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Com a palavra

“É uma vergonha a bancada federal do Amazonas não ter uma mulher”, diz Vanessa Grazziotin

A ex-senadora falou sobre seus planos políticos e analisou o cenário do país

Nesta edição de ‘Com a Palavra”, a equipe do Em Tempo conversou com a ex-senadora Vanessa Grazziotin. Durante a entrevista, foi assunto pontos como suas principais conquistas em sua carreira política, atual momento de instabilidade do Polo Industrial e seus planos para este ano eleitora. 

Vanessa Grazziotin nasceu em Videira, Santa Catarina. Formada em farmácia pela Universidade Federal do Amazonas, iniciou sua carreira política em 1989 como vereadora e seguiu no cargo até 1998. Foi deputada federal de 1990 a 2011 e senadora no Amazonas Foi a primeira senadora eleita pelo PCdoB e também a primeira farmacêutica a ocupar uma vaga no Senado Federal do Brasil.  

Confira a conversa:

Quais os seus planos para as eleições deste ano? A vaga disputada pela senhora será realmente de deputada federal? Por que optou pelo caminho? 

“Poucas vezes eu tomei decisões individuais, as decisões políticas que envolvem a minha vida são todas coletivas. Depois de 30 anos consecutivos no parlamento. Estive 10 anos como vereadora em Manaus, 12 anos como deputada federal e oito anos senadora. 

Até pensei em dar uma pausa, entretanto o momento que nós vivemos é tão difícil e é tão necessário que haja uma reação, que aceitei o chamamento, não só do meu partido, mas dos movimentos para compor o grupo que estará a frente desse processo eleitoral que tem um objetivo maior do que tudo, que é apresentar um projeto político de resgate do nosso país, da dignidade das pessoas, dos direitos e dos programas que foram deixados para trás, que vinham transformando a vida de pessoas no Amazonas”.    

Pergunta do popular Ismael Rafá: Vanessa, o que você acha desse pessoal que quer tirar a Zona Franca de Manaus?

“Nós do PCdoB, os movimentos sociais, sindicato de trabalhadores e centrais estamos procurando desenvolver em Manaus um grande movimento de mobilização para trazer a própria sociedade nessa luta em defesa da  Zona Franca. Quando o nosso companheiro (Ismael), fala “o que se deve fazer”, na realidade é isso que está acontecendo. 

O presidente Bolsonaro editou um decreto que diminui o percentual de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)  sem excepcionalizar a Zona Franca e isso pra gente é deletério (prejudicial), pode representar a morte da Zona Franca, porque nós vivemos de um incentivo fiscal, ou seja, um imposto que é cobrado no país inteiro, e em Manaus não se cobra. 

Por isso que grandes empresas saem de São Paulo e vêm para Manaus, porque há uma vantagem comparativa, que se diminuídas, a tendência é de que Zona Franca vá morrendo, se acabe. Então, a luta em defesa ao modelo que estamos fazendo, antecede a campanha eleitoral, porque nós não podemos esperar até outubro, muito menos até janeiro do ano que vem. É urgente”.     

Sobre a federação com com o PT e o PV para estas eleições, a senhora acredita que o povo vai abraçar esta união, principalmente pela rejeição apresentada ao Partido dos Trabalhadores?  

“A federação havia sido aprovada no Senado, mas estava parada na Câmara. A Câmara aprovou porque diante do fim da coligação (onde partidos se unem para apoiavam durante as eleições), a federação ela faz com que os partidos queiram se juntar, determina que essa federação permaneça unida por no mínimo quatro anos, ou seja, acaba a eleição, não acaba a federação e atuarão juntas como um único partido, e isso é um dos maiores avanços da política brasileira.  

Essa é a primeira eleição que a federação irá funcionar e já temos, no mínimo, três federações até agora. E eu tenho convicção absoluta, que daqui pra frente, novas federações se juntem em torno de um programa de governo, de um conjunto de ideias. Por exemplo, pessoas que são neoliberais, que apoiam o livre mercado e são a favor da privatização, são as mesmas pessoas e partidos que são contra  a Zona Franca. 

E por que são? Porque são contra políticas de incentivo fiscal, que são subsídios do governo a determinada região, para que ela supere todas as dificuldades que têm, e nós temos muitas, como logística, somos uma região distante que deve ser cuidada e cuidar do meio ambiente. Muitos partidos, são contra incentivos fiscais e as federações vão proporcionar que a população enxergue  exatamente o que cada grupo defende e não decidir o  voto baseado só na pessoa. No Brasil, a tradição, você vota no João e Maria, mais no João do que na Maria, é uma vergonha a bancada federal do Amazonas não ter uma mulher, sendo que nós somos mais da metade da população e do eleitorado”. 

Pergunta da popular Nívea Rosas: Vanessa, a senhora acha que o Bolsonaro vence a esquerda esse ano? 

“Falo como uma cidadã, quero me despir das minhas posições políticas e ideológicas, e dizer que é muito necessário a gente mudar o governo do país, porque esse presidente só tem promovido retrocesso, em todos os aspectos. Retrocesso na economia, fizeram uma reforma trabalhista prometendo empregos, e o número de empregos só diminuiu, prometeram que o povo ia viver melhor, e só piorou a qualidade de vida, o nível de salário está se perdendo. No campo econômico tem sido um desastre, ele tem destruído a estrutura econômica do país.  

Eles dizem que a culpa é da guerra, do dólar, e não. Já teve um período no governo de Lula, que o dólar era R$140,00 e a gasolina era menos de R$3,00 o litro, ou seja, é uma decisão política, ou você garante um preço justo a população ou garante um alto lucro ao para os acionistas. Eles estão distribuindo a Petrobras, entregando a empresa na mão de estrangeiros e  por isso precisam manter o preço da gasolina e gás lá em cima para dar para os ricos, ou seja, tira do bolso dos pobres e dá para os ricos. 

Do ponto de vista dos costumes, é um desrespeito às mulheres, aos LGBT´s, aos poderes constituídos e a presença dele, além de destruir o nosso país, tem criado um clima ruim entre as pessoas, de intolerância e nós precisamos acabar com isso. Nós vivemos em uma democracia, temos que conviver com o contraditório e civilizadamente. O vai mover os eleitores, é olhar o que tem se tornado o Brasil e dizer que quer um Brasil melhor, que cuide das pessoas, seja uma sociedade humana e poder público esteja a serviço das pessoas”.      

Durante toda a sua trajetória na vida pública, a senhora defendeu os interesses da classe trabalhadora. O que a senhora acha que está faltando hoje no Amazonas, em relação a previdência para trabalhadores? A senhora vai militar contra a reforma trabalhista, caso eleita? 

“Está sendo registrado e foi protocolado no Tribunal Superior Eleitoral, os estatutos da federação e o programa. E lá colocamos textualmente que precisamos rever a reforma trabalhista, porque esta não ajuda nem o trabalhador e nem o empregador. 

Tem pequeno empresário que diz “não posso pagar o direito dos trabalhadores”, mas se você tivesse os seus tributos diminuídos você poderia pagar sim para o trabalhador, o que não dá, é permitir que um trabalhador não tenha sua jornada definida e o mínimo direito social,então não dá pra ser assim, assim como não dá para o empregador pagar uma taxa tributária tão pesada. 

Precisamos parar de tributar o trabalho e tributar a renda, o que é diferente. A elite financeira do Brasil quer colocar o empresário contra o trabalhador e não, nós precisamos estar juntos, quando um ganha, outro ganha também.          

Queríamos citar também um caso onde recentemente, militantes do PCdoB foram abordados de maneira violenta durante uma manifestação. Queria que a senhora falasse sobre esse episódio e deixasse o seu repúdio. 

“Queria dizer que aquilo não foi uma manifestação popular, foi uma manifestação de uma meia dúzia, que tinha um chefe. Desde a hora que chegamos lá, esse indivíduo chegou sozinho e começou com violência, quando ele viu que não ia a lugar nenhum, vimos ele telefonando e juntando meia dúzia de pessoas com duas ou três motocicletas e buzinavam para interromper. 

No fim da manifestação, quando estávamos indo embora, eles nos perseguiram com gritos e filmando “ah eles estão sendo expulsos”, Tinha um chefe perigoso e violento que desrespeitou não só a militância, mas toda a população do bairro. Ele baixou as calças em via pública e o grupo atirou ovos. Me solidarizo com todos que estavam presentes e digo que eles não vão nos calar. ”    

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