A recente decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros é mais um episódio da sua conhecida política de intimidação comercial. O novo decreto, anunciado em 30 de julho de 2025, atinge 57% das exportações brasileiras, mas traz quase 700 exceções, que isentam cerca de 43% dos produtos vendidos pelo Brasil aos EUA. Esse movimento deixa claro que o chamado “tarifaço” tem muito de retórica e pouco de efetiva disposição de sacrificar o mercado americano.
A medida mira especialmente setores do agronegócio brasileiro, como carnes, café e pescados, enquanto poupa os itens mais estratégicos para os EUA: petróleo, ferro-gusa, suco de laranja e aeronaves da Embraer. Não é coincidência que justamente os produtos com maior peso no consumo e na indústria norte-americana tenham ficado fora do alcance do tarifaço.
O Brasil exportou para os EUA, em 2024, US$ 18,4 bilhões em produtos que agora ficaram isentos, enquanto US$ 24,3 bilhões serão atingidos. Porém, a seleção criteriosa das exceções revela que Trump buscou infligir pressão política sem gerar custos insuportáveis à sua própria economia. É o famoso “blefe” que caracteriza sua política externa e comercial.
O padrão é conhecido: Trump anuncia tarifas pesadas para intimidar e forçar concessões do país-alvo, mas frequentemente recua ou flexibiliza as medidas diante do risco de impacto interno. Esse comportamento já foi observado em conflitos comerciais com a China, México e Canadá nos últimos meses.
No caso brasileiro, a exclusão de produtos como petróleo bruto, que sozinho movimentou US$ 4,3 bilhões em exportações para os EUA em 2024, evidencia o cálculo pragmático do governo Trump. A manutenção da tarifa sobre este item, vital para refinarias americanas, geraria alta nos preços dos combustíveis, alimentando a inflação doméstica, um risco político que Trump não está disposto a correr.
O mesmo raciocínio vale para o suco de laranja, aeronaves da Embraer e ferro-gusa, produtos essenciais à cadeia produtiva americana. Ao excluí-los, o presidente evita que setores industriais estratégicos e consumidores norte-americanos sejam os principais prejudicados pela própria retórica punitiva.
A consequência prática desse “TariBlefe” é a criação de um impacto localizado e simbólico. Para o Brasil, setores como o de carnes bovinas podem sofrer retração de até 47% nas exportações aos EUA, enquanto o café pode ter queda estimada em 25%. São segmentos expressivos, mas não os motores do comércio bilateral, que permanece concentrado em commodities estratégicas.
Para os EUA, por outro lado, o efeito econômico da medida é muito mais limitado do que a retórica sugere. Ao poupar os produtos que poderiam gerar pressão inflacionária doméstica, Trump evita que o consumidor americano sinta de imediato o peso de seu discurso “duro” contra o Brasil.
Essa é justamente a essência do “TariBlefe”: anunciar medidas que soam devastadoras, mas que, na prática, atingem apenas parcialmente o país-alvo, preservando os interesses econômicos internos. A intenção é forçar uma negociação em condições de pressão psicológica e midiática.
O histórico mostra que Trump costuma recuar quando o país atingido não cede ou quando o impacto interno ameaça a popularidade política. Se o Brasil resistir e buscar apoio em fóruns internacionais ou diversificação de mercados, a tendência é que o tarifaço seja flexibilizado com o tempo.
Além disso, a imposição de tarifas punitivas em escala ampla contra o Brasil representaria um tiro no pé da economia norte-americana. A inflação, já sensível a fatores globais, poderia acelerar caso produtos estratégicos brasileiros fossem encarecidos ou ficassem escassos no mercado dos EUA.
Para o Brasil, o episódio reforça a importância de estratégias de diversificação comercial e de redução da dependência do mercado norte-americano. O fortalecimento de laços com China, União Europeia e o bloco BRICS pode se tornar uma resposta estrutural a esse tipo de pressão política disfarçada de medida econômica. Além da necessidade de os países se unirem para colocar o “Petit Roi” no seu lugar.
Em conclusão, o decreto de Trump é mais um capítulo de seu manual de negociações: muito barulho para impressionar o eleitorado e intimidar parceiros comerciais, mas com pouca disposição de sustentar medidas que prejudiquem de fato a economia dos Estados Unidos. Para o Brasil, o desafio é enfrentar a pressão sem ceder ao blefe, mantendo a defesa de seus interesses estratégicos e fortalecendo sua posição no comércio global.

(*) Farid Mendonça Júnior é economista, advogado, administrador e Assessor Parlamentar no Senado Federal
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