Como um torcedor cheio de indignação tropicalista e humor à for da pele, aguardo a confirmação de que a nossa “Pátria de Chuteiras” vai virar mesmo Pátria de Esparadrapo Ideológico.
Pois a famigerada Nike e a endiabrada CBF – esse casamento sólido entre o marketing e o charmoso jeitinho brasileiro – resolveram inovar. E quando o brasileiro resolve “inovar”, já sabe: é porque algo deu ruim.
A nova camisa da Seleção Brasileira para a Copa de 2026 será vermelha. Da cor do pau-brasil, dizem uns. Da cor do PT, berram outros, rasgando a camisa (a amarela, claro).
E há ainda os analistas geopolíticos de WhatsApp que garantem: é tudo parte de um plano maquiavélico para agradar Donald Trump, já que o vermelho também é a cor do Partido Republicano. Um alinhamento cromático internacional. Delícia de diplomacia !
Os bolsonaristas entraram em estado de pré-apoplexia. Um deles, do alto do seu QI de cacto ornamental, exclamou: “Agora é oficial: a camisa virou bandeira de comunista, que merda !”.
Outro parlamentar direitista já está tentando abrir uma CPI na Câmara dos Deputados para investigar “quem pintou a CBF de vermelho”. Flávio Bolsonaro garantiu que “nossa bandeira jamais será vermelha”, mas não disse nada sobre camisetas, cuecas ou a caixa de lápis de cor do filho 04.
E o melhor: o deputado Cleitinho Azevedo, numa performance digna de novela mexicana, gravou vídeo denunciando o golpe têxtil. Nikolas Ferreira, com aquele humor que faz o Tiririca parecer Shakespeare, perguntou se o juiz agora também vestiria vermelho, talvez esperando que, com a camisa certa, ele finalmente entenda o que é uma infração.
Bandeira de sindicato
A justificativa da CBF é poética, lírica e quase convincente: o vermelho é a cor do pau-brasil. Bonito. Mas convenhamos, se precisamos de uma palestra do historiador Leandro Karnal para entender o motivo da cor da camisa, talvez a ideia não tenha sido tão brilhante assim.
Aliás, onde estavam os gênios do design que decidiram ignorar o azul de 1958, imortalizado por Pelé, e ir direto para o vermelho bandeira de sindicato? Tudo isso num país onde o simples ato de usar vermelho na rua pode render olhares atravessados, xingamentos e, dependendo do bairro, até pedido de impeachment.
E tem mais: Papai Noel, chateado com a apropriação simbólica da sua marca registrada, já avisou que estuda trocar o vermelho pelo verde-amarelo bolsonarista no Natal de 2025. “Cansei de ser confundido com petista”, teria dito, segundo fontes da Lapônia. Os duendes, divididos, ameaçam greve.
Enquanto isso, a Seleção, cinco vezes campeã do mundo, vai tropeçando em campo e fora dele. Mas não se preocupem os brasileiros: se o desempenho não for legal na Copa de 2026, pelo menos dessa vez teremos um novo bode expiatório: a camisa. E o vermelho cairá bem. Afinal, vai combinar com a cara dos torcedores depois da eliminação, todos vermelhos de ódio.
No fim das contas, o Brasil é mesmo um país onde até a cor da camisa da Seleção vira assunto de segurança nacional, objeto de manifestação parlamentar e tema de guerra cultural. E ainda dizem que a gente não leva futebol a sério…
E pensar que, em 2014, Dilma Rousseff, num surto de otimismo pré-catástrofe, declarou seu governo “Padrão Felipão”. Resultado? 7 a 1 para a Alemanha. O Mineirão virou um thriller nórdico, e o Brasil descobriu, da pior forma possível, que nem toda herança do Felipão é digna de orgulho.
Pois agora, a CBF parece querer repetir a dose: “Padrão Nike”. E o resultado? Bom, o resultado o tempo dirá. Mas, relaxem. Pelo menos a camisa vermelha servirá para homenagear o simpático time do América do Rio.
É isso aí, CBF e Nike: “Just do it” (“Apenas Faça”), ou melhor… “Just don’t” (“Não faça isso”).

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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