Nos últimos dias, Manaus parou diante de uma tragédia que jamais deveria ter acontecido. O pequeno Benício, de apenas 6 anos, morreu após receber uma medicação errada — adrenalina injetável — prescrita de forma equivocada por uma médica. Um erro tão absurdo quanto evitável.
E, embora seja mais confortável acreditar que foi “um caso isolado”, a verdade é dura: esse tipo de falha é mais comum do que se imagina quando não existe uma barreira essencial entre o paciente e o risco — o farmacêutico.
Sim, o profissional que muita gente acha que está ali “apenas para entregar o remédio” é justamente a última linha de defesa entre você e um erro que pode custar vidas. E não é “achismo”, não é “querer aparecer”: é lei.
A legislação que protege você – mesmo que você desconheça.
A Lei 5.991/73, que regula o controle sanitário do comércio de medicamentos, e a Lei 13.021/2014, que redefine a farmácia como estabelecimento de saúde, deixam claríssimo:
➡️ toda prescrição deve ser avaliada por um farmacêutico, tanto na drogaria quanto no hospital.
➡️ O farmacêutico é responsável técnico, e sua função não é decorativa — é clínica.
É ele quem detecta doses incoerentes, vias de administração incompatíveis, interações perigosas, duplicidades terapêuticas e, claro, ordens médicas completamente descabidas — como prescrever adrenalina injetável para uma criança em situação que não exige isso. Um profissional treinado para interpretar medicamentos antes que eles cheguem ao paciente.
Mas aí veio 2017.
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiu que hospitais com menos de 50 leitos não precisam ter farmacêutico. Afinal, para que segurança, não é mesmo? Para que análise técnica? Para que a vida de um paciente valha alguns milhares de reais a mais na folha de pagamento?
O resultado é o que estamos vendo: hospitais sem farmacêuticos, prescrições sem dupla checagem, pacientes vulneráveis e tragédias anunciadas.
Não é exagero — é matemática: menos profissionais qualificados = mais chance de erro. E no mundo dos medicamentos, erro não significa um produto errado no caixa. Significa perder alguém que você ama.
Economizar dinheiro e não pensando em vidas?
Quando tiram o farmacêutico para “reduzir custos”, vendem a ideia de eficiência. Mas a eficiência de quem? Porque certamente não é a do paciente que recebe medicação errada. Não é a dos pais que enterram um filho. E definitivamente não é a de um sistema de saúde que insiste em cortar justamente quem evita desfechos fatais.
É desconfortável admitir, mas é verdade: quando o farmacêutico é retirado do processo, a segurança também vai embora.
Quer um exemplo simples?
Adrenalina é uma das medicações com maior risco de erro. Dose errada? Mata. Via errada? Mata. Indicação errada? Mata.
O farmacêutico é justamente o profissional que teria olhado para aquela prescrição e dito: “Isso aqui não está certo.” Mas ele não estava lá.
Como evitar que o caso Benício aconteça com seu filho?
A resposta não é complicada — mas exige que a população acorde para algo básico: o farmacêutico não é um bônus, é uma necessidade vital.
✔ Sempre pergunte: há farmacêutico aqui?
– Na farmácia que você frequenta.
– No hospital que você escolhe.
– Na emergência onde você é atendido.
✔ Antes de aceitar qualquer medicamento, pergunte ao farmacêutico se está correto.
Prescrições são passíveis de erro. Farmacêuticos existem para impedir que esses erros virem tragédia.
✔ Entenda: não é favor, é seu direito.
A lei garante a avaliação técnica. Se não está sendo cumprido, você está sendo colocado em risco.
✔ Questione hospitais que não têm farmacêuticos.
Se falta um profissional essencial, falta compromisso com a vida.
No fim, a pergunta que ninguém quer fazer: quanto vale uma vida? Porque para alguns gestores, aparentemente, vale menos que o salário de um farmacêutico.
Para você, pai, mãe, cuidador — vale tudo.
E justamente por isso, nunca aceite menos do que a presença de um profissional que foi colocado ali para proteger você e seus filhos de erros fatais.
É seu direito. Exija seu farmacêutico.
A saúde agradece. E a vida, principalmente, depende disso.

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