“Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas húmidas; quando os seres humanos contaminam as águas, o solo, o ar… tudo isso é pecado. Um crime contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus” (Patriarca Bartolomeu, Discurso em Santa Bárbara, Califórnia).

O Discurso citando por Papa Francisco em Laudato Sì, indica o caminho que teremos que percorrer na COP de Belém, mas também nas COPs que virão. Tem-se a impressão, que os governos não percebem o momento grave por que passa a terra. Aquela percepção que de tudo caminha bem, tudo está normal. No entanto, o que impede para o despertar de um horizonte mais honesto e transparente que possa salvar o planeta terra, passa pela superação de ver a natureza como ganho, comércio, dinheiro.

Romano Guardini, grande intelectual e homem de fé, escreveu: “Nestes dias, compreendi melhor do que nunca que há duas formas de conhecimento (…), uma leva a mergulhar no objeto e seu contexto, de modo que o homem que deseja conhecer procura viver nele; a outra, pelo contrário, reúne as coisas, decompõe-nas, ordena-as em alíneas, adquire perícia e posse delas, domina-as” (Cartas do Lago de Como. A tecnologia e o homem). Um é o modo humilde e relacional que não ultrapassa os limites estabelecidos; é como um reinado que se obtém por meio do serviço, da admiração. O outro é um modo que não observa, admira, mas analisa, agarra, domina e, mesmo destrói.

Nessa segunda maneira as energias e as substâncias são feitas convergir para um único fim: a máquina, o lucro; se desenvolve uma tecnologia da submissão dos seres vivos e inanimados e quase sempre em vista do lucro. Se estabelece arbitrariamente os fins e constringe as forças da natureza dominadas, a realizá-los: o econômico-financeiro.

Esse modo vai se impondo sempre mais, de tal modo, que cuidar do meio ambiente, tornou-se uma luta desigual. Não importam mais as relações com o meio ambiente como cuidado e cultivo, mas também não importam a relações com os pobres que mais sofrem com as mudanças climáticas.

A ganância tornou-se a tônica para avançar sobre o meio ambiente, sobre as terras indígenas. Pouco ou nada importam, as consequências em relação às águas, ao ar, às florestas, às pessoas. Dá lucro? Pode. Economicamente gera ganhos, pode! Desaparece a relação harmônica, equilibrado que pode despertar admiração, e se instala a dominação a destruição: agarra, domina.

A Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática de 2025, a COP30, acontece entre os dias 10 e 21 de novembro em Belém, capital do Pará, e muitas pessoas participarão no desejo de harmonizar e purificar as relações com o meio ambiente: passar do lucro à admiração. Será difícil o diálogo, pois se parte de horizontes que dificilmente se tocam. Podem se tocar quando o horizonte será o humano, a Casa Comum. Por isso, esperança!

 
Cardeal Leonardo Steiner – Arcebispo de Manaus. Foto: Divulgação