Você pode não entender, pode não gostar, pode ignorar, mas não pode negar que os tributos movem o mundo. Desde as civilizações antigas até os dias atuais, os impostos e taxas moldaram sociedades, provocaram revoluções e redefiniram impérios. Os tributos estão no cerne de muitas decisões políticas, conflitos e transformações históricas.
Na Roma Antiga, por exemplo, a cobrança excessiva de tributos foi uma das razões da instabilidade social. Durante o governo de Nero, os altos impostos para financiar obras luxuosas e campanhas militares geraram grande descontentamento entre os cidadãos e as províncias conquistadas. A pressão tributária excessiva não apenas corroeu a confiança nas instituições romanas, mas também contribuiu para o declínio gradual do império.
Séculos depois, no século XVIII, o mundo testemunhou outro episódio emblemático do impacto dos tributos na história: a Crise do Chá, nos Estados Unidos. A imposição de taxas sobre produtos como o chá, sem a devida representação política das colônias americanas no Parlamento britânico, levou ao famoso Boston Tea Party. Este protesto foi um marco que impulsionou a Revolução Americana e, consequentemente, a independência dos Estados Unidos.
Não apenas revoltas e colapsos imperiais têm origem na tributação; ela também foi essencial para a construção de estados fortes. A Revolução Francesa, por exemplo, teve entre suas causas principais a injustiça fiscal. Enquanto o clero e a nobreza eram isentos de impostos, o peso tributário recaía quase exclusivamente sobre o Terceiro Estado, composto por burgueses, trabalhadores e camponeses. A fúria contra essa desigualdade foi combustível para um dos movimentos sociais mais marcantes da história e para o povo francês.
No Brasil colonial, os tributos igualmente deixaram marcas profundas. A cobrança do quinto, imposto que exigia que 20% do ouro extraído fosse destinado à Coroa portuguesa, fomentou movimentos como a Inconfidência Mineira. A sensação de exploração econômica e a busca por autonomia fiscal foram motivadores centrais para essa tentativa de independência.
Avançando para o século XX, observamos que até mesmo a Primeira Guerra Mundial foi influenciada por questões econômicas e fiscais. A necessidade de financiar esforços de guerra levou países a aumentarem a carga tributária e a criarem novos impostos, afetando a dinâmica econômica mundial. O pós-guerra viu, por sua vez, revoltas e revoluções impulsionadas pelo empobrecimento generalizado causado, em parte, pela tributação excessiva para pagar dívidas de guerra.
No campo das transformações positivas, o estado de bem-estar social na Europa após a Segunda Guerra Mundial só foi possível graças à arrecadação tributária. Países como Suécia, Alemanha e Reino Unido utilizaram impostos progressivos para financiar saúde pública, educação gratuita e programas de seguridade social, mostrando que a tributação pode ser instrumento de justiça social.
Atualmente, os debates sobre justiça tributária continuam a influenciar sociedades em todo o mundo. Movimentos como os “coletes amarelos” na França, em 2018, nasceram da insatisfação popular com novos impostos sobre combustíveis, considerados injustos pela classe trabalhadora. A cobrança de tributos, quando mal administrada ou percebida como desigual, ainda tem o poder de desencadear ondas de protesto.
O próprio conceito moderno de cidadania está intrinsecamente ligado à ideia de contribuição fiscal. Pagar impostos é parte do pacto social que legitima direitos como saúde, educação, segurança e infraestrutura. Sem tributos, não há Estado eficiente, não há serviços públicos, não há sociedade organizada.
A tecnologia, hoje, também está transformando a tributação. O crescimento do comércio eletrônico trouxe novos desafios para os fiscos em todo o mundo, que precisam adaptar suas legislações para taxar empresas globais como Amazon, Google e Facebook. A tributação digital se tornou um dos maiores temas de debate econômico internacional.
Tributos também desempenham papel crucial em políticas ambientais. A criação de impostos sobre carbono, por exemplo, visa desincentivar práticas poluentes e financiar ações de combate às mudanças climáticas, como é o caso do Imposto Seletivo instituído pela reforma tributária no Brasil. É a tributação sendo usada, não para oprimir, mas para orientar comportamentos em direção a um futuro mais sustentável.
No entanto, a discussão sobre a função dos tributos deve sempre considerar a transparência e a equidade. Quando mal aplicados ou desviados, os impostos se tornam fonte de injustiça e revolta. A história mostra que a má gestão tributária pode derrubar governos e provocar profundas crises sociais.
Por fim, é impossível separar a evolução da humanidade da história dos tributos. Eles financiaram guerras, revoluções, impérios e sonhos de justiça social. O futuro da humanidade continuará sendo escrito com a tinta invisível da arrecadação fiscal. Aceitar essa realidade é o primeiro passo para exigir um sistema tributário mais justo e eficiente. Afinal, queiramos ou não, os tributos continuam movendo o mundo e, muitas vezes, até mudando o curso da história, como é o caso do tarifaço de Donald Trump, que pode levar a humanidade às profundezas do inferno econômico.

(*) Farid Mendonça Júnior é economista, advogado e administrador
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