No centro das transformações do século XXI, a convergência entre software, inteligência artificial e poder político desenha novos tabuleiros de disputa global. O manifesto de Alexander Karp, CEO da Palantir, recentemente destacado pelo Brazil Journal, alerta para o papel geopolítico das tecnologias digitais: em sua leitura, o futuro da liberdade e da soberania está diretamente ligado à supremacia algorítmica. Em outras palavras, quem dominar os códigos do presente escreverá as regras do amanhã.
Batalhas ambientais, sociais, tecnológicas
Esse alerta ganha contornos ainda mais desafiadores quando projetado sobre a realidade amazônica. Aqui, a guerra é contra o desmatamento ilegal, a pobreza persistente, a falta de conectividade e a exclusão do mapa das decisões estratégicas do país. A Amazônia não é apenas um bioma: é uma fronteira civilizatória. E é neste território que se desenham as batalhas do nosso tempo — ambientais, sociais, tecnológicas.
Inteligência da floresta em pé
Diante disso, é urgente convocar os jovens amazônidas da tecnologia da informação e da comunicação (TIC) a se colocarem na linha de frente da construção de soluções transformadoras, capazes de unir inteligência digital, justiça social e floresta em pé. Não intocada e sim manejada sob a ótica da sustentabilidade e da inovação.
Codificar soluções com propósito
É tempo de orientar o talento técnico para missões de alto impacto. Criar plataformas que integrem dados ambientais, serviços públicos, rastreamento da biodiversidade e gestão territorial. Desenvolver aplicativos para conectar populações ribeirinhas e indígenas ao mundo digital. Utilizar IA para antever padrões de desmatamento, incêndios e crimes ambientais.
Conectar inovação à bioeconomia
Nesse sentido, iniciativas como a parceria entre a UEA e o SENAI CIMATEC da Bahia, mediada pela Agência de Inovação da universidade, representam marcos fundamentais. A adoção de tecnologias quânticas como vetor de aproximação entre TIC e bioeconomia é pioneira no Brasil, e pode colocar a Amazônia como epicentro de uma nova ciência tropical, capaz de gerar conhecimento e riqueza a partir da biodiversidade. Essa articulação encontrará certamente apoio na Expo Amazônia Bio&TIC, do Polo Digital de Manaus, evento que vem consolidando a integração entre academia, setor produtivo e poder público. Com o respaldo adicional da SEDECTI e o horizonte do Plano Estadual de Bioeconomia, ora em elaboração, cria-se uma ambiência institucional favorável à inovação de base florestal, territorializada e comprometida com o desenvolvimento sustentável.
Exigir do poder público o devido investimento
A indústria instalada na Zona Franca de Manaus recolhe bilhões de reais por ano em tributos vinculados à ciência, tecnologia e inovação (como a Lei de Informática e os fundos setoriais). É dever dos jovens exigir que esses recursos retornem à região na forma de infraestrutura digital, incubadoras, formação técnica e políticas de apoio às startups. Mais do que isso: é preciso que a política industrial assuma a bioeconomia como eixo estratégico de longo prazo.
Cultivar redes de cooperação e protagonismo
Ninguém transforma uma região isoladamente. Por isso, é essencial fomentar ecossistemas de inovação integrados à realidade amazônica, com jovens lideranças, universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo articulando soluções escaláveis. O Polo Industrial de Manaus, com sua base tecnológica e capacidade de investimento, deve ser um aliado fundamental nessa jornada.
Criar com ética e responsabilidade amazônica
Ao desenvolver software e sistemas inteligentes, é preciso também cultivar a inteligência emocional e ética. A Amazônia não é apenas um espaço a ser analisado por satélites e algoritmos: é um território de vida, cultura, ancestralidade e resistência. O verdadeiro poder da tecnologia estará em sua capacidade de respeitar e potencializar essas dimensões.
Alertas e sinais da esperança
Ao conjugar os alertas de Karp com os sinais de esperança que brotam da própria Amazônia, vemos que a guerra do futuro não será apenas bélica, mas cultural e civilizatória. Venceremos não com bombas, mas com conhecimento; não com medo, mas com floresta; não com algoritmos neutros, mas com jovens programando o futuro da sua própria terra.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do SIMMMEM Sindicato da Indústria Metalúrgicas, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e Vice-presidente da FIEAM
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