A Amazônia exerce um papel vital na regulação climática planetária, armazenando cerca de 120 bilhões de toneladas de carbono e influenciando os ciclos hidrológicos que irrigam a agricultura. Se a comunidade internacional deseja perpetuar esses benefícios, precisa enxergar a floresta como parceira econômica, não apenas como santuário ou jardim botânico coletivo.
Primeiro, é indispensável remunerar os serviços ecossistêmicos que a região oferece. Pagamentos por serviços ambientais, créditos de carbono e mecanismos como o REDD+ devem deixar de ser apenas discurso e transformar-se em fluxos financeiros robustos, proporcionais ao valor que a Amazônia agrega ao equilíbrio climático global.
Entretanto, dinheiro que chega sem propósito torna-se paliativo. Por isso, a agenda de cooperação deve priorizar ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Fortalecer instituições de pesquisa amazônicas, criar centros de bioeconomia avançada e financiar startups de biotecnologia é a forma mais eficiente de converter biodiversidade em conhecimento, patente e emprego qualificado.
A Zona Franca de Manaus (ZFM) já prova que desenvolvimento industrial e conservação podem coexistir: o modelo sustenta mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos com índice de conservação florestal próximo a 97%. Expandir a ZFM para cadeias 4.0 como semicondutores verdes, eletromobilidade e química fina relacionada à floresta exige aportes em P&DI e infraestrutura e logística consistente e sustentável.
Ao mesmo tempo, cadeias produtivas tradicionais como açaí, cacau, castanha, pirarucu manejado, óleos essenciais carecem de investimentos em agregação de valor local. Quando compradores internacionais pagam preços irrisórios por commodities amazônicas, transferem renda e conhecimento para fora e perpetuam a dependência de matéria-prima bruta.
Infraestrutura também conta. Portos fluviais eficientes, corredores bioceânicos e backbone digital de alta velocidade reduzem custos transacionais, atraem capital privado e estimulam clusters industriais sem devastar a floresta. Investidores estrangeiros dispostos a financiar projetos sustentáveis devem priorizar modais de baixa emissão e energia renovável.
Outro eixo crucial é a compra pública e privada. Governos e empresas que pregam neutralidade climática podem incluir cotas mínimas de insumos amazônicos certificados em suas cadeias de suprimento, garantindo demanda estável e prêmio verde para produtores regionais que obedecem a critérios socioambientais.
Cooperação envolve partilha de risco. Fundos multilaterais podem criar garantias de primeiro risco (first-loss) que atraiam capital de mercado a projetos amazônicos. Investidores capturam retorno ajustado ao risco, e a floresta captura oportunidade de prosperar sem abrir mão da cobertura vegetal.
É igualmente necessário eliminar barreiras tarifárias e não tarifárias impostas a produtos amazônicos sustentáveis. Quando castanha in natura enfrenta menos impostos do que chocolate amazônico premium, a regra comercial contraria a lógica da agregação de valor local e perpetua a armadilha primário-exportadora.
Para assegurar governança, a Amazônia precisa de métricas robustas e auditáveis. Plataformas digitais de rastreabilidade em cadeia de blocos (blockchain) podem registrar origem, trajetória e pegada de carbono de cada produto, conferindo transparência aos compradores globais e recompensando produtores que cumprem boas práticas.
Os países amazônicos tampouco aceitam rótulo de pedintes. O que se pleiteia não é esmola, mas parceria estratégica baseada em princípios de justiça climática: quem emitiu mais gases historicamente deve investir mais na preservação de sumidouros de carbono; quem consome a maior fatia dos serviços ambientais deve pagar por eles.
Investir na Amazônia é investir na segurança alimentar mundial. O regime de chuvas que sustenta o agronegócio do Cone Sul, a produção hidrelétrica e a estabilidade climática da África Ocidental depende da integridade dos rios voadores amazônicos, um ativo difuso, mas mensurável em números de safra, megawatts e prêmios de seguro.
Finalmente, a cooperação precisa ser co-criada com as populações locais. Povos indígenas, ribeirinhos e comunidades quilombolas são guardiões do conhecimento tradicional e representam a linha de frente da conservação. Respeitar seus direitos territoriais e incluí-los em cadeias de valor é condição ética e pragmática para o sucesso de qualquer pacto global.
A mensagem é clara: proteger a Amazônia custa dinheiro; não fazê-lo custará infinitamente mais em eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade irrecuperável e colapso de cadeias produtivas mundiais. O mundo respira porque a Amazônia existe, não porque produz oxigênio, mas porque retira gás carbônico da atmosfera e os concentra em forma de floresta, e a conta dessa respiração não pode ser paga apenas pelos amazônidas.
Se a humanidade quer continuar desfrutando desse “pulmão” verde, que transforme discursos em contratos, compromissos em investimentos, e preocupação em consumo responsável. A floresta está pronta para prosperar; resta saber se o mundo está pronto para investir no futuro que ela representa.

(*) Farid Mendonça Júnior é economista, advogado, administrador e Assessor Parlamentar no Senado Federal
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