas.
“A cidade de Manaus é vista pelo tráfico internacional de drogas como uma ponte entre o Brasil e outros países, pois, devido à vastidão de florestas e rios que circundam a capital amazonense, é mais fácil a entrada e a saída de drogas do espaço territorial brasileiro”, explicou a especialista em segurança pública, Goreth Rubim.
Escoamento de drogas
O crime organizado está constantemente em busca de novas alternativas para contornar a fiscalização das autoridades e escoar as drogas. No entanto, até o início dos anos 2000, o governo brasileiro exercia um controle limitado sobre o espaço aéreo da Amazônia, o que proporcionava aos traficantes de cocaína maior liberdade para utilizar os céus do país.
Em 2004, o Brasil implementou uma política de interdição aérea, conhecida como “Lei do Abate”, com o objetivo de combater o tráfico de drogas.
No último dia 11, a Força Aérea Brasileira (FAB) abateu um avião venezuelano nas proximidades de Manaus, após a aeronave entrar clandestinamente no espaço aéreo nacional e desobedecer às ordens de pouso forçado.
A aeronave caiu em uma área de selva e pegou fogo, impedindo a identificação imediata de seu modelo. Os dois ocupantes, suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas, foram encontrados mortos. No interior do avião, a Polícia Federal encontrou drogas.
Com a fiscalização cada vez mais forte, a rota do tráfico passou do ar para as águas do Amazonas, exigindo do crime organizado uma mudança de logística.
“Pela ausência de um esquema de fiscalização robusto nos rios da Amazônia, é mais rentável para os traficantes transportarem as substâncias entorpecentes pelos rios amazônicos, importando e exportando drogas para outras cidades brasileiras e países”, comentou Goreth.
Ponto chave do escoamento de drogas, Manaus exige um cuidado maior por parte das autoridades, que atuam de forma conjunta para combater as ações de grupos criminosos.
“Quando as substâncias entorpecentes chegam a Manaus, normalmente são encaminhadas para os estados do Pará ou Tocantins, e posteriormente transportadas via terrestre para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, para onde são, então, direcionadas a outros países da América Latina e da Europa”, destacou a especialista.
Força-tarefa
Para a especialista em segurança pública, Goreth Rubim, uma das principais estratégias para combater o tráfico de drogas nos pontos de escoamento é, antes de tudo, fortalecer o controle nas áreas de origem da entrada dessas substâncias.
“Mecanismos de fiscalização dos principais afluentes do rio Amazonas que dão acesso a outros estados brasileiros e países fronteiriços, como atividades de georreferenciamento, utilização de drones e investimentos para ampliação das atividades da Base Arpão, comandada pela Polícia Civil do Estado do Amazonas. Ademais, é importante que o Amazonas invista nas atividades de segurança pública nas cidades do interior do estado, que, infelizmente, nos dias atuais, vivem uma situação de precariedade, com déficit de profissionais, viaturas sucateadas e delegacias com infraestrutura precária”, defendeu a profissional.
Em resposta, o Governo do Amazonas informou que, desde 2019, o montante estadual destinado à segurança pública superou a marca de R$ 1,16 bilhão. No início deste ano, mais de R$ 7 milhões em equipamentos foram entregues para fortalecer as Forças de Segurança do estado.
O reforço conta com 320 fuzis, destinados às Polícias Civil e Militar; 300 computadores para unidades de Manaus, Humaitá, Apuí e Boca do Acre; munições para equipar operações de controle e segurança; e 100 switches para a reestruturação do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops).
“Nós estamos entregando fuzis que a polícia do Amazonas nunca teve, é a primeira vez, isso é inédito, e não tem outro jeito. Tem que ser armamento pesado para enfrentar grupos criminosos que descem da fronteira, da Colômbia, do Peru. Nós temos um time que tem dado um resultado muito significativo na segurança pública, como nunca antes no estado”, afirmou o Governador Wilson Lima.
Em 2024, a Segurança Pública contou com ações estratégicas para coibir o avanço da criminalidade, tanto na capital quanto no interior. Entre elas, o combate ao narcotráfico contou com o reforço da Base Arpão 2, inaugurada em janeiro na calha do Rio Negro, e o novo batalhão das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), um dos espaços mais modernos do Brasil.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas apontam que, em 2024, as Forças de Segurança do Estado apreenderam mais de 43 toneladas de drogas durante operações realizadas para combater o tráfico na região, a maior quantidade de drogas apreendidas na história do estado.
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