A criação da Universidade Federal do Alto Solimões representa uma das mais estratégicas propostas para o desenvolvimento sustentável e a ocupação soberana da Amazônia brasileira. Situada na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, as cidades de Tabatinga e de Benjamin Constant despontam como o local ideal para sediar uma instituição de ensino superior voltada à formação de conhecimento científico, tecnológico e cultural, capaz de transformar uma das regiões mais sensíveis do país em um polo de integração e prosperidade.

A presença de uma universidade federal no Alto Solimões não seria apenas um investimento educacional, mas uma política de Estado voltada à segurança nacional, ao desenvolvimento regional e à integração latino-americana. Em uma fronteira permeável, marcada por desafios logísticos, desigualdades e pela influência crescente do narcotráfico, o conhecimento se tornaria a principal arma de transformação e soberania. Levar educação de qualidade é, antes de tudo, ocupar o território com inteligência e cidadania.

Tabatinga e Benjamin Constant, pela localização estratégica, já são pontos de encontro entre povos e culturas. No entanto, ainda carecem de uma estrutura acadêmica robusta que fomente a pesquisa, a inovação e a geração de oportunidades locais. A instalação da Universidade Federal do Alto Solimões permitiria que jovens da própria região e de áreas vizinhas da Colômbia e do Peru tivessem acesso à educação superior sem precisar migrar para os grandes centros. Essa fixação do capital humano é essencial para interromper o ciclo de evasão e para gerar alternativas concretas ao tráfico de drogas e à economia ilícita.

O projeto da universidade dialoga diretamente com a política de integração amazônica e com os princípios da diplomacia educacional. Ao unir estudantes e pesquisadores dos três países, criaria-se um espaço de cooperação científica e cultural que fortaleceria a imagem do Brasil como líder do desenvolvimento sustentável na Amazônia. Cursos voltados à biodiversidade, gestão ambiental, relações internacionais, saúde indígena e biotecnologia teriam papel central nesse projeto integrador.

Além da dimensão educacional, a Universidade Federal do Alto Solimões traria um impacto econômico expressivo. A instalação de um campus universitário movimenta a economia local, gera empregos diretos e indiretos e atrai novos investimentos públicos e privados. Com o tempo, surgiriam novas empresas, startups, laboratórios, centros de pesquisa e serviços complementares, diversificando a matriz econômica e reduzindo sua dependência do comércio informal e das atividades ilícitas.

A proposta também tem um importante componente de inclusão social. Jovens indígenas, ribeirinhos e moradores de comunidades isoladas teriam acesso à formação técnica e científica, respeitando suas identidades e tradições. Essa inclusão é vital para a construção de um novo modelo de desenvolvimento amazônico, baseado no conhecimento e na valorização da diversidade cultural, e não na exploração predatória dos recursos naturais.

Vale destacar que a ideia de criar uma universidade federal na região não é nova. Ela já circula há algum tempo nos corredores do Ministério da Educação, sendo debatida por especialistas e gestores públicos atentos ao potencial transformador da tríplice fronteira. No Congresso Nacional, o deputado federal Átila Lins, do Amazonas, tem sido um dos principais defensores dessa bandeira, levando a proposta ao debate político e ressaltando sua importância estratégica para o futuro da região e do país.

A proposta reflete uma visão de Estado que compreende a educação como ferramenta de integração territorial e fortalecimento da soberania nacional. Ao apoiar a criação da Universidade Federal do Alto Solimões, o Estado brasileiro renovaria um compromisso com o interior profundo da Amazônia, dando voz a comunidades historicamente esquecidas e projetando o Alto Solimões como centro de conhecimento e desenvolvimento.

A experiência brasileira mostra que a presença de universidades federais transforma profundamente as regiões onde são instaladas. Foi assim com a Universidade Federal do Acre, a Universidade Federal do Amapá e a Universidade Federal do Oeste do Pará. Todas contribuíram para dinamizar economias locais, estimular o empreendedorismo e formar gerações de profissionais comprometidos com suas realidades regionais.

Com o avanço tecnológico e as novas demandas ambientais e sociais, a Universidade Federal do Alto Solimões também poderia ser um laboratório vivo de inovação amazônica. Parcerias com instituições estrangeiras, organismos internacionais e empresas voltadas à bioeconomia e à conservação ambiental poderiam consolidar o Alto Solimões como referência em conhecimento aplicado à floresta e às comunidades.

A criação dessa universidade simbolizaria, portanto, um marco de virada para o interior do Amazonas. Representaria o início de uma nova fase, na qual o Estado brasileiro assumiria de forma definitiva o compromisso de transformar sua fronteira mais distante em um centro de saber e progresso. É uma proposta que une educação, desenvolvimento e soberania em torno de um mesmo ideal: ocupar o território com conhecimento.

Mais do que um sonho regional, trata-se de uma necessidade nacional. Em tempos de desafios climáticos, geopolíticos e sociais, investir na educação da Amazônia é investir na sobrevivência do Brasil e na construção de um futuro mais justo, integrado e sustentável. A Universidade Federal do Alto Solimões seria um primeiro passo concreto nessa direção, um farol de esperança e inteligência às margens do Rio Solimões.

Farid Mendonça Júnior – Economista, advogado, administrador e Assessor Parlamentar no Senado Federal

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