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Urgência

COP30 de Belém entre a urgência climática e a descrença global

Brasil, que deveria liderar com exemplo, carrega o fardo de sediar a COP30 enquanto o Pará mantém seu triste título de campeão do desmatamento amazônico há 18 anos

Foto: Reprodução

A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, acontecerá em um momento de crise climática sem precedentes: temperaturas globais batendo recordes mês a mês, eventos extremos se intensificando e a Terra registrando 20 meses consecutivos acima do limite crítico de 1,5°C, patamar que, segundo o climatologista Carlos Nobre, poderá inaugurar uma era de aquecimento irreversível.

Mas, a despeito da urgência, a conferência enfrenta um tsunami de desconfiança. As razões? Contradições gritantes entre discursos e ações, falhas históricas de financiamento climático e a persistente expansão de combustíveis fósseis, inclusive no coração da Amazônia.

O Brasil, que deveria liderar com exemplo, carrega o fardo de sediar a COP30 enquanto o Pará mantém seu triste título de campeão do desmatamento amazônico há 18 anos. Apesar da recente queda de 50% na devastação em 2024, os 2.200 km² destruídos no período equivalem a duas cidades do Rio de Janeiro.

Enquanto o Governo Federal promete “desmatamento zero até 2030”, projetos como a Avenida Liberdade, uma rodovia que rasga áreas preservadas para facilitar o acesso à COP30, revelam a incoerência entre retórica e prática.

E não é só a floresta que sofre: a Petrobras avança na exploração de petróleo na margem equatorial, incluindo blocos próximos a terras indígenas. Como cobrar ambição climática global se o país anfitrião insiste em extrair o chamado ouro negro “até a última gota”, como definiu Jean Paul Prates, ex-presidente da estatal?

Fantasma de Baku

A COP29, no Azerbaijão, deixou como legado a falta de acordos concretos sobre financiamento climático para nações vulneráveis e a ausência de compromissos para reduzir a produção global de combustíveis fósseis. Enquanto isso, subsídios a petróleo, gás e carvão bateram US$ 7 trilhões em 2023, segundo o FMI.
A Agência Internacional de Energia (IEA) alerta que 75% das reservas conhecidas precisam ficar no subsolo para evitar o colapso climático, mas China, EUA e UE continuam a expandir projetos fósseis, muitas vezes sob o véu de tecnologias duvidosas, como a captura de carbono (CCS).

Carlos Nobre adverte: “Estamos apavorados com a aceleração das mudanças climáticas”. Se a COP30 repetir o script de promessas vazias, será lembrada como mais uma conferência de cínicas intenções.

Os dados citados por Nobre são preocupantes: março de 2025 foi o 20º mês em 21 com temperaturas acima de 1,5°C. Estudos mostram que, mesmo com cortes radicais de emissões, o planeta deve permanecer acima desse limiar por décadas, com impactos catastróficos na biodiversidade, nível dos oceanos e estoques de carbono.

O IPCC já alertara que, sem ações “imediatas e em grande escala”, o limite de 1,5°C se tornará inalcançável.

Inação climática

A COP30 é, teoricamente, a última oportunidade para evitar o pior. Mas sem compromissos vinculantes, sem pressão sobre os grandes emissores e sem o fim dos subsídios a fósseis, Belém pode se tornar mais um capítulo na saga da inação climática. Como resume Nobre: “O mundo está de olho”. Resta saber se será para testemunhar uma virada histórica ou mais um funeral de promessas vazias.

Para evitar o descrédito, a COP30 precisa exigir metas vinculantes de redução de fósseis, pressionando EUA, China e EU, garantir financiamento real aos países do Sul Global, sem burocracias e frear a expansão petrolífera, além de incluir indígenas como agentes, não como figuras decorativas. Caso contrário, Belém será apenas uma estrada pavimentada com boas intenções.

Juscelino Taketomi¹.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

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